Após os dois tremores que ocasionaram a evacuação do Paço de Santo André na quinta-feira, a Prefeitura realizou vistoria no prédio, ontem, para apurar o ocorrido. No entanto, o laudo de inspeção do prédio, feito em parceria com a Defesa Civil e engenheiros da empresa Veirano & Alves Consultoria e Engenharia de Projetos, não aponta as reais causas das vibrações no edifício.

O documento diz que o incidente não alterou a estrutura do imóvel e, por conta disso, a integridade física dos ocupantes está assegurada. Os engenheiros levantaram a hipótese de ter havido abalo sísmico (tremor da superfície terrestre produzido por forças naturais) na área, o que teria provocado a movimentação no prédio. A justificativa foi ventilada com base nos relatos das pessoas que estavam dentro do edifício no momento dos tremores.

Porém, a professora de Geomorfologia (disciplina que estuda abalos no solo) da Fundação Santo André Fabiana de Souza Ferreira descarta a tese. "A chance disso ter acontecido é de 1%. Santo André é muito distante de pontos de abalos sísmicos. Se um fenômeno desse tivesse acontecido, tremeria na Avenida Paulista, não aqui", explicou a especialista, citando que a Capital tem mais chances de sofrer esse tipo de ação natural.
Segundo Fabiana, a mais provável justificativa para o incidente seria a acomodação de solo causada por intervenção malfeita na região. Uma perfuração profunda em obras de construção civil, por exemplo, pode resultar em movimentação terrestre a curto ou longo prazo.

A professora afirmou que não é possível identificar abalos sísmicos por meio de depoimentos de testemunhas do ocorrido, como citado no laudo da Prefeitura. "Relatos não querem dizer nada. A única forma de comprovar um fenômeno desse tipo é com investigação geotécnica."

Sobrecarga

O documento divulgado pela administração municipal confirma que há problema de sobrecarga no 15º andar do prédio, onde fica a Procuradoria. No entanto, a Prefeitura informou que, recentemente, foi realizado laudo, também pela empresa Veirano & Alves, que atesta não haver qualquer risco de ruína da estrutura, já que os excessos de carga ainda não atingem toda a extensão das lajes. De acordo com o documento elaborado ontem, não há relação entre os tremores da quinta-feira e o problema de excesso de peso nessa área do prédio.
Por precaução, o laudo determina que sejam realizadas vistorias semanais na estrutura do edifício pelo período de seis semanas. A Prefeitura informou que está providenciando a retirada dos processos jurídicos arquivados no andar.

Procuradores irão à Justiça se não houver garantia de segurança

O tremor no prédio do Paço gerou pânico nos funcionários do 15° andar, onde fica a Procuradoria da Prefeitura. A APMSA (Associação dos Procuradores do Município de Santo André) informou que, se a administração municipal não emitir laudo que garanta a segurança dos profissionais, irá entrar com mandado de segurança na Justiça. O objetivo é que os servidores e processos jurídicos sejam realocados com urgência.

"É uma situação delicada. Tememos pela integridade dos profissionais e queremos garantia para continuar a trabalhar", afirmou Luiz Gustavo Martins de Souza, presidente da entidade. Segundo ele, o andar arquiva cerca de 17 mil processos.

Temendo riscos, os profissionais desse setor não trabalharam ontem.