Política Titulo Entrevista
Morando declara voto em
Alex Manente para prefeito

Posicionamento do deputado era um dos mais aguardados da
eleição; segundo o parlamentar tucano, a atitude é partidária

Por Beto Silva
Do Diário do Grande ABC
05/10/2012 | 07:03
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Uma das principais lideranças do PSDB de São Bernardo, o deputado estadual Orlando Morando acabou com uma das maiores expectativas da eleição ao divulgar seu voto com exclusividade ao Diário, ontem. No domingo, o tucano votará em Alex Manente, candidato do PPS à Prefeitura. "É por questão estritamente partidária", justifica. Foram 87 dias de silêncio sobre qual rumo tomaria na cidade. Morando foi contra o partido se coligar ao popular-socialista - Admir Ferro (PSDB) é o vice na chapa. Preferia candidatura própria. Muitos dizem que não se envolveu por ser rival de Alex. Rumores ainda deram conta de que se aproximou do prefeito Luiz Marinho (PT), que busca a reeleição. O deputado nega e argumenta que seu afastamento do pleito são-bernardense ocorreu porque dedica-se à coordenação da candidatura de José Serra (PSDB) à prefeitura de São Paulo. "Não tive condições de me envolver em nenhuma candidatura no Grande ABC." Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

DIÁRIO - Talvez o posicionamento do sr. seja um dos mais aguardados desta eleição. Em quem o sr. declara o voto no pleito de São Bernardo?

ORLANDO MORANDO - Continuo com a mesma posição de antes de começar as campanhas: o PSDB errou em não lançar candidatura própria. Seria fundamental para eleger uma bancada maior de vereadores e, automaticamente, aumentaria o poder de resistência de oposição à atual gestão do prefeito Luiz Marinho (PT). Isso não impediria de o PPS também ter sua candidatura (ao Paço). Mas, se tivéssemos duas forças de oposição na cidade, seguramente ficaria muito mais consistente essa oposição. Infelizmente minha posição foi vencida e meu partido buscou outro caminho. Eu respeito a posição partidária e, a partir do momento em que o meu partido se coliga, eu, como filiado do PSDB, tenho obrigação de votar no candidato que o meu partido se coligou. Então, vou votar no candidato que encabeça a chapa, que é o Alex Manente.

DIÁRIO - O sr. entende que é o melhor para a cidade?

MORANDO - Tenho de cumprir um papel de filiado. Algumas conjunturas em outras cidades da região, onde buscou-se o processo de mais de uma candidatura de oposição, deram certo, que é o caso de Santo André, por exemplo, que vai se definir no segundo turno. Porque tem outras vias de resistência à atual administração e isso provoca o segundo turno. Em Diadema, nunca fui contrário à então candidatura do ex-deputado José Augusto (PSDB) e nunca fui contrário à da Maridite (mulher do ex-parlamentar tucano). Porque tenho toda convicção de que duas candidaturas de oposição contra o atual prefeito, Mário Reali (PT), facilitam muito mais o segundo turno. Onde se tem eleição polarizada, principalmente em que se tem possibilidade de reeleição, que está no exercício do mandato tem vantagem. Isso não é só aqui no Grande ABC.

DIÁRIO - Alguns podem dizer que o sr. declara o voto, mas não trabalhou na campanha de fato em São Bernardo.

MORANDO - Ainda não desenvolveram aos humanos o sentido da polipresença. Não entrei na prévia (do PSDB), quando tinham três candidatos inscritos: (os vereadores Hiroyuki) Minami, Admir Ferro e o deputado federal William Dib. Fui convidado pelo José Serra, ainda nas prévias de São Paulo, a encabeçar a coordenação de sua campanha e aceitei esse desafio. Naturalmente já estamos com grande desafio na Capital, onde iniciamos uma candidatura de salto baixo, muito confiante no segundo turno. Não tive condições de me envolver em nenhuma candidatura no Grande ABC. Tive agendas muito rápidas, mas coisas pontuais, por estar envolvido na campanha do Serra. O mesmo motivo pelo qual não pude acompanhar a eleição em São Bernardo.

DIÁRIO - É o mesmo motivo pelo qual o sr. declara voto só agora?

MORANDO - Sem dúvida. Reconheço minha expressão política, tive 63 mil votos na eleição (de 2010) em São Bernardo e tenho a obrigação pública, como filiado ao PSDB, de declinar em quem vou votar.

DIÁRIO - O PSDB conseguiu levar propostas e ideias à candidatura de Alex Manente? E, mais do que isso, conseguiu acrescentar o peso político à chapa de oposição?

MORANDO - Desconheço. Não fiz parte nem do plano de governo nem das propostas. Não posso nem elogiar, muito menos criticar. Mas, se ele utilizou as bases do PSDB, utilizou as melhores propostas. Não conheço o plano de governo. Meu voto é estritamente pela questão partidária, pois respeito meu partido.

DIÁRIO - O sr. considera que, por meio dessa declaração de voto, não há nenhuma mágoa com Alex Manente, com o qual disputou eleições em campos diferentes?

MORANDO - Não há. Mesmo ele não tendo me apoiado no segundo turno em 2008 (o popular-socialista aderiu à campanha de Luiz Marinho), quando inclusive eu enfrentava o mesmo adversário dele hoje. A coisa tem de ser tratada com grandeza. A política tem de ser feita olhando para frente.

DIÁRIO - Alex Manente afirmou, no decorrer da campanha, que o procuraria para tentar essa declaração de apoio antecipadamente. Essa conversa aconteceu?

MORANDO - Em nenhum momento. Inclusive estou fazendo essa declaração sem comunicá-lo da minha posição. Até porque acho que não preciso disso, estou cumprindo um dever como militante de um partido que está coligado com a candidatura dele.

DIÁRIO - Apesar de ser a favor da candidatura própria em São Bernardo, foi contra em outras cidades...

MORANDO - Não podemos tratar os desiguais de maneira igual. O PSDB errou violentamente em Santo André, por exemplo. Poderia ter tido candidatura própria, aniquilou um baita quadro (Paulinho Serra, que saiu da sigla e ingressou no PSD). E nós estamos colhendo isso agora. Tudo indica que a chapa apoiada pelo PSDB (com Raimundo Salles, do PDT, na cabeça) não vai ao segundo turno e termine um processo menor do que entrou. Se tivesse se posicionado de maneira diferente poderia disputar o segundo turno e aumentar o número de vereadores. Não foi feito. Em Diadema, nunca me opus à candidatura do PSDB. Diferente de Mauá, onde o partido deveria ter feito aliança com Vanessa Damo (PMDB). Defendi isso lá atrás. Espero que essa aliança seja feita agora no segundo turno. Em Ribeirão Pires, foi decisão local do partido em não ter candidatura. Respeitei. Rio Grande da Serra não há o que se falar, nosso candidato é o Gabriel Maranhão, em que tenho plena convicção em sua vitória pela gestão do prefeito Adler Kiko Teixeira (PSDB). Em São Caetano sempre tivemos alinhamento com o PTB e não poderia ter sido diferente (está no arco de apoio da candidata petebista Regina Maura). Acho que poderíamos ter indicado o vice, que neste momento poderia estar fazendo a diferença.

DIÁRIO - O sr. foi criticado por ter participado da convenção do PV em Diadema, que lançou Lauro Michels a prefeito, mesmo o PSDB tendo como candidata ao Paço a Maridite.

MORANDO - São os desocupados que fazem críticas. Eu fui à convenção do Lauro, da mesma forma que o Serra foi à convenção do PTB em São Paulo. E nem por isso o PTB está nos apoiando (na Capital). Prestigiar convenção partidária, em que você tem aliados e amigos... ninguém me viu fazendo campanha para o Lauro Michels neste primeiro turno, por respeitar meu partido, como não fiz para Vanessa Damo, mesmo achando que teríamos de dar apoio a ela. Mantive a coerência.

DIÁRIO - Como o sr. avalia esses quase quatro anos da gestão Marinho?

MORANDO - Houve muitas falhas, num governo que teve dificuldade de interagir com a sociedade. Agora, a população fará seu julgamento domingo. Qualquer comentário meu pode parecer uma coisa eleitoreira. É inegável que teve algumas realizações, mas especialmente na área da Educação o modelo adotado, pelo que eu ouço, é reprovável. Na Saúde também escuto muitas reclamações, mas não é algo só de São Bernardo, é problema nacional.

DIÁRIO - E qual a análise da candidatura de Ademir Silvestre, do PSC, o qual já foi seu aliado em administrações anteriores?

MORANDO - Tenho muitos amigos que disputam a eleição na chapa dele, respeito a todos, infelizmente, por uma missão partidária, não pude apoiá-lo, não o apoiei, mas é uma pessoa que estimo muito, muito correta, leal, grande companheiro, com posições muito claras. Também é candidato de oposição à atual administração. Mas não podemos votar em duas pessoas, por isso irei votar no candidato da nossa coligação. Mas tenho profundo respeito por ele, pelo seu partido.

DIÁRIO - E seu futuro político?

MORANDO - Política a gente não faz do ponto de vista pessoal. Mas por meu próprio grupo e meu arranjo no Grande ABC, onde tive 107 mil votos na última eleição (em 2010), vou continuar, tentar mais uma vez mandato de deputado estadual (em 2014). É um passo de cada vez, esperar o processo de 2014, trabalhar muito pela reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Considerando que o Serra não será candidato à Presidência da República, concluirá o mandato como prefeito de São Paulo, o PSDB escolherá um bom candidato a presidente para buscar novos horizontes ao Brasil.

DIÁRIO - E as eleições municipais de 2016, já passam por sua cabeça?

MORANDO - Cada coisa no seu tempo, passo a passo. Prioridade agora é pensar nas prioridades do Grande ABC (como deputado), questão do Metrô, implementar de fato a Lei Específica da Billings, questão viária, estou preocupado com o Trecho Leste do Rodoanel, acabando a eleição vou me debruçar na fiscalização dessa obra, enfim, temos grandes desafios.




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