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Novo disco de Ed Motta é lançado em versão original

Ed Motta considera o seu novo trabalho "um disco de canções tradicionais viradas de ponta-cabeça"

Por Julio Ibelli
Especial para o Diário
23/09/2008 | 07:00
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Ed Motta considera o novo CD, Chapter 9 (Trama, R$ 30 em média), "um disco de canções tradicionais viradas de ponta-cabeça". Melhor dizendo, ele é uma demo profissional, que deu certo.

Por demo, entenda-se a prática muito comum nos tempos da indústria fonográfica off-line, quando aspirantes ao sucesso utilizavam fitas K7 e CDs como cartão de visita nas gravadoras. Isso, antes do MySpace e dos programas de gravação profissionais para computadores residenciais.

"Eu sempre faço uma ‘maquete' do disco de forma caseira, toco todos os instrumentos para mostrar aos músicos", diz, em entrevista por telefone ao Diário. Só que, à época do registro de Chapter 9 (início de 2007), Ed Motta tinha um estúdio profissional à disposição, com mesa de som e instrumentos maravilhosos, em suas próprias palavras.

"O pessoal da Trama (na figura do produtor executivo do selo, João Marcello Bôscoli) disse que se eu gravasse de novo perderia o frescor", recorda o músico. Nascia ali Chapter 9, um improviso com cara de produto final. Além de ter criado todos os arranjos, Ed ainda assina a produção.

O língua inglesa aparece logo no título e percorre todas as dez faixas do trabalho, que dura pouco mais de 40 minutos. "A reação está melhor do que eu recebi pelos meus últimos quatro discos", comemora, em relação à língua escolhida, com a qual já disse ter maior facilidade para compor.

Ele atribui a boa receptividade ao que diz ser um CD com apelo mais pop e inclui o jazz nessa classificação.

Além disso, soul e uma forte pegada roqueira completam a receita do sucesso, com o qual pretende ficar longe das misturas entre MPB e música eletrônica.

"No Exterior, não esperam de mim canções dançantes, e sim instrumentais." Depois de pelo menos cinco trabalhos que já foram lançados lá fora, Chapter 9 é o próximo a ganhar versão gringa em CD e vinil.

Quem assina nove das letras do disco é o músico inglês Rob Gallagher, ex-Galliano e atualmente no Two Banks of Four, ainda com passagem por uma terceira banda, Road.

A única exceção é feita à música The Man from The Oldest Building, escrita pelo brasileiro Cláudio Botelho, mago dos grandes musicais da Broadway adaptados para o País.

Chapter 9 ganhou lançamento primeiro na internet, em www.albumvirtual.trama.com.br. "É interessante escrever essa nova parte da distribuição musical, com Tom Zé e CSS", comenta, citando nomes de artistas que participam da estratégia da Trama (e ainda inclui o trio instrumental Macaco Bong, de Cuiabá/MT).

Foi também com a ajuda da rede que Ed Motta venceu a barreira de um oceano para finalizar o álbum à distância com Gallagher.

"Sou absolutamente a favor", diz o brasileiro a respeito das novas tecnologias. Baixar MP3 de blogs na internet e passar discos de vinis inteiros para o iPod já virou rotina para ele É a convivência harmônica entre o passado e o novo, o que também se tornou marca registrada de Ed Motta.

Capa também pode ser baixada

No encarte de Chapter 9 - que também pode ser baixado da internet junto com o disco, os tons de azul entre o cinza, onipresente em diversas variações, já adiantam o clima soturno do trabalho, também pela boa faixa de abertura, The Man from The Oldest Building. Fotos bucólicas de ambientação urbana (como a que ilustra essa página) também colaboram para essa impressão. Seguem pela mesma linha as músicas Twisted Blue e St.Christopher's Last Stand.

As intenções roqueiras de Ed Motta com o novo trabalho surgem em You're Supposed To..., que emula o indie rock inglês atual, de mãos dadas com o retrô e um pezinho na experimentação eletrônica (porém, não espere por nada na linha de um Franz Ferdinand, muito pelo contrário, já que o ritmo aqui é outro). O primeiro rock consistente, no entanto, só aparece na segunda metade do disco, com Tommy Boy's Big Mistake.

The Runaways é outro desses indies-retrô, só que desta vez mais animado. Aqui também se faz sentir a linha mestra do jazz que permeia todo o trabalho, e entrega mais ainda as condições em que Chapter 9 parece ter sido gravado, numa só toada, quase que espontaneamente - como numa jam session.

A língua inglesa, no entanto, soa um pouco forçada para os ouvidos tão acostumados a ouvir Manuel e Colombina em português pelo dial das FMs País afora. Parece tolher um pouco do talento vocal de Ed, que mesmo assim se sobressai em determinados momentos, como se fizesse parte da harmônica.




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