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Atenção que pode fazer a diferença na vida de quem precisa de afeto

Entidade de Santo André busca padrinhos para compensar falta de convívio familiar de crianças e adolescentes

Juliana Stern
Especial para o Diário
05/08/2018 | 07:00
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Ajudar uma criança carente nem sempre significa doar ou comprar roupas, brinquedos ou qualquer outra ação que envolva dinheiro. Às vezes, apenas uma hora de atenção pode fazer muito mais por ela. O programa Apadrinhamento Afetivo do Ficar de Bem Crami (Centro Regional de Atenção aos Maus-Tratos na Infância do Grande ABC), parte da necessidade de afeto que crianças e adolescentes em situação de acolhimento e vítimas de violência precisam. Assim, busca voluntários da região para agir como padrinhos, de modo a criar laços que compensem a falta de convívio familiar. A primeira fase do projeto resultou em nove duplas de padrinhos e afilhados.

A servidora pública Janaína Botini, 34 anos, conheceu seu afilhado João (nome fictício), 15, há quase dois meses e, apesar do pouco tempo de convivência, já nota mudanças significativas nele. “Quando o conheci, parecia um coelhinho assustado e logo vi que não tinha muito senso de individualidade. Ele fazia o que todo mundo fazia, queria o que todos queriam. Não passava por sua cabeça que a vontade dele também era válida”, conta Janaína, ao lembrar que João mora em uma casa de abrigo com mais 19 ‘irmãos e irmãs’.

“Hoje ele faz as coisas sem depender muito dos outros, está descobrindo sua personalidade apenas por que alguém se interessa de verdade”, avalia a técnica social do Ficar de Bem Lorenna Marques, que também acompanha as crianças abrigadas.

Já a cabeleireira Idonê Cruz Ferreira, 43, encontrou mais desafios. Sua afilhada Maria (nome fictício), 12, residente da mesma casa de abrigo que João, está no sistema desde os 5 anos e é considerada uma criança com necessidades especiais, apesar de não saberem seu diagnóstico. “Ela demanda mais paciência e, às vezes, me faz pensar: ‘Meu Deus, o que fui inventar?’ Mas é muito gratificante saber que agora ela tem alguém”, diz Idonê.

Para a coordenadora do Crami Cinthia Castropil, essa atenção focada em apenas uma criança desenvolve a autoestima e senso de indivíduo, o que muitas vezes se perdem em abrigados já há bastante tempo. “Quando elas (crianças) percebem que têm alguém ali por elas, e só por isso, a autoestima sobe muito, ficam bem mais confiantes, sentem que tem alguém prestando atenção e querem ser cada vez melhores”, avalia.

PRÓXIMA FASE
O Ficar de Bem abrirá segundo ciclo de formação de padrinhos neste mês. Palestras para quem tiver interesse em se tornar um padrinho ou madrinha acontecerão nos dias 8, às 19h, e 11, às 14h, na sede do Ficar de Bem, no Jardim Bela Vista, em Santo André. Aqueles que quiserem participar devem se inscrever pelo e-mail apadrinhamentoafetivo@ficardebem.org.br.

O Apadrinhamento Afetivo, lançado em janeiro, beneficia crianças a partir dos 10 anos, abrigados em casas de acolhimento com possibilidades remotas de adoção e quase nenhuma perspectiva de retorno ao convívio familiar. O objetivo principal é dar autonomia e fortalecer essas pessoas para a vida adulta. Por enquanto, a iniciativa abrange apenas o município de Santo André, mas há expectativa de ser expandido.




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