Cultura & Lazer Titulo Debaixo de vaias
'FilmeFobia' vence um Cine Brasília em crise
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27/11/2008 | 07:00
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No Cine Brasília da crise, ganhou FilmeFobia, de Kiko Goifman, que recolheu seu prêmio debaixo de vaias. Contestada desde o início, a seleção de longas deste ano, com quatro documentários e duas ficções semidocumentais, produziu insatisfação geral. No público, que não compareceu com o arrebatamento de anos anteriores e vaiou o vencedor. No júri, que se queixou de falta de material para realizar seu trabalho. E na crítica, que cogitou não entregar seu prêmio por falta de um concorrente que realmente merecesse recomendação.

FilmeFobia, segundo seu mentor, o grande ensaísta Jean-Claude Bernardet, não é nem documentário nem ficção, mas uma terceira "coisa", ainda a ser definida. No filme, Bernardet faz o papel de um cineasta chamado Jean-Claude. Por essa ‘interpretação', Bernardet levou o inusitado troféu de melhor ator. Além desses dois candangos, FilmeFobia levou melhor montagem, direção de arte, e o troféu da crítica.

À Margem do Lixo, terceiro vértice da tetralogia de Evaldo Mocarzel sobre os desvalidos da sociedade brasileira, não tem do que se queixar. Ganhou o prêmio especial do júri, fotografia e também o júri popular. E, de quebra, foi muito aplaudido pelo indócil público do Cine Brasília.

Tudo Isto Parece um Sonho levou as estatuetas de roteiro e direção (Geraldo Sarno). Siri-Ará, de Rosemberg Cariry, ganhou o prêmio de ator coadjuvante (Everaldo Pontes) e seu elenco feminino foi contemplado em conjunto.

A atriz cearense Majô de Castro, de Siri-Ará, se disse frustrada pelo prêmio coletivo atribuído ao elenco, mas, de certa forma, deu razão ao júri. "A Sandra Corveloni ( membro do júri, atriz de Linha de Passe, premiada com a Palma de Ouro em Cannes) me disse que não tinha como premiar uma atriz em particular porque não havia como comparar elencos."

Vladimir Carvalho, documentarista famoso ele próprio, queixou-se de que o excesso de documentários não concedeu ao júri material para que este pudesse trabalhar a contento. Outro jurado, que prefere ficar no anonimato, declarou que "todos os filmes eram ruins".

Um terceiro integrante do júri, Carlos Reichenbach disse: "Foi a seleção possível." Toda essa insatisfação - do público, do júri e da crítica - é sintoma de crise, impossível de ser ignorado.

Tudo somado fica a impressão de que o Festival de Brasília, o mais tradicional do País, fundado em 1965 por Paulo Emílio Salles Gomes, terá de encarar algumas reformas caso deseje manter sua importância no calendário nacional. Talvez tenha de garimpar concorrentes ao longo do ano sem esperar que eles venham a se inscrever para o festival. Ir aos filmes e não esperar que os filmes venham a Brasília.

 




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