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Frango com polenta resiste ao tempo
Danilo Angrimani
Do Diário do Grande ABC
01/01/2004 | 20:39
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Dizem os memorialistas que uma das mais antigas tradições do Grande ABC é levar a família para almoçar na rota do frango com polenta no dia 1º do ano. O Diário foi quinta-feira conferir se esse hábito ainda se mantém e constatou que sim, é verdade, muita gente marca o ponto religiosamente nos amplos e espaçosos restaurantes da avenida Maria Servidei Demarchi, em São Bernardo.

Só que os costumes estão mudando. Agora, as casas lotam mesmo na noite do Réveillon e no dia 1º a freqüência, apesar de ser boa, está longe daquela ferveção do passado.

Os proprietários do restaurante Florestal, Elvio e Angelin Demarchi, lembram que antigamente os estabelecimentos da rota do frango com polenta nem abriam no Réveillon. “O maior movimento era no dia 1º. Na noite de 31, todo mundo ficava em casa, com a família, inclusive a gente”, recorda-se Angelin, o Nini Demarchi.

Essa é também a opinião de Fioravante Morassi, fundador do restaurante São Francisco. Ele diz que hoje o movimento do dia 1º é “light”. “Há uns 10, 15 anos, as pessoas começaram a mudar os hábitos.” Por isso, as três casas da rota – Florestal, São Judas Tadeu e São Francisco – tiveram lotação esgotada na última noite do ano.

Se o movimento do dia 1º não é mais como no passado, dá sempre um alívio saber que do outro lado da Anchieta pode ser encontrado, com muita fartura, aquele frango crocante e suculento, imerso no alho e óleo, cercado por polentas fritas de dar água na boca em anjo da guarda.

Dá alívio porque quem percorresse a região ontem tinha a impressão de ter entrado por engano em um conjunto interminável de cidades fantasmas. Padarias, lanchonetes, mercearias, supermercados, shoppings centers estavam com suas portas inexoravelmente baixadas. Não se encontrava nem um boteco aberto. Tudo, tudo, fechado.

Quando se passava pelo trevo da Anchieta e se chegava na rota do frango com polenta a vista dos restaurantes abertos, com seus estacionamentos quase lotados, parecia um oásis para o faminto.

A diretora de escola aposentada, de Santo André, Vera Luci Cabral, 58 anos, é habituée do Florestal e o comparecimento no 1º dia do ano chega a ser obrigatório. “A gente se sente em casa”, ela explica. Vera estava acompanhada por seis pessoas de sua família. Vera tem uma mesa reservada no restaurante e, por ser uma freqüentadora com 35 anos de história no Florestal, o garçom Cícero Menezes Santana nem pergunta mais o que ela vai querer. “Ele traz direto e até muda o cardápio por conta própria”, ela brinca.

No restaurante São Francisco, os 13 integrantes da família Domingues também cumpriram a tradição do almoço no dia 1º. “A gente comparece aqui pelo menos uma vez por ano”, revela Fernando Domingues, 37 anos, engenheiro mecânico.

Adivinhe o que ele comeu? “Frango com polenta. Eu adoro”, conta Fernando.




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