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'A Teta Assustada' está de volta
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21/08/2009 | 07:00
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Claudia Llosa possui a pele e os olhos claros. Não tem o típico físico comumente associado aos índios do altiplano do Peru, mas a temática indigenista percorre seus dois longas - "Madeinusa" e "La Teta Asustada", ambos interpretados pela atriz e cantora Magaly Solier.

Veja o trailer

O segundo foi o grande vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim, em fevereiro e entra em cartaz hoje no circuito paulistano. No sábado, "A Teta Assustada" venceu mais um festival, o de Gramado, recebendo o Kikito de melhor filme latino, ao qual se somou o prêmio de melhor atriz para Magaly.

O curioso é que, com outro título, "O Leite da Amargura", "La Teta" já havia integrado a programação do 4º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, em junho.

"A Teta Assustada" possui elementos que poderiam definir o filme como um exemplar de realismo fantástico latino-americano - Claudia é parente, mesmo distante, de Mario Vargas Llosa -, filtrado por alguma coisa da vertente alegórica da argentina Lucrecia Martel. A própria autora argentina gosta de dizer que trabalha com ‘camadas de realidade'.

À teta assustada do título somam-se outros signos que a diretora cria para propor uma interpretação de seu país, o Peru. A protagonista, vivida por Magaly, é esta garota cuja mãe foi estuprada (por guerrilheiros) e que lhe transmitiu seu medo por la leche. Claro que isso não tem fundamentação científica nenhuma, mas faz parte de um imaginário indígena que vai sendo transmitido oralmente.

Outra ideia, mais perturbadora ainda, é o fato de que a moça carrega na vagina uma batata, que introduziu para se preservar de tentativas de estupros, só que a tal batata vai crescendo dentro dela.

Tudo isso não deixa de compor um receituário exótico sobre a América Latina e esta é uma crítica que Claudia, que vive na Europa, tem recebido em seu país. Ela faria (faz?) Filmes para estrangeiros. É injusto, mas em Berlim, nas duas vezes em que se encontrou com ela, a reportagem já havia formulado a questão. "Esse exotismo de que me acusam faz parte da realidade do altiplano. Não vou extirpá-lo só para satisfazer a quem parece ter vergonha de nossas tradições ancestrais."

Se há uma coisa que Claudia gosta de enfatizar é seu vínculo com o real - "Não invento nada." A Teta Assustada constrói-se nas bordas da ficção e do documentário ao olhar as comunidades indígenas que abandonam o altiplano peruano para viver (e trabalhar) na periferia de Lima. "É uma cultura em que vida e morte andam juntas, mas eu não teria conseguido expressar isso sem a força que Magaly (Solier) traz para o papel, falando e cantando em dialeto quíchua, como sabe fazer", diz a diretora.




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