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Jovens usam drogas lícitas mais cedo
Gabriel Batista
Do Diário do Grande ABC
16/09/2005 | 08:05
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Os adolescentes experimentam bebida alcoólica e cigarro cada vez mais cedo. Levantamento do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas), publicado há três meses, revela que 41,2% dos alunos da rede pública dos ensinos fundamental e médio experimentaram bebidas entre os 10 e 12 anos. E 7% deram a primeira tragada com essa idade. A pesquisa foi aplicada nas 27 capitais brasileiras. O psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), afirma que os pais devem monitorar os filhos do fim da infância ao começo da adolescência. "Essa conduta dos pais é essencial para evitar que os filhos tenham problemas futuros com essas drogas."

O psiquiatra da Unifesp, um dos principais especialistas do país no assunto, garante que essas medidas podem ser adotadas sem tirar a liberdade dos adolescentes. "É só colher um pouco de informação." O médico sugere aos pais que reparem no estado em que os filhos chegam em casa; que procurem conhecer os ambientes freqüentados por eles; que estabeleçam diálogo sobre as prioridades dos filhos na vida; e que conheçam os amigos deles.

Os pais não devem de modo algum oferecer bebida aos filhos ou permitir que bebam, porque essa atitude é encarada pelos adolescentes como legitimação do ato de beber. O psiquiatra diz que é altamente prejudicial para uma pessoa experimentar essas substâncias entre os 10 e 12 anos. Ele ressalta que expor o cérebro ao álcool nesse período de modificação orgânica altera a formação do órgão. "Os neurônios se conectam com predisposição a procurar novas substâncias, o que torna o adolescente propenso a usar outras drogas em alguns anos."

Com o uso do álcool e do tabaco, o adolescente fica mais desmotivado e irritado. No início, o maior impacto é comportamental. Os danos biológicos ocorrem a médio prazo. Geralmente, os jovens propensos a utilizar drogas lícitas têm baixo rendimento escolar. São casos em que os pais perdem o controle, deixam enfraquecer os valores familiares diante da oferta de consumo.

O psiquiatra e pesquisador do Cebrid, José Carlos Galduroz, afirma que quanto mais precocemente a pessoa experimentar o álcool e o tabaco, mais dificuldades terá para se livrar da dependência. "O álcool prejudica a formação da personalidade da pessoa. Com o abuso, o adolescente se torna limitado, sem grandes ambições e sem prazer nas coisas simples."

O hebiatra Alexandre Arcanjo Ferrari, também da Unifesp, aplicou uma pesquisa sobre uso do álcool em 2 mil alunos de uma escola técnica do Ipiranga, zona Sul de São Paulo. Ele avaliou que 50% de uma mesma turma bebia mensalmente quando entraram no curso. Dois anos e meio depois, o número de alunos que declarou ter consumido bebidas no último mês atingia a casa dos 74%. O índice de estudantes dessa turma que abusava do álcool – consumo de 20 vezes por mês – ou era dependente também aumentou, de 14% para 30% dos que bebiam.

"O aumento se deve à facilidade de acesso ao álcool, apesar de ser proibida a venda para adolescentes nessa faixa etária", diz o pesquisador Alexandre Ferrari. Ele também afirma que as propagandas publicitárias das empresas de bebidas são voltadas para a faixa etária do aluno de ensino médio. "Existe ainda uma grande ausência de campanhas preventivas de longa duração."

O hebiatra aconselha os pais a se perguntarem qual é o padrão que o casal adota no consumo do álcool na frente dos filhos. "Tomar um vinho no fim de semana, na hora do jantar, é uma coisa. Encher a cara na sexta-feira para aliviar a tensão da semana é outra. O padrão adotado pelos pais pode ser um sinal verde sem freio para os filhos." Ele também defende que os pais se interessem pela vida dos filhos e, ao perceber algo estranho, procurem ajuda médica ou psicológica.

Escola – A educadora Oswana Fameli, presidente da Associação das Escolas particulares do Grande ABC, diz que as instituições de ensino têm tratado o tema álcool e outras drogas não só com os alunos, mas principalmente com os pais. A discussão tem o mesmo peso de quando são abordados a sexualidade e a obesidade na infância e na adolescência.

"A escola tem de ser parceira da família e vice-versa. O comprometimento tem de ser recíproco. Quanto mais acesso à informação o adolescente tiver, estará menos propenso a experimentar bebida ou a fumar. Só que os pais também devem estimular a difusão desses conceitos. Trabalhamos o conceito da saúde e do bem-estar físico e mental. E isso é comum em todas as escolas, não só nas particulares, porque há necessidade em mudar essa cultura".

Oswana afirma que a orientação é dada ao aluno e, aos pais, informações de como agir no ambiente doméstico. "É que não adianta eu dizer à criança que cigarro ou o consumo de bebida alcoólica vai prejudicar a saúde dela, se quando chega em casa o pai manda o filho comprar cigarro e cerveja na padaria." (Colaborou Andrea Catão)

Sugestões de como identificar se seu filho usa álcool ou fuma

- Conheça os amigos dele

- Saiba quais são suas prioridades

- Preste atenção no comportamento dele

- Procure saber um pouco sobre os ambientes que ele freqüenta

- Observe o estado em que ele chega em casa

- Preste atenção no cheiro das roupas e exalado na respiração

- Monitore com o que ele gasta dinheiro

- Fique atento ao comportamento dele diante de bebidas e cigarro

Pontos de atendimento médico e tratamento para adolescentes

Faculdade de Medicina do ABC
Unifesp/Uniad (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas). Rua Leandro Dupret, 394. Vila Clementino, São Paulo. Tel.: 5575-1708.

Serviços municipais
Santo André

Naps (Núcleo de Atenção Psico Social). Atendimento e tratamentos de dependência de álcool e drogas (não inclui tabaco). Rua Henrique Porchat, 44. Jardim Bela Vista. Tels.: 4990-5294 / 4992-3668

São Bernardo
Ambulatório de Saúde Mental. Atendimento inicial e encaminhamento para tratamentos médicos de dependência química. Avenida Imperatriz Leopoldina, 649. Bairro Nova Petrópolis. Tels.: 4330-8455 / 4339-4466 (ramal 124). De segunda a sexta-feira, das 7h às 17h.

São Caetano
1) Pronto-Socorro Municipal. Atendimento para desintoxicação do álcool e encaminhamentos. Avenida Vital Brasil, 300. Bairro Oswaldo Cruz. Tel.: 4228-8800.

2) Entra em funcionamento no fim de setembro: Projeto Antitabagismo, no Centro de Saúde. Serão organizados grupos de aconselhamento contra o tabaco. Avenida Roberto Simonsen, 282. Centro. Tel.: 4228-2911.

Diadema
Espaço Fernando Ramos da Silva. Tratamento para dependência alcoólica. Avenida 7 de Setembro, 18. Vila Nova Conceição. De segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Tel.: 4055-1528.

Mauá
A cidade ainda não tem serviço municipal de atendimento a viciados em álcool e cigarro. Está prevista para o fim de setembro a abertura de uma unidade do Caps (Centro de Atenção Psico Social) na cidade. O centro oferecerá atendimentos para usuários de álcool, tabaco e drogas. Vai funcionar na rua Luís Lacava, no Centro. Ainda não tem telefone.

Ribeirão Pires
Caps (Centro de Atenção Psico Social). Tratamento e acompanhamento médico para dependentes. Rua Victoria Ballarini Prisco, 53. Bairro Colônia. De segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Tel.: 4823-2144.

Rio Grande da Serra
Não informado

Grupos de alcoólicos anônimos
Telefone para informações gerais (24 horas) – 3315-9333
www.aaspsp.org.br

Santo André
1) Rua Cel. Alfredo Fláquer, 150, 1º andar, sala 1. Centro.

2) Rua Oratório, 1.620, sala 6. Pq das Nações.

3) Av. Arthur de Queiroz, 976. Bairro Casa Branca.

4) Rua Agulhas Negras, 93. Jd. do Estádio.

5) Av. Dom Pedro I, 3.818, sala 5. Vila Luzita.

São Bernardo
1) Rua Nossa Senhora da Boa Viagem, 559. Bairro Assunção.

2) Rua Cristiano Angeli, 872. Bairro Assunção.

3) Rua Vitória Maria Medice Ramos, 295. Bairro Assunção.

4) Rua Jurubatuba, 1.109, sala 11. Centro.

São Caetano
1) Rua Nelly Pellegrini, 146. Bairro Nova Gerte.

2) Rua Perrela, 326. Centro.

Diadema
1) Av. Alda, 65, 1º andar, sala 9. Centro. Pq. 7 de Setembro.

2) Praça Bom Jesus de Piraporinha, 91, sala 2. Vila Piraporinha.

3) Av. Javari, 635. Jd. Paineiras.

4) Rua Santa Tereza, 25. Bairro Taboão.

Mauá
1) Av. Presidente Castelo Branco, 1.584. Jd. Zaíra.

2) Rua Getúlio Vargas, 182. Praça da Bíblia (fundos)

Ribeirão Pires
Rua Dr. Felício Laurito, 61, sala 4 e 5. Centro.




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