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Luiz Marinho:‘São Bernardo está me chamando novamente’
Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
13/01/2020 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


Luiz Marinho (PT) foi prefeito de São Bernardo entre 2009 e 2016. Saiu da Prefeitura como figura do petismo para além da cidade. Tanto que foi candidato da sigla ao governo paulista. Passados quatro anos desde que deixou a administração, volta as atenções para a disputa eleitoral no município, como pré-candidato ao Executivo. Segundo Marinho, por pedido da própria cidade. Em visita à sede do Diário, o petista afirma que o governo de Orlando Morando (PSDB), seu sucessor, é o mesmo de William Dib (sem partido), seu antecessor. Marinho cita obras por ele deixadas ao tucano, avalia que o antipetismo murchou e que não está definido o papel de Luiz Inácio Lula da Silva no pleito.

Por que se candidatar a prefeito novamente?
É uma pergunta que às vezes também me faço. Sempre disse que a responsabilidade de um militante, de dirigente político, começa na sua respectiva cidade, enquanto cidadão. Isso me levou a ser candidato em 2008. Para mim era mais confortável ficar no governo. Era ministro da Previdência, com resultados de curto prazo impactantes para a vida do povo brasileiro. O (ex-)presidente Lula pediu para eu continuar no governo. Não sei se tinha dúvida do sucesso eleitoral de 2008, levando em consideração que o grupo que dirigia a cidade lá estava havia muito tempo, estava consolidado. O que me levou a ser candidato? O chamado da cidade. Não só do PT. Havia descontentamento do jeito que se conduzia a cidade. Havia e há agora, porque o grupo de lá é o mesmo de agora. O jeito (William) Dib de governar voltou com tudo com o Orlando (Morando), agora aperfeiçoado. Eu atendi a chamado da cidade à época, felizmente consegui vencer as eleições. Fiz oito anos de governo altamente exitoso. Meu planejamento era para além do mandato. O que acontece na cidade, com exceção do COI (Centro de Operações Integradas), do Bom Prato e das praças (parques), está no nosso planejamento do governo. Desbravamos os financiamentos da CAF (Corporação Andina de Fomento), organizamos as contas. Se não fosse isso eu não sei o que o Orlando estaria fazendo. Deixamos o prato feito, foi só comer. A cidade está sem manutenção. Não mede capacidade de gestor pela quantidade de intervenção, de obras. Se mede pela manutenção e pelo planejamento de como você quer a cidade. Eu sempre disse que iríamos planejar a cidade para 20 a 30 anos. A cidade está me chamando de novo.

Como o senhor tem avaliado o governo atual?
Não cabe a mim avaliar. Tem de perguntar ao povo o que acha da gestão do Orlando. Eu ouço o povo reclamar da ausência de diálogo, de escuta. Não conversa, não tem diálogo, é imperadorzinho. Eu estava cuidando do Estado, não estou atuando na cidade. Neste ano vou ser obrigado a estar mais presente na cidade. Mesmo assim, vocês nunca me viram fazer crítica ao governo dele. Ganhou a eleição tem de governar. Não cabe a mim discutir o governo. Busquei fazer transição tranquila, disse o que achava que o governo tinha que fazer para dar certo. Ele disse que não tinha retrovisor, que havia acabado a disputa, que era governar. Mas não foi isso que aconteceu.

O prefeito diz que herdou um governo quebrado...
É mentira. Ele é um grande mentiroso. Na transição tratei deste assunto com ele. A cidade tinha 17% de capacidade de investimento. O prefeito da Capital terá inveja disso, avisei para ele. Não fosse a condição que deixei, não teriam aprovações do Tribunal de Contas do Estado. Tive os oito anos de meu mandato aprovados. Com o rigor tucano que existe lá nas entranhas do Tribunal de Contas. E ele (Morando) tentou me tirar do jogo eleitoral deste ano. Pelo amor de Deus. Vocês analisaram, acompanharam. Havia orientação semanal no gabinete do prefeito de como teria de ser a sessão. Tentando comprar vereadores, literalmente. Até vereador do PT foi abordado. Tudo para tentar rejeitar minhas contas politicamente, não de forma técnica. Porque tecnicamente minhas contas estavam aprovadas e tinham sido aprovadas pela Câmara, na comissão mista. Ele chama (a discussão sobre a rejeição), no calor da disputa eleitoral do Estado, e dizem que por orientação do (João) Doria. Foi a partir daí que tudo aconteceu.

O senhor vê espaço para uma terceira via?
Tem de perguntar para a terceira via. Conversei com o Alex (Manente, Cidadania, deputado federal) no ano passado. Conversei com ele no fim de outubro, começo de novembro. Para a política isso é muito tempo. O Alex estava indefinido, não sei se está definido hoje. Para mim é indiferente polarizar com o Orlando ou não. Time que quer ser campeão não escolhe adversário, tem de trabalhar para chegar bem à final. A final pode ser direta ou ter de ir para a prorrogação. Tem de estar preparado para os dois cenários.

Na campanha ao Estado, o senhor ficou apenas na quarta colocação, mas ganhou em São Bernardo. O senhor vê o copo meio cheio ou meio vazio no desempenho de 2018?
Eu me considero politicamente confortável na disputa. O resultado eleitoral do Estado estava previsto. Não fomos surpreendidos. Fui candidato sabendo das dificuldades que o PT tinha no Estado, como consequência do resultado de 2014 e de 2016. Chegamos a ter 68 prefeituras (paulistas) e fomos para oito. Sabia que não tinha condição, não tinha um time para disputar. O nosso time estava muito restrito, desfalcado de possibilidade de debater. Lideranças importantes não toparam sequer ser candidatos a deputado, preferiram colaborar de fora. Poderíamos ter um Zé Eduardo (Cardozo, ex-ministro da Justiça), um Aloizio Mercadante (ex-ministro da Educação). Eu também tive essa perspectiva de ser candidato a deputado federal. Para minha comodidade seria o ideal. E para o partido? O partido pediu para eu ser candidato a governador sabendo das dificuldades e da falta de apoio financeiro. Tivemos orçamento que teve Goiás, praticamente. Não reclamo disso, sabia a situação. Só não aceito que cobrança seja desproporcional às condições que eu tinha à disposição. Eu me sinto confortável porque minha campanha de governador praticamente não existiu na região. Houve um sacrifício danado percorrendo o Estado. No segundo turno, eu me dediquei em São Bernardo. Eu falei: ‘No segundo turno o Doria não ganha aqui’. Tudo bem que não recebi nenhuma ligação do Márcio França (PSB) agradecendo.

O sentimento do antipetismo arrefeceu?
O (presidente Jair) Bolsonaro dá uma mãozinha. A própria sociedade avalia. A mídia arrefeceu o malhar diário ao PT. A crítica ainda se mantém, mas não há perseguição diária que a mídia fazia, era algo desproporcional. Isso leva a criar ódio, fake news, campanha sistêmica. Isso deu uma amainada. Acabou o antipetismo? Não. E nem vai acabar. Porque isso existe desde o nascimento do partido. Esse antipetismo existiu o tempo todo. Mas voltou ao patamar inferior ao que estava colocado.

O senhor conversou com o Lula sobre disputar São Bernardo? Qual papel ele terá?
Não conversei com o Lula sobre isso. E eu não sei dizer ainda como fazer. Vamos estudar.

E vai conversar quando?
Primeiramente vamos olhar as (pesquisas) qualis (qualitativas). O que a quali vai dizer? O que o povo está pensando? Que o Lula é cabo eleitoral desejado por todos os petistas do Brasil inteiro, é. Não é diferente de São Bernardo. É preciso cautela para analisar a situação, se é desejável uma presença maior ou menor. Agora, isso o tempo resolve e as demandas resolvem. Não adianta eu querer o Lula 100% aqui, seria irresponsabilidade minha querer. O planejamento da agenda dele será fevereiro, ele e (Fernando) Haddad percorrendo o Brasil. Em percorrendo o Brasil, o Grande ABC estará inserido, queremos uma agenda deles aqui. Respeitando, porém, essa condição nacional de exigência das capitais em especial. Ele vai retomar essas agendas olhando para 2022, todo cenário. Nossa luta é pela liberdade plena do presidente Lula. Ele não está preso, mas não está em plena liberdade. Na nossa visão, a plena liberdade é ele estar apto a disputar eleição, algo que ele não está no momento. Nosso planejamento passa por casar melhor o papel do Haddad, a liderança que o Haddad representa, na eventualidade da dificuldade jurídica do Lula.

Então o Haddad não é candidato na Capital?
Não é. Esse martelo está batido. Batido com o Haddad, com o Lula. Apesar de eu não gostar da ideia. Como presidente do PT estadual, eu gostaria que o Haddad fosse candidato. Mas isso está dado.

Em que situação estão os processos judiciais aos quais o senhor responde, como o caso do Museu do Trabalhador e as delações do Léo Pinheiro, da OAS?
Não estou preocupado. Sobre essa questão do Léo, tenho tranquilidade, estou sereno, durmo todo dia, não devo nada. Sobre a OAS, a preocupação é zero. Sobre os processos do museu. O Orlando contratou auditorias, cadê o resultado delas? Usou não sei quantos milhões para fazer auditoria do piscinão. Cadê a auditoria? Você conhece? O que deu a auditoria do IPT? Deu que está tudo correto. Se estava errado, ele teria botado fanfarra, teria feito umas dez lives. Do museu, também tem auditoria. Cadê? Apresenta. Não tem absolutamente nada. Tem uma ilação grande da moça do Ministério Público (em referência à promotora Fabiana Rodrigues Bortz) que abandonou o processo na reta final. Por que ela saiu? Porque tem certeza que será fragorosamente derrotada. Falei no dia do meu depoimento. Peço que a Justiça acelere o julgamento. Quero resultado logo. Eu não serei condenado, tenho certeza disso. Tenho certeza do que eu fiz. Eu confio na Justiça, tenho certeza que serei inocentado. Agora, ele (Morando) está indiciado, com pessoas (de sua confiança) que foram presas, com dinheiro achado na casa de secretário. Acharam algum centavo na casa de secretário meu? No caso dele, sim, tem dinheiro na casa do vice-prefeito, na casa do outro secretário. Tem secretário que desapareceu, vereador que desapareceu, pedido de afastamento do cargo. Eu nunca tive pedido de afastamento do cargo. Não parece que sou eu quem tem ‘capivara’.

Como ex-ministro da Previdência, como o senhor viu a reforma promovida pelo governo Bolsonaro?
Acho que outros assuntos da Previdência deveriam vir antes. A crise econômica impacta nas contas da Previdência, com desemprego maior. Há muita evasão de receita, muita sonegação, muita corrupção, infelizmente. Há isenção tributária, dada ainda na época do Fernando Henrique Cardoso, que liberou pagamento previdenciário sobre lucros de acionistas. Se isso fosse atacado, uma reforma que retira direitos não precisaria ter sido feita.




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