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Grande ABC esquece crise hídrica e mantém consumo alto de água

População de quatro das sete cidades extrapola uso recomendado pela ONU, de 110 litros por dia

Por Vanessa de Oliveira
05/02/2017 | 07:07
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Nario Barbosa


A população do Estado de São Paulo enfrentou, em 2014 e 2015, a pior crise hídrica dos últimos 80 anos, porém, dados sobre o consumo diário de água trazem a percepção de que a preocupação com a escassez do elemento já não faz mais parte dos hábitos rotineiros dos moradores da região. 

O consumo ideal de água preconizado pela ONU (Organização das Nações Unidas) é de, em média, 110 litros por dia por habitante. Mas em quatro cidades do Grande ABC, além de o uso ser maior do que o ideal, aumenta ainda mais no verão. Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires são as únicas exceções, segundo a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). 

De abril a setembro de 2016, a média de consumo em Rio Grande da Serra foi de 88 litros/habitante/dia. Nos meses mais quentes – de outubro a dezembro e janeiro a março – houve acréscimo, mas ainda assim abaixo do que destaca a ONU: 92 litros. Em Ribeirão Pires, o consumo ficou bem perto do limite e passou de 105 litros para 109 litros no verão. 

Especialistas mostram preocupação em relação à maneira como a água vem sendo consumida pela população. “Claro que devem ser observados fatores pontuais e culturais de cada região, mas o valor de 110 litros por habitante por dia é totalmente possível de ser atingido. O consumo per capita de água está longe de ser o ideal”, ressalta a professora do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade Metodista de São Paulo, Viviane Pereira Alves.

“O problema é herança cultural que deriva do mito da abundância de água no Brasil. Ocorre que, com o aumento populacional e com a concentração de pessoas nas cidades, o consumo excessivo ameaça o abastecimento futuro, principalmente nos períodos de seca mais intensos, que certamente ocorrerão devido ao aumento do aquecimento global, problema que atingiu, em 2016, os índices mais elevados da história”, salienta o especialista em Ciências Ambientais e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Campinas, Reinaldo Dias.

CENÁRIO REGIONAL

Em 2016, na cidade de Santo André, nos meses que antecederam a estação mais quente do ano, a média de consumo foi de 148 litros/habitante/dia. Já no verão passado, subiu para 150 litros, segundo informações do Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André). 

Em São Bernardo, de acordo com a Sabesp, a média de consumo de abril a setembro de 2016 foi de 147 litros/habitante/dia, passando para 149 litros considerando os meses mais quentes – outubro a dezembro e janeiro a março. 

Já a população de Diadema não esbanjou tanto no último ano: foram consumidos 133 litros/habitante/dia antes da estação mais quente do ano, e houve surpreendente queda nos meses de outubro a dezembro e janeiro a março, com 131 litros. 

Em São Caetano, o DAE (Departamento de Água e Esgoto) destacou que a média de consumo na cidade entre janeiro e março do ano passado foi de 208,3 litros/habitante/dia. Nos demais meses do ano (com exceção de dezembro, já que os valores ainda não estão consolidados), a média foi de 214 litros. A autarquia explica que o aumento pós-verão justifica-se na troca de hidrômetros antigos, que não marcavam de acordo com o real consumo de água.

Em Mauá, a Sama (Saneamento Básico do Município de Mauá) não forneceu os números da cidade.

Mudança de hábito dos moradores é resultado de trabalho educativo

Especialistas frisam que a mudança de cultura em relação ao uso da água não se faz somente com campanhas. “Tem de haver uma ação contínua de esclarecimento e reorientação, e isso poderá somente ocorrer com a Educação Ambiental tendo função estratégica nas administrações municipais. Somente desse modo teremos cidadãos com mais responsabilidade sobre o uso dos recursos naturais”, fala o especialista em Ciências Ambientais e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie campus Campinas Reinaldo Dias. 

A professora do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade Metodista de São Paulo Viviane Pereira Alves pontua que não existe possibilidade de alteração de hábito se todos os seguimentos – população, poder público, instituições privadas e escolas – não caminharem juntos. “Se não houver mudança comportamental por meio de uma forte campanha, envolvendo Educação Ambiental para toda a população, qualquer esforço será em vão.”

TRABALHO

As companhias de abastecimento de Santo André e de São Caetano ressaltaram a manutenção de campanhas pernanentes relacionadas ao uso consciente da água, trabalho que visa a utilização dos recursos hídricos de forma racional. 




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