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A cara da palavra

Ilustrador do Diário, Luiz Carlos Fernandes abre exposição em Santo André com ícones da literatura

Por Miriam Gimenes
22/09/2019 | 07:12
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Denis Maciel/DGABC


Nair Veiga Lacerda nasceu em Santos, em 1903. Ainda cedo, até por influência do pai, o jornalista Alberto Veiga, começou a se atrever na escrita e, em 1932, publicou sua primeira crônica, no jornal A Tribuna. Além de seguir na carreira em periódicos, também foi tradutora e escritora: com a sua versão de As Mil e Uma Noites ganhou o prêmio Jabuti. Em 1964 veio para o Grande ABC, primeiramente Ribeirão Pires, depois Santo André, onde, até 1969, ocupou o cargo de secretaria de Educação, Cultura e Esportes.

Foi na cidade onde ficou até partir, em 1996. Como homenagem, seu nome foi colocado na biblioteca central, onde está todo seu acervo. Ninguém melhor, portanto, para ser figura central, em forma de ‘cariscultura’ (caricatura e escultura) da exposição aberta ontem na Casa da Palavra Mario Quintana, em Santo André, a Cara da Palavra, do ilustrador do Diário, Fernandes. Esculpida em pouco mais de uma semana, com diversos materiais – epoxi, argila, massa expandida, madeira, arame e ferro –, a figura em 3D simboliza a ideia do artista em valorizar os escritores nacionais e regionais na mostra.

Isso não quer dizer, no entanto, que não existam estrangeiros. Entre os mais de 30 rostos ilustrados estão também os portugueses Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, o indiano George Orwell, o irlandês James Joyce, o espanhol Miguel de Cervantes e o argentino Jorge Luis Borges. “Ele (Borges) significa muito para mim porque é o primeiro que ganhei em uma exposição no Salão de Piracicaba”, explica. 

Também estão na lista os escritores Mário de Andrade, Machado de Assis, Ferreira Gullar, Euclides da Cunha, o casal Zélia Gattai e Jorge Amado, Mário Quintana e Oswald de Andrade. Entre os escritores regionais, Fernandes homenageou Dalila Teles Veras, Ademir Medici (colunista do Diário), Zhô Bertholini, Kiyoshi Ikeda e o cordelista Moreira de Acopiara.

Os desenhos imprimem técnicas variadas, por escolha do artista. “Ali tem lápis de cor, caneta, colagem, tem arte digital, a maioria feita para o jornal, e a figura central em 3D. Gosto que a exposição não seja aquela que você vê um trabalho e já entenda todos, por isso mostro a variedade”, explica.

A coordenadora do espaço, Sonia Varuzza, diz que a ideia da mostra é valorizar artistas da região, uma vocação da Casa. “Estamos expondo pela segunda vez com Fernandes. Ele é um artista premiadíssimo no mundo inteiro, tão incrível e merece que os andreenses saibam mais a respeito. Um dos objetivos da Casa da Palavra é garimpar preciosidades e o Fernandes é uma delas. Como dizia Tolstoi: ‘Se queres ser universal, canta sua aldeia.’ Quero que a Casa exponha os talentos da cidade.”

Para o caricaturista, é importante a valorização daqueles que difundem a cultura, cada qual ao seu modo. “O artista, tanto o gráfico, que é o meu caso, como os de outras vertentes sempre tiveram, na minha opinião, do lado certo da história. Sempre foram abolicionistas, contra o regime ditador. O artista tem a obrigação de lutar pela sociedade, contra as coisas erradas, ele tem a sensibilidade para perceber e transformar essas coisas em palavras ou desenho. É uma força muito grande. Tem impacto e está tudo muito ligado, a letra e a imagem. Nessa exposição é realizado um casamento dos dois, com foco na imagem daquele que sempre ficou atrás do papel.”

A Cara da Palavra – Exposição. Na Casa da Palavra – Praça do Carmo, 171. Até 3 de outubro. Visitação de segunda a sábado, das 9h às 21h. Gratuito.




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