Setecidades Titulo Trânsito
Proibir caminhões
não resolverá caos

Especialistas avaliam que restrição nas principais vias da
região a partir de dezembro pode gerar mais complicação

Por Angela Martins
Do Diário do Grande ABC
09/11/2011 | 07:00
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A restrição de caminhões nas principais vias da região a partir de dezembro não deve reduzir o caos no trânsito, segundo avaliação de especialistas. Para o professor de Engenharia Civil da FEI e mestre em Transportes Creso de Franco Peixoto, a alto número de veículos impede que o objetivo da medida proposta pelo Consórcio Intermunicipal do Grande ABC seja alcançado. Conforme o último levantamento do Departamento Nacional de Trânsito, realizado em setembro, a região possui 1.413.085 veículos. Destes, 1.065.983 são compostos por veículos leves e 71.951 são pesados.

"Em tese, a retirada de caminhões nos horários de pico abriria mais espaço nas vias, mas o Grande ABC possui altíssima demanda de veículos de passeio. O resultado é que as avenidas continuarão congestionadas e não haverá ganho significativo de velocidade", explica. Outro problema apontado por Peixoto é o aumento da poluição e saturação das vias alternativas, que serão ocupadas pelos caminhões nos horários da restrição, das 6h30 às 9h e das 16h às 20h.

Segundo o consultor em Engenharia de Tráfego e Transporte Horácio Figueira, restrições de caminhões podem piorar o trânsito na região. "Apenas a retirada de grandes veículos de carga, como as carretas, alivia o congestionamento. Geralmente, as empresas vão substituir caminhões por até sete veículos de carga menores, o que só aumenta o trânsito e a poluição. Essa é uma medida inócua, só irá complicar ainda mais a situação."

As rotas alternativas, geralmente mais estreitas do que as vias principais, sofreriam com o excesso de veículos pesados. "Como o espaço é menor, a dispersão de poluentes fica mais restrita. O trânsito nesses locais também deve ficar mais intenso, o que apenas transfere o problema para outro local." Sobre a possível utilização de vias como estacionamento dos caminhões durante os horários de restrição, o presidente do Consórcio e prefeito de Diadema, Mário Reali (PT), afirma que ainda não há solução prevista. "A gente precisa primeiro resolver os problemas que temos. Os que serão criados a partir das soluções adotadas, vamos começar a resolver daqui para frente."

Segundo o professor Creso Peixoto, somente a finalização do traçado do Rodoanel e a construção do Ferroanel podem, de fato, aliviar o trânsito na região. "Também é preciso pensar em pontos de distribuição de carga ao longo do trajeto do Rodoanel, para que os caminhões não precisem entrar nas cidades", conclui. SC900,115 

Consumidor vai pagar pelo frete mais caro, diz sindicato

Para o vice-presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do ABC, Tiojium Metalino, a decisão irá onerar o frete, custo que será repassado para o consumidor. "Estamos preocupados porque a bomba sempre sobra para o setor de transporte. Isso trará muito prejuízo para as empresas, que terão de pagar horas extras para os motoristas e manter um caminhão parado por algumas horas", reclama.

A opinião é compartilhada pelos integrantes da Associação Comercial e Industrial de São Bernardo. Segundo o vice-presidente da entidade, Valter Moura Júnior, a medida precisa ser revista. "Queremos discutir melhor essa proposta para chegar a denominador comum. O problema do trânsito é grave e precisamos encontrar alternativas, mas a restrição trará prejuízos. Somente essa proibição não resolve nada, é preciso estudo mais aprofundado e planejamento urbano sério."

Na Associação Comercial e Industrial de Santo André o clima também é de preocupação quanto aos prejuízos que a medida vai trazer para o setor de transporte, mas não há intenção de questionar a decisão dos prefeitos. 
Já a diretoria de Santo André do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, que inclui Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, fará pesquisa junto aos associados para avaliar a dimensão das implicações que a restrição trará às indústrias. "Ainda não houve tempo de mensurar os problemas, mas sabemos que um dos setores mais afetados é o automotivo", declara o presidente da unidade do Ciesp, Emanuel Teixeira.

AVALIAÇÃO POSITIVA

Apesar da chiadeira geral, há representantes do setor de transportes que avaliam a proposta como positiva. Para o gerente de logística da transportadora Codex-TDL, de Santo André, Antônio Carlos Vaz, a restrição é viável e deve ajudar a diminuir o tráfego. "Caso essa decisão não fosse tomada, estaríamos à beira de um colapso do trânsito. No entanto, essa é uma medida paliativa. São necessárias medidas inteligentes, rotas alternativas e melhoria nas avenidas."

Proposta restringe circulação em 40 quilômetros de vias

Parte de um conjunto de propostas apresentadas pelo Consórcio Intermunicipal, as proibições atingirão quase 40 quilômetros de corredores, divididos em 20 avenidas. As restrições serão aplicadas nos horários de pico em três eixos prioritários.

O primeiro representa a ligação entre Ribeirão Pires e São Caetano e engloba as avenidas Humberto de Campos, Capitão João, Perimetral, Dom Pedro II e Goiás, entre outras. O segundo eixo, que liga Santo André a Diadema, contempla as avenidas Fábio Eduardo Ramos Esquível. Piraporinha, Lucas Nogueira Garcez e Pereira Barreto. O último corredor liga São Bernardo a São Caetano e é composto pelas avenidas Lauro Gomes, Dr. Rudge Ramos, Taboão e Guido Aliberti, além da Estrada das Lágrimas.

Mesmo com a nova regra entrando em vigor em dezembro, os motoristas infratores só começarão a ser autuados a partir de fevereiro. Nesse período, serão feitas campanhas de divulgação e orientação aos caminhoneiros. Atualmente, Diadema proíbe a circulação de caminhões no Centro e no bairro Eldorado.

CORREDOR ABD E ANCHIETA

Outra medida anunciada pelo Consórcio é a de liberar o corredor ABD - utilizado pelos trólebus - para a circulação de veículos convencionais em caso de emergências. A entidade deve enviar ofício para a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos - que gerencia a pista exclusiva - para falar sobre a proposta e discutir a viabilidade. De acordo com a EMTU, até o fechamento desta edição a empresa não havia sido informada sobre o assunto e não havia como fazer qualquer pronunciamento.

A entidade também pretende negociar com a concessionária Ecovias a execução de operações para melhorar o tráfego nas alças do Km 14, Km 16 e Km 18 da Anchieta. Os trevos funcionam como acesso para os bairros Rudge Ramos, Paulicéia e Planalto. A Ecovias somente irá se pronunciar quando houver contato oficial.




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