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Estresse e ansiedade podem agravar vitiligo

Doença crônica e autoimune, enfermidade tem forte relação com o psicológico dos pacientes

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
01/07/2019 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


A funcionária pública Anna Nery de Queiroz Layfer, 55 anos, descobriu que era portadora de vitiligo em 2011. Ao retornar de viagem ao Nordeste, notou algumas manchas claras no dorso das mãos, e inicialmente achou que haviam sido causadas pelo protetor solar. “Conversei com um amigo que tem a doença e ele disse que parecia vitiligo. Foi um choque. Tive uma crise de choro, foi muito difícil”, relembra. O impacto na sua vaidade foi grande e doloroso. O desconhecimento sobre a enfermidade, o preconceito e o medo da rejeição social foi o que fizeram com que Anna demorasse a buscar diagnóstico preciso e entender uma coisa importante sobre sua condição: que o estresse e a ansiedade podem agravar a doença.

Como todas as enfermidades autoimunes – quando o sistema imunológico passa a agredir as células do próprio organismo –, o vitiligo está bastante associado às questões emocionais. “Um forte trauma pode ser o gatilho para que as manchas apareçam”, explicou a dermatologista e professora convidada da Universidade Anhembi Morumbi Thalita Rodrigues Eufemia. Fatores genéticos, e não necessariamente hereditários, também podem desencadear a doença.

Sem outro sintoma além das manchas mais claras na pele, o vitiligo não é contagioso, mas devido à predominância em áreas aparentes, como as mãos, não raro os pacientes são vítimas de preconceito. “É importante falar sobre isso, explicar que não é contagioso e incentivar as pessoas a buscarem o diagnóstico precoce”, defendeu o professor de dermatologia da Faculdade de Medicina do ABC e coordenador do ambulatório de vitiligo, Jefferson de Barros.

Quanto antes for o diagnóstico, maiores as chances de sucesso no tratamento. “Não é possível falarmos em cura, porque não sabemos a causa. É possível controlar e, em alguns casos, conseguir a regressão da doença, com as áreas que perderam a pigmentação adquirindo a cor mais próxima ou igual ao restante da pele”, afirmou Thalita. “Temos observado aumento nos casos de vitiligo devido à relação com o emocional. As doenças autoimunes serão as mais prevalentes no próximo século.”

O diagnóstico é clínico e normalmente não depende de exames laboratoriais. Estima-se que o vitiligo atinja de 1% a 2% da população (no Grande ABC, que tem 2,7 milhões de habitantes, seriam até 54 mil pessoas). De acordo com Barros, 50% dos casos aparecem por volta dos 20 anos. Não há dano a nenhum órgão interno, apenas a perda de coloração em alguns pontos do corpo – há casos de despigmentação isolada e também generalizada – que atinge pele, pelos e cabelos. “O maior problema para o paciente é o preconceito. Não raro, após o diagnóstico há baixa da autoestima, medo de discriminação, isolamento e as pessoas sofrem muito com isso”, destacou Barros.

Moradora de São Caetano, Anna viveu todas as angústias citadas pelo médico e, após testar diversos tratamentos, encontrou na prática e no aprendizado da ioga o equilíbrio para aceitar e conviver com a doença. “Aprendi que tenho que viver o hoje. Faço acompanhamento com psiquiatra, tomo os medicamentos, mas principalmente, foco no presente”, declarou. 

Prefeituras não possuem dados sobre casos diagnosticados

Apesar de não ser doença rara, por não ser contagioso, o vitiligo não está incluído entre as enfermidades de notificação compulsória e, devido a isto, as administrações municipais não têm informações sobre quantas pessoas foram diagnosticadas com a enfermidade. Apenas Mauá informou que são feitos cerca de 30 atendimentos mensais para pacientes com a doença. Em 2018, foram 60 casos confirmados.

O tratamento é feito no próprio município, dentro do Cemma (Centro de Especialidades Médicas de Mauá). A Prefeitura informou, ainda, que a rede pública oferece um tipo de protetor solar, que está na cesta de medicamentos de alto custo, disponibilizado pelo Ministério da Saúde para o programa de hanseníase, que, em alguns casos sob rigorosa prescrição médica, é fornecido aos pacientes de vitiligo, quando o munícipe está inserido em um contexto de precariedade financeira.

Santo André informou que não conta com dados de diagnóstico da doença, apenas daquelas cuja notificação é compulsória, mas que a rede de saúde oferece consultas e exames na especialidade de dermatologia e a partir do diagnóstico são tomadas as condutas terapêuticas individualizadas. São Bernardo oferta, em sua rede especializada, consultas com dermatologista, porém, os casos suspeitos de vitiligo são encaminhados para o Estado, por meio da Cross (Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde).

No ambulatório de vitiligo da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) são atendidos, em média, 50 pacientes por semana. Os pacientes são
encaminhados via central de regulação municipal e a marcação de consultas é realizada por meio das próprias cidades de origem dos pacientes, através das unidades de saúde. No total, 2.000 pacientes já foram atendidos. As outras cidades e a Secretaria da Saúde do Estado não responderam até o fechamento desta edição.

Exposição solar atua como aliada e vilã

O tratamento para o vitiligo pode ser feito de diversas formas, e cada paciente vai reagir de uma maneira. Um consenso é que a exposição solar pode ser tanto a aliada no controle da doença quanto a vilã. “Nos locais onde a pessoa não tem a pigmentação, vai precisar de uma proteção maior”, detalhou a dermatologista e professora convidada da Universidade Anhembi Morumbi Thalita Rodrigues Eufemia. No entanto, pequenas doses de exposição solar, em períodos controlados e recomendados pelo médico, podem ter efeitos benéficos. “Tudo precisa ser acompanhado por um especialista”, frisou o professor de dermatologia da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) e coordenador do ambulatório de vitiligo, Jefferson Alfredo do Barros.

Para o controle da doença, podem ser usados cremes, pomadas, comprimidos e tratamentos com fototerapias, tanto em câmaras especializadas quanto com luzes portáteis, que podem ser realizados na própria residência. Também há possibilidade de transplantes, quando células que ainda produzem a melanina, os melanócitos, são transferidos para os locais onde há despigmentação. “O aparecimento de manchas mais claras que a pele devem motivar a procura por um dermatologista para o diagnóstico clínico”, ressaltou a dermatologista e responsável por uma clínica de fototerapia em São Paulo, Eliane Ribeiro.




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