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Fake news: problema sério!
Dom Pedro Cipollini
08/06/2020 | 00:30
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A língua inglesa impôs a expressão já reconhecida fake news. Seu sentido é conhecido: notícias falsas, enganosas e fraudulentas. É uma ‘anticomunicação’, porque espalha mentiras, favorecendo desunião. As fake news são produzidas por máquinas de mentiras disparadas na internet.

A notícia falsa que passa por verdadeira tem uma origem, um inventor, que é o mentiroso desde o princípio e pai da mentira (cf. Jo 8,44), o tentador que enganou Eva conforme o relato bíblico (cf. Gn 3,5). De fato, um sábio escreveu: “Para seduzir uma Eva, houve no princípio do mundo uma serpente. Hoje, para cada Eva, há um mundo de serpentes”. Estamos agora às voltas com as notícias falsas na rede. A sedução das notícias falsas e narrativas inventadas se torna um problema sério.

O que fazer? Primeiro precisamos entender este fenômeno. Sabemos que “não é a tecnologia que determina se a comunicação é autêntica ou não, mas o coração do homem e sua capacidade de fazer bom uso dos meios a seu dispor. As redes sociais são capazes de favorecer as relações e promover o bem da sociedade, mas podem levar a uma polarização e divisão entre as pessoas e grupos” (papa Francisco).

A árvore do ‘bem e do mal’, a capacidade de dizer o que é bom e o que é mal, é capacidade que somente Deus tem, pois, afinal, ele é o criador do homem, sabe como ‘funciona’. Esta árvore do Paraíso é metafísica, ou seja, simboliza o conhecimento do bem e do mal. Esta árvore pertence somente a Deus.

A Bíblia mostra como o ser humano, tentado pela serpente, usurpa o direito de Deus, ou seja, o direito que cabe somente a Ele de traçar um código moral e ético, como os dez mandamentos, para reger o relacionamento humano, a fim de que tudo dê certo. Usando mal a liberdade o homem quer decidir tudo por si mesmo, sem levar Deus em conta.

Decide o que melhor lhe convém. Assim se torna Deus para si mesmo: senhor do bem e do mal. Aí está o pecado original: substituir a Deus, apropriando-se da sua sabedoria e autoridade divina na moral, passando a dizer em nome dele o que é bom e o que é ruim.

Na história narrada pelo Gênesis temos o arquétipo de uma comunicação enferma e mortal, que se veste com a roupa da verdade e da vida. Haja vista a consequência que trouxe à humanidade, este pecado original, que é o homem enganado pela serpente, colocando-se no lugar de Deus. Desta matriz, deriva a genealogia da falsidade na história humana. Nestes últimos tempos, se afirma que o homem não só pensa a verdade, mas faz a verdade a seu bel-prazer.

O mundo das fake news é o mundo da ‘pós-verdade’, não existem fatos, mas somente interpretações. Isso oferece como recompensa a mais bela ilusão: a de ter sempre razão, independentemente de qualquer desmentido.

Necessita-se urgente de uma comunicação verdadeira levada avante por comunicadores verdadeiros. A comunicação verdadeira tem o poder de criar pontes, favorecer encontro e inclusão. Traz grande bem à sociedade especialmente hoje, quando o mundo digital facilita a ampliação do poder da palavra. Palavras e ações deveriam ser tais, que nos ajudassem a sair dos círculos viciosos de condenações e vinganças, que mantêm prisioneiros os indivíduos e as nações, expressando-se através de mensagens de ódio.

Uma comunicação impregnada de fake news é envenenada e, como todo veneno, acaba intoxicando. A própria Bíblia relata a consequência da atitude humana de se colocar no lugar de Deus: a confusão narrada pelo episódio da construção da torre de babel, cujo resultado é dispersão e frustração (cf. Gn 11,9).

Nada mais necessário hoje, para combater as fake news, do que a imprensa livre,com profissionais honestos, buscadores da verdade e narradores da realidade como ela é.

Até logo. 




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