Turismo Titulo Arquitetura
Perfume francês
Por Eliane de Souza
Do Diário do Grande ABC
27/09/2012 | 07:20
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Questionado sobre qual lugar no Brasil o fazia se sentir na França, o padeiro Olivier Anquier elegeu Belém do Pará. O mais brasileiro dos franceses lembrou-se da cidade que até hoje deixa na arquitetura lembranças dos tempos em que era considerada a Paris da América, graças à fase áurea da extração de borracha em meados do século 19.

O Ciclo da Borracha foi um momento econômico na história do Brasil relacionado com a extração e comercialização do látex da região amazônica. O período proporcionou grande expansão da colonização, atraiu riqueza e causou transformações culturais e sociais, além de dar grande impulso a Belém, ao lado das cidades de Manaus e Porto Velho. O ciclo atingiu seu auge de 1879 a 1912, tendo depois experimentado sobrevida entre 1942 e 1945, durante a 2ª Guerra Mundial.

Belém era na época considerada a cidade brasileira mais desenvolvida e uma das mais prósperas do mundo. Não só por estar situada quase no litoral, como também porque sediava um maior número de residências de seringalistas e casas bancárias. A capital contava com tecnologias que outras cidades do Sul e Sudeste do Brasil ainda não possuíam, como bondes elétricos, avenidas construídas sobre pântanos aterrados, além de edifícios imponentes e luxuosos, como o requintado Mercado de São Brás, o Mercado Francisco Bolonha, o Teatro da Paz, o Palácio Antônio Lemos, corredores de mangueiras e diversos palacetes residenciais.

O Cinema Olympia - a mais antiga casa de exibição de filmes de Belém, considerada uma das mais luxuosas e modernas de seu tempo - foi inaugurado em 21 de abril de 1912 no auge do cinema mudo internacional. Outro grande local de destaque era o Theatro da Paz, local de reunião da elite de Belém que ignorava o clima tropical úmido para se vestir elegantemente à moda parisiense para assistir a espetáculos grandiosos. O modo de viver dos europeus se fez presente tanto nos costumes quanto nas construções.

Mas a borracha natural da Amazônia passou a ter preço muito alto no mercado mundial, tendo como reflexo imediato a estagnação da economia regional. A crise da borracha tornou-se ainda maior porque a falta de visão empresarial e governamental resultou na ausência de alternativas que possibilitassem o desenvolvimento de Belém, tendo como primeira consequência a estagnação também da cidade.

Ainda hoje é possível visitar o Theatro da Paz, que foi construído inspirado no Teatro Scala, de Milão, na Itália. Na decoração há materiais e objetos trazidos da Europa, como o lustre e as estátuas de bronze francesas, o piso português e a escadaria de mármore italiano. As visitas guiadas ocorrem a cada hora, das 9h às 17h de terça a sexta-feira e das 9h ao meio-dia aos sábados.

A loja de tecidos Paris N'america é mais uma mostra arquitetônica do período da Belle Époque amazônica. Fundado em 1870 e localizado na Rua Santo Antônio, no centro comercial, o local já foi ponto de encontro da sociedade paraense. O piso, o lustre, as colunas da loja e a sofisticação do corrimão de ferro da escadaria central chamam a atenção. Mas o entorno do prédio é tomado hoje por lojas de comércio popular. Em meio a tantas bancas de camelôs, notar a arquitetura da fachada exige maior esforço.

 

 

 




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