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Uma noite sem fim
Por Bruno Ribeiro
Do Diário do Grande ABC
23/02/2008 | 07:08
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Saindo do trabalho às 22h de quinta-feira, o conferista Hélio Fernandes, 20 anos, caminhou a pé e na chuva até a estação Santo André sexta-feira de madrugada. E essa era só parte da viagem. Ele queria chegar em Mauá, onde mora, mas só conseguiu alcançar o objetivo após às 4h30.

 

A opção pela caminhada foi forçada. O rapaz não conseguiu chegar nem à estação Ipiranga e nem à Tamanduateí por conta dos alagamentos. Decidiu ir até São Caetano, na esperança de que, lá, pudesse entrar em um trem e seguir viagem. Mas em São Caetano os trens também estavam parados.
 
“Não teve jeito. Ia lá saber que horas o trem ia voltar?”, disse o rapaz. Então ele preferiu continuar a caminhada. Passou pelas estações de Utinga e Prefeito Saladino, também paradas, até chegar em Santo André. E lá, teve de aguardar mais meia hora até ingressar em uma composição.
 
“Meus pés estão doendo. Minha roupa, molhada. Estou andando a noite toda”, disse o conferista, sexta-feira de madrugada.
 
“Agora, é chegar em casa, descansar o corpo e acordar para outro dia de trabalho”, lamentou o rapaz. Ele trabalha no Ipiranga há um ano. Da porta da casa dele à porta da empresa, o jovem costuma gastar uma hora. O jovem entra às 14h na empresa.
 
Franco da Rocha - Quem trabalha no Grande ABC mas mora fora da região passou por igual sofrimento. O ajudante Geral Leonardo Sales Neto é morador de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, mas trabalha em Santo André. Saiu quinta-feira do trabalho às 17h. Às 4h30 de sexta-feira, ainda estava na estação Prefeito Celso Daniel - Santo André. “Fiquei aqui. Comi. Vou para casa e tenho que voltar às 7h. Ainda estou pensando se vou embarcar ou volto para o serviço”, disse o ajudante durante a madrugada. Ele conta que não conseguiu avisar a família sobre o caos no transporte.
 
Após às 4h30 de sexta-feira, os eletricistas Francisco Rodrigues da Silva, 39 anos, e Aminadábio Nascimento, 33, simplesmente desistiram de tentar voltar para casa. Perceberam que já era quase hora de ir para o trabalho novamente e deram meia volta, abrindo mão do descanso diário.
 
Ambos saíram do trabalho às 18h10, em Francisco Morato (na Região Metropolitana de São Paulo) e seguiram para Santo André. São moradores do bairro Centreville. Em São Caetano, a composição parou. E não seguiu mais viagem. “A gente resolveu tirar um cochilo por lá mesmo, até o trem voltar a circular”, contou Silva.
 

Mas os trens para Santo André só começaram a partir às 3h. A dupla chegou em Santo André quase às 4h. “Aí eu tinha de pegar outro ônibus até o Centreville. E depois, tomar o mesmo ônibus no sentido contrário, para voltar para cá. Compensava mais ficar aqui e já voltar para Francisco Morato direto”, contou o eletricista.




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