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Um tour pela Cordilheira dos Andes pode deixar na memória do viajante imagens de beleza intocada

William Cardoso
Do Diário do Grande ABC
04/09/2008 | 07:04
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É inesquecível. Um rápido tour pela Cordilheira dos Andes pode deixar na memória do viajante mais aventureiro imagens de beleza intocada nos pontos mais altos da América do Sul. Bolívia, Peru e Chile são destinos ideais também para quem pretende explorar um pedaço rico em história, repleto de mistérios e lendas que remontam a um período muito anterior à chegada de Cristóvão Colombo ao Novo Mundo.

Um roteiro que se inicia no coração da Bolívia - e, não por acaso, do próprio continente - e se estende até o umbigo do mundo, Cusco, e a cidade perdida dos incas, Machu Picchu.

Depois de dias em meio às nuvens, vale respirar o ar bem próximo ao Oceano Pacífico, vendo o Sol se esconder atrás das águas tranqüilas da chilena Arica. Uma madrugada depois, a brisa marinha cede espaço ao sol inclemente e à baixa umidade do Deserto do Atacama, o mais seco do planeta.

A partir da pequena San Pedro de Atacama, o Paso de Jama abre caminho entre vulcões e gêiseres para um retorno suave ao Sul da Bolívia. É o último pedaço de asfalto para quem pretende cruzar as lagunas altiplânicas, com seus flamingos selvagens, e o Salar de Uyuni, lugar único na Terra.

Para se acostumar novamente à urbanidade, uma passada por Sucre, capital legal da Bolívia, lugar de grande efervescência política, um contraponto econômico e cultural a La Paz.

De lá, um vôo para baixo, fechando o círculo em Santa Cruz de la Sierra, a cidade mais rica de um país onde a maioria absoluta das pessoas vive em estado de miséria, sobre os escombros daquele que já foi um grande império.

É possível fazer quase todo o trajeto de forma confortável e asséptica, com estadia, almoço e jantares semelhantes àqueles que se encontra em qualquer lugar do mundo.

Mas também existe outra opção, sem que se precise vender artesanato em feiras ou encarnar o espírito hippie dos anos 1960: basta transformar sua casa numa mochila de 70 litros e se deixar guiar pelo próprio instinto que as paisagens do caminho com certeza irão se encarregar da viagem por si só. Um detalhe: por apenas R$ 1.200, já contando as passagens aéreas e hospedagens.

Copacabana andina

Faz muito frio em Copacabana, vilarejo na parte Sul do Lago Titicaca que deu o nome à famosa praia do Rio de Janeiro. Diz a história local que há séculos comerciantes bolivianos seguiam até a capital fluminense para vender seus produtos, vindos daquele recanto gelado, mas acolhedor, detentor da "Virgem Morena" - até hoje exibida para os devotos em uma igreja.

De fato, é preciso se agasalhar bem pela manhã em Copacabana. A caminhada até o porto faz o viajante contemplar um verdadeiro mar de água doce à frente, a 3.800 metros de altitude. É o Titicaca que se abre em chumbo, a coloração do líquido que desafia o motor de um barco bastante simples, cheio de aventureiros gringos e moradores locais.

Uma hora e meia depois de deixar a borda, chega-se ao píer da Isla del Sol. A primeira vista é das escaleras, um conjunto de degraus construído ainda em período incaico. É recomendável subir pausadamente, pé após pé, contemplando as lhamas e a paisagem espetacular.

No alto, a Vila de Yumani, parte Sul da ilha, cheia de pousadas e albergues para todos os bolsos. Há também restaurantes rústicos, que servem prato típico: a truta pescada no lago gelado.

De lá, por volta do meio-dia, é possível seguir para o Norte, numa caminhada que dura em média três horas. O passeio oferece vista sensacional e exibe ruínas do lugar que, segundo a lenda, foi escolhido pelos filhos do Sol - Manco Capac e Mamma Oclo - para fundar a civilização inca. Ainda intacta está a mesa de sacrifícios, onde virgens trazidas da vizinha Isla de La Luna eram oferecidas para apaziguar a fúria divina.

A volta é tranqüila e pode ser feita pelo "caminho de baixo", que contempla a outra borda da Isla del Sol e passa por um vilarejo onde turistas mais audaciosos - bastante audaciosos - se arriscam a dar um mergulho no lago.

Se ainda houver força, é possível curtir a noite em Yumani. Aí, é dormir e aguardar o retorno do barco na manhã seguinte. Ou se isolar por um tempo do restante da humanidade. Mas se bater o tédio ou a saudade, não é preciso entrar em desespero: tem internet paga por lá.

Rica cultura - As cholas caminham tranqüilamente ao lado de descoladas garotas "emo" pela Calle Sagarnaga. Numa travessa próxima, na Calle de Las Brujas (a Rua das Bruxas), um campesino oferece folhas de coca para o gringo mascar. É La Paz no início do século 21, onde se compra um feto de lhama para dar sorte na barraquinha da esquina e se toma uma cerveja européia no Hard Rock Café da Calle Illampu.

Fato é que tudo chama a atenção na capital administrativa da Bolívia, local onde o presidente Evo Morales tem base eleitoral - ao lado de Oruro -, formada pelas camadas mais pobres do país. A cidade é cercada por picos nevados e fica no fundo daquilo que se poderia chamar de bacia, onde as bordas têm mais de 500 metros de altura. Mesmo assim, está a 3.600 metros do nível do mar.

Fora a diversidade das ruas, pode-se acompanhar a beleza natural nas redondezas subindo até o Monte Chacaltaya, a estação de esqui mais alta do mundo (cerca de 5.500 metros de altitude). Há ainda a possibilidade visitar o sítio arqueológico de Tiwanaco, local de adoração da civilização pré-incaica de mesmo nome.

UMBIGO DO MUNDO
Da Bolívia para o Peru, é tudo muito diferente em Cusco. A capital do Império Inca merece o título de ‘umbigo do mundo' (significado do nome da cidade em quéchua): a pedra de 12 ângulos do Palácio Hatunrumiyoc, a vista de Saqsayhuamán e o Templo do Sol dão a dimensão da grandeza das pessoas que habitaram o local.

Já a modernidade se manifesta na movimentação intensa de estrangeiros que passeiam pela Plaza de Armas durante o dia e à noite, onde bares recebem turistas de todo o mundo - com direito a free-drinks, bebida barata de graça para quem não tem muito dinheiro.

A impressão é de que se está numa Babel contemporânea, com conversas nas mais variadas línguas ao redor das pistas de dança.

Outro grande centro peruano que encanta o turista é Arequipa, nos pés do Vulcão Misti. Conhecida como ‘cidade branca', foi construída em grande às custas de um tipo de lava vulcânica que deu origem à coloração de suas construções. Na vizinhança, pode-se chegar ao Cânion de Colca, de onde se avistam condores em pleno vôo.

Deserto do Atacama: refúgio seguro de sol, areia, paz, silêncio e meditação

O deserto é mais do que qualquer turista precisa, e o Atacama é mais do que areia e sol. No passado, esses longos espaços vazios, sem nada além da própria imaginação, eram ideais para se meditar e encontrar caminhos. Isto em todas as culturas e religiões. Hoje, continuam como refúgios seguros para quem pretende se afastar um pouco do corre-corre do dia-a-dia, aquilo que se convencionou chamar de vida moderna. É tudo o que se pode desejar quando se quer mais do que o trivial.

O acesso até a pacata San Pedro de Atacama é fácil e, chegando lá, o viajante encontra pousadas para todos os gostos e bolsos. Verdade é que o Chile é um pouco mais caro que os vizinhos Peru e Bolívia, mas nada que assuste.

EM DUAS RODAS
Fora o conforto mínimo, precisa-se de água, muita água. Principalmente para quem quer se aventurar sozinho pelo deserto, longe do ‘rebanho' acomodado em vans com ar-condicionado. Bebe-se facilmente três litros de líquido quando se pedala por uma hora no deserto mais seco do mundo, numa bicicleta alugada que leva até o Valle de La Luna, distante 18 quilômetros de San Pedro. De lá, caso haja tempo, é possível seguir até o Valle de La Muerte.

Ruínas de Tulor, Pukará de Quitor, Termas de Puritama e Gêiser del Tatio são algumas das outras atrações para quem tem dinheiro, deseja permanecer na região por vários dias e não se contenta com o deserto puro e simples.

Ilhas flutuantes

O lado peruano do Lago Titicaca tem um povo descendente dos incas que resiste ao tempo e às transformações da sociedade. Mesmo assim, aceita cordialmente a presença de gente do mundo inteiro - e seus dólares - nas ilhas flutuantes feitas de totora, uma espécie de junco, bastante abundante por lá. São os uros, com roupas coloridas e sorriso permanente no rosto.

Os passeios saem de Puno, quase na fronteira com a Bolívia, em barcos que levam até a primeira ilha. De lá, pode-se pagar um pouco mais e seguir em uma embarcação de totora à outra ilha, bem maior que a primeira. A sensação é de caminhar sobre palha instalada sobre a água - ou seja, a pura realidade.

Mesmo com as explicações detalhadas de um líder local, é difícil imaginar como foi construída a primeira da ilhas, como é feita a troca periódica do material e como elas se sustentam acima do lago.

Fato é que a totora serve de base para tudo naquele lugar. É usada como combustível, para fazer casas e até mesmo como alimento - o sabor é semelhante ao do chuchu, o que definitivamente não quer dizer muita coisa.

Em pouco menos de três horas é possível ver tudo o que se tem por lá. Os mais persistentes podem passar a noite na casa dos uros, com direito a duas refeições: jantar e café-da-manhã, ambos com totora.




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