"Não teria feito o que ele fez." A declaração do ex-secretário de Gabinete e de Desenvolvimento Econômico de Santo André Beto Torrado serve de recado para as pretensões e os caminhos a serem tomados pelo prefeito, Aidan Ravin (PTB), que buscará a reeleição em 2012.

Fora do governo desde maio, quando pediu afastamento para trabalhar nas campanhas tucanas, o ex-interlocutor entre Executivo e Legislativo atenta para as dificuldades que o petebista enfrentará para formar alianças em virtude de sua aproximação com o PT, que se configurou nas eleições do ano passado. Na ocasião, Aidan abraçou Geraldo Alckmin (PSDB) para o governo do Estado, e pendeu para Dilma Rousseff para a Presidência.

"Pensando no governo, apoiar quem está no poder foi tacada correta. Agora, o que isso representará politicamente é outra conversa", considera.

Enquanto aguarda desfecho das negociações para integrar cargo de direção em alguma autarquia ou empresa publica do governo do Estado ou da Capital, o que deve ocorrer até o fim do mês (descarta retornar a Santo André), Torrado auxilia na transição de José Police Neto, o Netinho (PSDB), eleito presidente da Câmara de São Paulo.

A distância da região, contudo, não o impossibilita de dar pitacos em Santo André. "Se amanhã o Aidan depender de conchavos para compor chapa, pode ter problemas", analisa. "Quando se toma lado tem de assumir os prós e contras."

O fato de o chefe do Executivo se alinhar a quem está no poder foi definido pelo ex-secretário como resultado de uma virtude do petebista. "Ninguém pode negar que o Aidan, apesar da pouca experiência na política, é um grande estrategista." 

SEM DESCONTENTAMENTO

A trajetória de Beto Torrado em Santo André foi do céu ao inferno. Após ajudar Aidan na corrida ao Paço, em 2008, assumiu a Secretaria de Gabinete no primeiro ano do mandato, em 2009. Como a voz do Executivo na Câmara, passou a ser considerado o homem-forte do petebista.

Mas em pouco tempo caiu em descrédito com os vereadores, insatisfeitos com a forma pouco esclarecedora com que Torrado conduziu as conversas pela aprovação de projetos. Almir Cicote e José Ricardo (ambos do PSB) chegaram a promover a sessão das torradas (em alusão ao sobrenome do então secretário), distribuindo as guloseimas aos pares. "Torrada é duro de engolir", cutucou Cicote, à época.

Com a enxurrada de críticas dos parlamentares, Aidan trocou Torrado por Nilson Bonome em fevereiro. O ex-secretário assumiu então o Desenvolvimento Econômico, onde permaneceu até maio. Apesar de ter deixado a administração em baixa, ele rechaça descontentamentos com o governo. "Isso não existe."