Economia Titulo Alternativa
Consórcio de veículos se destaca com alta dos juros

Em cenário de forte restrição ao crédito, sistema amplia participantes em 10%

Leone Farias
do Diário do Grande ABC
22/06/2014 | 07:07
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André Henriques/DGABC


Restrições crescentes dos bancos para aprovação de financiamentos e taxas de juros em alta estão estimulando a busca dos consumidores por modalidade alternativa de aquisição de veículos: o consórcio. Em maio, o número de participantes que aderiram a essa sistemática de compra já era 10% maior do que o total de clientes ativos no setor no mesmo mês de 2013. Atualmente, são 5,17 milhões de participantes, de acordo com dados da Abac (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcio).

Os números da associação mostram ainda que as contemplações de veículos cresceram 13%, com aumento de 14,7% nos créditos disponibilizados. Isso em um momento em que as vendas do setor automotivo se reduziram 5,5% de janeiro a maio, na comparação com igual período de 2013.

Uma das categorias que mais expandiram foi a área de veículos leves, que superou em número de consorciados o segmento de motocicletas, pela primeira vez, depois de 16 anos. No primeiro caso, passaram a ser 2,49 milhões de clientes, 21,5% mais que um ano antes. No segundo, agora são 2,45 milhões, alta de 1,2%.

O sistema possui diversas vantagens em relação à compra financiada: não tem juros e sim taxa de administração; permite a aquisição com parcelas reduzidas e prazos longos, e dispensa a necessidade de se dar entrada.

Hoje o prazo médio do financiamento é de 41 meses e é necessário dar mais de 40% de entrada. Simulação mostra que, em modelo ideal, mais facilitado para quem não tem recursos guardados, o CDC (Crédito Direto ao Consumidor) sem entrada e com 60 meses de parcelas, fica bem mais caro. Nessas condições, para veículo de R$ 30 mil, a diferença entre o gasto com juros da compra a crédito e a despesa com a taxa de administração, na aquisição do consórcio, é de R$ 13.290 (veja quadro ao lado).

No entanto, o modelo tem característica diferente do financiamento – em que a pessoa pode ter acesso rápido ao bem adquirido –, já que é para quem quer se planejar para ter o veículo no futuro. “É para quem tem perfil de poupador, que pensa no médio e longo prazos e não precisa do bem de imediato”, destaca o presidente da Abac, Paulo Roberto Rossi. Para ele, as dificuldades para obtenção de crédito, neste ano, não explicam sozinhas a ascensão da modalidade. Há um conjunto de circunstâncias somadas. “Existe uma mudança de postura do consumidor”, diz. Após fortes incentivos à compra financiada, nos últimos anos, em que cresceu o endividamento e a inadimplência, as pessoas estariam pondo mais na balança a opção de fazer aquisições por impulso e dando preferência a se planejar, adiando a troca do carro.

Além disso, o consorciado, ao ser contemplado, pode ir nas lojas de automóveis, com “o poder da compra à vista, de barganhar no mercado”, cita o dirigente. Outra vantagem é a possibilidade de utilizar parte do valor para despesas de IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores), despachantes e seguro.

Modalidade funciona como poupança

Para o empresário A.M. (ele preferiu não ter seu nome divulgado, por questões de segurança), de São Bernardo, adquirir cota de consórcio foi uma boa maneira de realizar o sonho de comprar o carro para a filha. Há quatro anos, ela tinha 17 e, por isso, não havia pressa e a modalidade foi vista como forma de fazer espécie de poupança programada, em que ele poderia aplicar mensalmente valor pequeno e planejar com calma a aquisição do veículo.

“Se você não faz isso, não consegue guardar dinheiro para comprar um carro”, disse. A cota adquirida foi para crédito de R$ 30 mil, com plano de 60 meses, com parcelas em torno de R$ 400. “Não pesa muito”, acrescentou. Agora, faltando poucos meses para a quitação, ele deu um lance e obteve o carro. A modalidade agradou tanto que já pensa em repetir a dose para outra filha, que hoje tem 18 anos.

Para o presidente da Abac (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcio), Paulo Roberto Rossi, a difusão da educação financeira contribui para estimular a procura pela sistemática. E orienta: “Para fazer frente ao cenário de créditos mais caros, a recomendação é que o consumidor dedique mais tempo a seu orçamento doméstico e fique mais seletivo para assumir novos compromissos financeiros”.

Empresas do setor alongam prazos e ampliam limites

Ao mesmo tempo em que o consumidor está mudando sua postura, se tornando mais cauteloso ao entrar em financiamentos e buscando os consórcios, as empresas do segmento também têm feito ajustes para atender melhor os clientes, aponta o presidente da Abac (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcio), Paulo Roberto Rossi.

Uma dessas mudanças é o alongamento dos prazos. A gerente de consórcio da Porto Seguro, Luciene Alencar, cita que, há cerca de três anos, a empresa passou a oferecer planos de 80 meses. “Antes tínhamos de 50 e 60 meses. Com 80 meses, porém, a parcela fica menor, e o cliente também pode ter valor maior de crédito”, cita.

A companhia tem grupos de 50 meses, com créditos de R$ 15 mil a R$ 30 mil; de 80 meses, com valores de R$ 25 mil a R$ 50 mil; e de 72 meses, com R$ 50 mil a R$ 100 mil. Luciene destaca que o forte da Porto Seguro é o mercado de veículos leves, que tem tido bastante procura, entre outros fatores, pela restrição do crédito bancário. “As pessoas têm buscado alternativas e há produtos para vários tipos de público”. Hoje, a empresa tem 37 mil clientes ativos e é a 10ª do ranking do setor, com 1,5% de participação no segmento automotivo.

Outra empresa do ramo, a Caixa Consórcios também tem feito mudanças no perfil dos produtos. No segundo semestre de 2013, lançou plano com faixa de crédito de até R$ 150 mil – o limite anterior era R$ 80 mil –, além de aumentar a capacidade dos grupos de 350 para 1.000 consorciados. Tradicional no segmento imobiliário, a instituição tem se fortalecido na área automotiva. Ainda detém apenas 1% de fatia das vendas de consórcios de veículos, mas teve alta de 42,8% de janeiro a maio deste ano em relação ao mesmo período de 2013. 




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