Política Titulo Entrevista
Paulo Eugenio não se
arrepende de manobra

Fora da chapa, vice abraça discurso pela reconstrução da
unidade do partido e coordenará campanha do PT em Mauá

Mark Ribeiro
do Diário do Grande ABC
06/06/2012 | 07:00
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Preterido da chapa do PT à Prefeitura de Mauá, o vice-prefeito e secretário de Saúde, Paulo Eugenio Pereira Júnior, abraça o discurso pela reconstrução da unidade do partido e será o coordenador da campanha de Donisete Braga e Hélcio Silva ao Paço - para tanto, deixará a Pasta. Ao lado do deputado estadual, ele liderou manobra contra a tentativa de reeleição do prefeito Oswaldo Dias, e afirma não se arrepender. "O prefeito querer tirar o vice é estratégia. Agora, querer tirar o prefeito é golpe?", contesta, remetendo a período anterior ao movimento, quando Oswaldo passou a defender que seu vice fosse Irmão Ozelito (PTB). Como troco à "tentativa de golpe", o chefe do Executivo passou a ter como questão de honra tirar Paulo Eugenio da disputa, o que conseguiu fora de Mauá, em articulação com o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, e o presidente estadual do PT, Edinho Silva, responsável por anunciar a chapa com Donisete e Hélcio. A composição será aclamada hoje, às 19h, em encontro do petismo local no Clube Independente. Paulo Eugenio garante que todo o seu grupo apoiará a decisão. Ele nega que a sua retirada da chapa tenha atendido a ordem, e não a pedido, de Marinho e Edinho. "Primeiro que eles não mandam em Mauá. Foi reflexão pela unidade." O vice expõe o desejo de ser prefeito, plano adiado, segundo ele, por oito anos.

DIÁRIO - Como o senhor avalia os fatos recentes do PT?

PAULO EUGENIO - Encaro como naturais. O PT não tem dono. Meu voto vale um voto, o do prefeito vale um voto e a militância tem o poder de decisão. Fizemos reflexão, indicamos o Donisete e continuamos o debate para o vice. Embora tenhamos a maioria dos delegados, para dar unidade ao partido e organizar a campanha, achei melhor me retirar. Estamos apoiando a indicação do Hélcio para vice.

 

DIÁRIO - Como se retirou da disputa pela reeleição, conversando com quem?

PAULO EUGENIO - Conversei com muita gente, mas a decisão veio quando conversei com o meu grupo. Havia pedidos do Marinho, do Edinho, conversei com o Rui Falcão (presidente nacional do PT), mas a decisão foi tomada com o meu grupo. Não adiantava ter a maioria interna e derrotar o Hélcio. Haveria riscos de ir para a estadual, a nacional, e acabar favorecendo adversários.

 

DIÁRIO - A retirada foi um pedido ou uma ordem do Marinho e do Edinho?

PAULO EUGENIO - Primeiro que eles não mandam em Mauá, não têm poder de voto. Era um pedido de fazer esta reflexão pela unidade no PT.

 

DIÁRIO - Fica a sensação de ser demovido duas vezes do processo?

PAULO EUGENIO - Nosso grupo, em 2008, teve papel fundamental para definir o candidato a prefeito e agora, novamente. Acertamos em 2008, tanto é que ganhamos a eleição, e acertamos de novo, com o Donisete, porque vamos ganhar novamente. Ser candidato ou não, não é o que me move. O que me move é transformar a vida das pessoas. Tive experiência boa na Saúde e fico satisfeito porque atingi isso. Não encaro que foram duas derrotas porque nos últimos 15 dias acabamos dando o tom da política de Mauá.

 

DIÁRIO - Com Oswaldo no lugar do Donisete as chances de vitória seriam menores?

PAULO EUGENIO - O PT tem 30% do eleitorado de Mauá independentemente do candidato. Tem de avançar nos outros 21% (para ganhar a eleição) com as ações do governo. Se a gestão estiver mal avaliada e a população quiser mudança, é muito difícil vencer. Com o governo bem avaliado, se conquista os eleitores que faltam.

 

DIÁRIO - Reconhece que o governo está mal avaliado?

PAULO EUGENIO - Podemos dizer que as outras gestões do Oswaldo foram mais bem avaliadas, mas mesmo esta, se somar ótimo, bom e regular, tem aprovação.

 

DIÁRIO - Não conversa com o Oswaldo há quanto tempo?

PAULO EUGENIO - Estou esperando passar os cinco minutos de raiva dele (risos). Quarta-feira (hoje) estaremos juntos. Temos o perfil de conversarmos pouco. O Oswaldo dá as diretrizes do governo e autonomia para o secretário agir.

 

DIÁRIO - A chateação do Oswaldo vem do que ele chama de tentativa de golpe. Como o senhor avalia?

PAULO EUGENIO - O prefeito querer trocar o vice é estratégia. Agora querer trocar o candidato a prefeito é golpe? Não acho assim. A avaliação foi política, nada pessoal. Foi de acordo com o sentimento da cidade.

 

DIÁRIO - O seu grupo está fechado em apoiar o Hélcio ou ainda há resistência?

PAULO EUGENIO - Meu grupo vai apoiar a chapa do PT. Quando decidi me retirar para o Oswaldo indicar o vice, não teve veto a nenhum nome. Para nós o Hélcio é bom. Ele também discute política com a gente, foi meu chefe de Gabinete na Câmara, coordenou minha campanha de deputado estadual (em 2006) e a indicação dele para a Secretaria de Obras partiu do meu grupo. A indicação dele fortalece a chapa e ajudará na vitória.

 

DIÁRIO - O Donisete está fora do governo de Mauá. Como se explica a melhor avaliação dele à de Oswaldo?

PAULO EUGENIO - O Oswaldo é prefeito em terceiro mandato. É natural que tenha desgaste e que as pessoas não tenham tanta expectativa porque há sentimento de renovação. O Donisete é jovem, está no quarto mandato de deputado, e, portanto, tem também experiência. Ele vem com gás novo, vontade de fazer, o que está dentro do que a população está pedindo.

 

DIÁRIO - Fica mágoa?

PAULO EUGENIO - Estou satisfeito de poder colaborar com a história não só do partido, mas da cidade. Não me arrependo de nada.

 

DIÁRIO - E o futuro?

PAULO EUGENIO - Vou coordenar a campanha, seremos vitoriosos e vou contribuir para o mandato. Deixo a Saúde assim que a campanha exigir, acho que semana que vem. No próximo mandato certamente estarei à frente de alguma secretaria.

 

DIÁRIO - A aprovação à chapa Donisete/Hélcio amanhã (hoje) será unânime?

PAULO EUGENIO - Costumo dizer que o PT é igual briga de irmão. Briga dentro de casa, mas na rua não deixa um falar mal do outro. Amanhã (hoje) estará todo mundo junto para brigar na rua. Nosso adversário não está dentro do PT, está fora.

 

DIÁRIO - O Oswaldo estará no palanque?

PAULO EUGENIO - Sim.

 

DIÁRIO - Não corre o risco de levar o desgaste dele para o Donisete?

PAULO EUGENIO - Não. Vamos trazer a experiência dele. O Donisete não é continuidade. O Oswaldo seria. O Donisete herda o legado de três governos do PT com proposta de mudança.

 

DIÁRIO - Qual será o impacto das últimas articulações no PT para a eleição?

PAULO EUGENIO - Acho que será positivo. O PT virou o centro das atenções. As pessoas ficaram na expectativa de saber quem seriam os candidatos (a prefeito e vice). No boteco, na padaria, só se fala sobre o PT. E os adversários ficaram paralisados. Vão ter de refazer a estratégia porque o jogo mudou. O tabuleiro estava armado e nós o chutamos e colocamos as peças. Todo mundo sai do zero. O PT sai na frente porque tem eleitor fiel, é o partido mais organizado da cidade e tem candidato preparado para ser prefeito.

 

DIÁRIO - O senhor disputará outra eleição em Mauá?

PAULO EUGENIO - Venho me preparando para ser prefeito. Mas as condições têm de ser sempre reavaliadas. Esse plano seria para daqui há oito anos.

 

DIÁRIO - O Hélcio afirma que, caso abra vaga na Câmara dos Deputados, avaliará a possibilidade de assumir mandato em Brasília em 2013 mesmo sendo eleito vice-prefeito. Qual a sua opinião?

PAULO EUGENIO - Critiquei o Hélcio quando ele pôde assumir e não assumiu (em 2001). E continuo achando que, se tiver a oportunidade, deve ir para Brasília. O Donisete quer ter escritório em Brasília para captar recursos. E se Mauá tiver um deputado federal facilitaria este processo.

 

DIÁRIO - Mas aí não desvaloriza toda a discussão sobre a chapa do PT?

PAULO EUGENIO - Acho que a cidade prefere ter um deputado federal a um vice-prefeito.

 

DIÁRIO - Então o caminho fica aberto para o senhor concorrer a vice daqui quatro anos?

PAULO EUGENIO - Candidato a vice não serei mais. Só a prefeito.




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