Setecidades Titulo Especial
Eles são pai e mãe ao mesmo tempo

Famílias se adaptam a diversos tipos de situações para criar filhos com amor e atenção

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
10/08/2014 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


Hoje se comemora o dia daqueles a quem foi designada a tarefa de cuidar. Mais do que uma oportunidade de presentear e receber presentes, conforme manda a tradição e o apelo comercial, a data também representa a união familiar em tom de celebração para estreitar os laços. Pelo menos será assim nas famílias dos carinhosamente denominados ‘pães’, pais que exercem a tarefa de pais e mães entrevistados pelo Diário.

Para o analista de sistemas Durval Mantovani Di Vincenzo, 41 anos, o segundo domingo de agosto passou a fazer mais sentido após o nascimento da filha, Luísa, em 2002. O sentimento pela data ficou mais especial após 2010, quando a ex-mulher morreu após um ano de luta contra o câncer. “O processo de assumir tarefas que até então eram executadas pela mãe fez com que eu redescobrisse o que é ser pai e aprendesse a dar valor.”

A aproximação entre pai e filha foi, além de necessária para superar o trauma da perda de um ente tão querido, algo natural. “Nunca me passou pela cabeça cuidar sozinho dela, apesar de ter ficado com dúvida quando me questionava se daria conta do recado”, revela. E, para conseguir conciliar as múltiplas tarefas com o emprego, Vincenzo destaca a cooperação dos avós de Luísa. “A ajuda deles foi fundamental”, diz.

Entre as tarefas de ‘pãe’ estão acompanhar a lição de casa, frequentar reuniões da escola, aprender a cozinhar e a ter preocupações que até então não tinha, como com a necessidade de comprar roupas. Todo o período de amadurecimento trouxe ainda o reconhecimento da difícil missão que é ser pai , além das recompensas. “Até cheguei a receber presente simbólico no dia das mães”, conta.

EM DOSE DUPLA

O pequeno Ryan Henrique, 2 anos e 9 meses, integra parcela de 16% das famílias brasileiras que não seguem a configuração com pai, mãe e filhos. Ao invés disso, ele é cuidado por dois ‘pães’, o casal José Leandro Cordeiro Ramos, 35, e Milton Lourenço da Silva, 50.

Em 2012, depois de 14 anos juntos, eles decidiram ampliar a família e adotar o filho. “Começou como uma brincadeira e hoje já não vejo mais a nossa vida sem o Ryan”, destaca Ramos, pai de primeira viagem. “No Dia dos Pais do ano passado, fui buscá-lo na escolinha e voltei para casa chorando de emoção com o presente”, confessa, ao se recordar da ocasião.

Apesar de ter outros dois filhos, com 25 e 29 anos, fruto do primeiro casamento heterossexual, Silva destaca que a experiência atual está sendo diferente. “Eles tinham a mãe. Agora tenho mais funções e estou acompanhando o crescimento dele”, comenta o homem, responsável por dar mamadeira, trocar fraldas e colocar o menino para dormir. “Já para o banho, ele prefere o Leandro, que o deixa brincar à vontade.”

Mesmo que encare com naturalidade o fato de ter dois pais, Ryan não está livre do preconceito. Para os casal, a melhor maneira de oferecer suporte à criança é orientá-la com a verdade. “A sociedade diz que vamos criar um gay, mas isso não existe. Queremos que ele se sinta especial e saiba que ter pais homossexuais não o diminui em nada”, ressalta Silva.

Dinamização da sociedade exalta cuidador

A concepção atual de configuração familiar destaca como figura de pai aquela pessoa responsável e cuidadora, independentemente de sexo, idade e grau de parentesco. Conforme explica o coordenador do curso de Psicologia da unidade de Santo André da Anhanguera Educacional, Sérgio Sardinha, esse pensamento existe graças à dinamização da sociedade.

Para o especialista, é importante ressaltar que a tarefa de cuidador não exclui a possibilidade de se arriscar junto da pessoa cuidada perante a vida. “É preciso que os pais se permitam a aprender com as situações e que os filhos saibam tolerar os erros, já que não somos perfeitos. Essa visão ampla das coisas só se alcança com aprendizado acumulado ao longo da vida”, exemplifica.

Mais do que a preocupação acerca do preconceito, Sardinha chama atenção para a manutenção de relações francas, permeadas pelo amor e respeito entre cuidados e cuidadores. “Quando temos relações sólidas e sinceras, fica mais fácil controlar nossa postura e atitude e lidar com os imprevistos, com as crises exteriores”, aconselha.

Na visão do professor, a data vem sendo usada da mesma forma que os demais marcos do ano – Natal, Carnaval e aniversário –, como momento de reflexão acerca das relações interpessoais. “Celebramos de maneira mais marcante a importância dessas referências para a nossa vida, ainda mais porque no dia a dia nem sempre temos tempo de realizar esse agradecimento especial”, destaca Sardinha. 




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