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Mauá foi a cidade que mais desmatou em 2018

Com 14 hectares de vegetação a menos em relação ao ano anterior, município liderou ranking da Região Metropolitana

Flavia Kurotori
Do Diário do Grande ABC
13/01/2020 | 07:00
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Andre Henriques/DGABC


De toda Região Metropolitana de São Paulo, Mauá foi a cidade que mais desmatou entre 2017 e 2018, com 14 hectares de vegetação nativa da Mata Atlântica a menos. As demais cidades do Grande ABC não constam no levantamento da Fundação SOS Mata Atlântica, que considerou áreas com desmatamento de pelo menos três hectares.

Destaca-se o fato de o município liderar o ranking, já que apenas 8,5%, dos 61 quilômetros quadrados de área total, é de área verde. O percentual é baixo comparado às cidades que a sucedem na lista, como Mogi das Cruzes, onde 21,3% dos 712 quilômetros quadrados são de natureza e 11 hectares de vegetação foram suprimidos. Em Guarulhos, onde a relação é de 27,2% para 318 quilômetros quadrados, oito hectares foram retirados.

Ainda que o estudo não especifique quais locais foram afetados, um dos casos é o de terreno, de aproximadamente 12 hectares, desmatado em julho de 2018 na Estrada Guaraciaba, próximo ao acesso ao Trecho Sul do Rodoanel. A ação teria sido autorizada pela Prefeitura. A Lei da Mata Atlântica determina que pode haver desmatamento, desde que tenha compensação ambiental, em caso de obras de interesse público ou social.

“É uma situação preocupante, porque não teve consulta pública e não ficou claro se foi por interesse público ou particular”, critica Virgílio Alcides de Farias, advogado especialista em direito ambiental e integrante do MDV (Movimento em Defesa da Vida) do Grande ABC. À época, a informação era a de que seriam construídos galpões de logística. No entanto, a equipe do Diário esteve no local no sábado e não viu indícios de obras na área, que foi tomada pelo mato.

Inclusive, a falta de construção pode atrasar a compensação ambiental e, consequentemente. a redução dos prejuízos causados pela supressão de Mata Atlântica. “Em geral, após o fim das obras, as empresas têm até dois anos para fazer o plantio e mais dois anos para acompanhar a situação da vegetação”, explica Bruno Garre, consultor ambiental e professor do curso de engenharia ambiental da Universidade Metodista.

A Prefeitura de Mauá e a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) não responderam até o fechamento desta edição.

PREJUÍZOS – A biodiversidade e a água estão entre os principais aspectos que podem ser impactados pelo desmatamento. “Em áreas de mananciais, se a floresta não for protegida, interfere em todo fluxo hídrico e pode até deixar de ter água para o consumo”, aponta Márcia Hirota, diretora-executiva da Fundação SOS Mata Atlântica. 

No cotidiano, os prejuízos diretos são a qualidade do ar e a sensação térmica, uma vez que a supressão de florestas pode tornar as áreas do entorno mais abafadas, formando ilhas de calor. Isso ocorre principalmente quando a vegetação é substituída por solo impermeável, como asfalto.

NO GRANDE ABC – Mesmo que as outras cidades da região não constem no relatório, Farias observa que, diariamente, ocorrem pequenos desmatamentos em todos os municípios. “A princípio, eles são ínfimos, mas são muito preocupantes, porque falta fiscalização preventiva”, destaca. “São pequenas áreas, principalmente para ocupação e construção de moradias irregulares, que logo se tornam vilas sem a menor infraestrutura ambiental, como esgoto tratado”. completa.

Márcia lembra que esta é uma discussão fundamental, sobretudo em ano eleitoral, e salienta a importância da proteção e recuperação ambientais, com ênfase nas áreas de mananciais – no Grande ABC, apenas São Caetano não possui. Para ela, primeira ação é a universalização do saneamento básico.




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