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'Morra, Smoochy' é sátira imprópria para baixinhos
Por Danilo Angrimani
Do Diário do Grande ABC
19/01/2003 | 18:57
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O filme Morra, Smoochy, Morra (Death to Smoochy, EUA, 2002) chega ao Brasil, em vídeo e DVD, sem ter passado pelas salas de cinema. Ocorre que as salas estão tão abarrotadas de produções ingênuas, estreladas por bruxos, duendes e outras aparições, que o público adulto se vê obrigado a ficar recluso em casa.

Morra, Smoochy se revela uma boa comédia made in Danny DeVito, que dirige a produção e ainda aparece numa ponta. Quem se lembra de Atire Mamãe do Trem, percebe que esse novo trabalho do diretor segue a mesma linha satírica, tão ao gosto de DeVito.

A fita, com roteiro escrito por Adam Resnick, discute os programas infantis de TV. Começa com o corrupto apresentador Rainbow Randolph Smiley (Robin Williams) pilhado em flagrante pelo FBI depois de cobrar propina de um casal para dar destaque ao filho deles no programa. Sem Rainbow Randolph, a emissora corre atrás de um substituto. A missão é espinhosa: um é pedófilo, outro tem uma extensa ficha criminal, um terceiro se tornou drogado.

A única solução seria apelar para o neo-hippie Sheldon Mopes (Edward Norton), que divulga produtos naturebas, faz shows em asilos e nunca teve uma passagem pela polícia. A questão é que, apesar de bom moço, Mopes é um chato na pele do personagem Smoochy, o rinoceronte cor-de-rosa que comanda o programa. Desperta tanto interesse quanto um carro popular cinzento no meio do trânsito.

Sem outra opção, a TV decide apostar em Mopes/Smoochy. Ao contrário da mais otimista expectativa dos produtores, o estilo do rinoceronte cor-de-rosa conquista o público infantil. Ele pede aos filhos de pais separados que tenham paciência com os padrastos, mostra a importância para a saúde de se comer legumes e verduras, ensina dançar e respeitar a família. Torna-se um sucesso sem precedentes e bate todos os concorrentes.

A blindagem natural de Smoochy é um obstáculo para os negócios. O rinoceronte não quer saber de vender porcarias para as crianças. Ele se preocupa apenas em fazer um bom programa de TV para a garotada. Resiste a todo assédio. “Não, não vou vender bonequinhos de plástico, nem produtos que façam mal para os dentes das crianças” repete, incansavelmente. Muitos interesses são contrariados. Começa a temporada de caça ao rinoceronte cor-de-rosa.

As interpretações são impecáveis. Edward Norton, o bonzinho de Clube da Luta, continua bonzinho no papel do bicho-grilo Sheldon Mopes/Smoochy. Robin Williams faz as caretas de sempre (e agrada) na pele do desesperado Rainbow Randolph. A direção de DeVito é impecável. Outra boa surpresa é a face sensualmente metálica de Catherine Keener, como Nora, a executiva de TV sem alma.

Para concluir, uma reflexão oportunista: por que será que Xuxa, a Rainha dos Baixinhos, nunca pensou em fazer um filme parecido?




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