Setecidades Titulo
Dublê de palhaço e pastor, Bozo faz culto em São Caetano
Por Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
09/10/2005 | 08:24
Compartilhar notícia


“Que peninha! ”. Quem faz parte do time dos saudosistas precoces dos anos 80 e ignorou a faixa que anunciava a presença do palhaço Bozo na festa em homenagem às crianças da Igreja Batista da Vila Barcelona, sábado, em São Caetano, perdeu a oportunidade de ver de perto um dos maiores ícones daquela época. Em carne, osso, roupa espalhafatosa e peruca vermelha, Bozo, ou melhor, o pastor Arlindo Barreto, 53 anos, pregou para 150 pessoas em um culto que misturava palhaçadas conhecidas da TV e mensagens religiosas.

A maioria dos presentes presentes eram crianças que nem sonhavam em nascer quando Barreto, sob a alcunha de Bozo, e outros quatro atores apresentavam um dos programas mais populares no horário infantil da emissora de Silvio Santos. “Sou um pastor de crianças mesmo. Muitos dos papais faziam parte do meu público”, aposta Barreto. E os pequenos respondem com muita satisfação. Reunidas sob o púlpito, gritavam e respondiam a cada comando do palhaço, que apresentava seu testemunho, sem esconder a fase da depressão e o mergulho no vício da cocaína. E dá-lhe balões, corações e flores de papel coloridas, revelados assim que a Bíblia era aberta.

A faceta religiosa do Bozo não é coisa nova. “Em 1986, sofri um acidente muito grave. Um pastor veio me ver e foi aí que me converti. Mas tentei ser católico, tentei ir à macumba”, conta. Para pregar, Barreto utiliza truques e frases de palhaçada, usando como referência a própria trajetória, marcada pelo vício da cocaína. “Por trás da máscara de alegria havia apenas uma grande dor”, conta o baiano de Ilhéus.

Os adultos que estavam na igreja estão sempre nos cultos, mas Barreto não enxerga isso como efeito meramente nostálgico. “Isso é falta de opção, pois hoje não há coisa melhor”, acredita Barreto. Ele viaja por outros Estados, pela América Latina e já fez culto até no Japão, onde vende CDs do Bozo nesse culto.

A surpresa fica por conta do final. Com voz livre de afetações, começa a se despir, literalmente, da fantasia: retira a peruca vermelha e revela uma careca ao estilo Bozo, diferente apenas por conta da cor do cabelo. Retira o nariz vermelho, o babado que envolve o pescoço e, com demaquilante, passa a retirar a pesada massa branca que cobre o rosto. Revelava-se o homem por trás do palhaço, objetivo primeiro de Barreto.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;