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Samu omitiu socorro à vítima do frio
Por Adriana Gomes
Do Diário do Grande ABC
07/06/2007 | 07:06
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O homem que morreu na madrugada da última segunda-feira em Mauá foi vítima de omissão de socorro por parte do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) da cidade e do Centro de Recuperação Camilli Flamarion, denuncia um morador do Jardim Mauá que afirma ter presenciado a agonia da suposta vítima de frio.

Mauro Carneiro, 42 anos, a esposa dele e outro morador do bairro não identificado afirmam que telefonaram na noite de domingo pelo menos três vezes para o Samu relatando as condições do morador de rua Mauro Pedroso. Também pediram ajuda pessoalmente na instituição filantrópica. Ambos se omitiram. Segundo Carneiro, a atendente do Samu disse ao telefone que não seria possível mandar socorro porque “todas as ambulâncias estavam à disposição do grande evento que acontecia na cidade (a tradicional festa junina, que no último final de semana teve show do cantor Paulo Ricardo)”.

É comovente a narrativa de Mauro, que sente-se culpado por não ter tomado a iniciativa de levar o indigente ao hospital. Abalado, ele conta que a esposa notou que o homem estava na calçada próxima à casa da família desde o início da tarde de domingo. Por volta das 20h, ela e Mauro se deram conta de que a temperatura caía muito e então resolveram levar para Pedroso uma manta e um par de meias. Aproveitaram para oferecer também uma refeição e café com leite quente.

“Ele demonstrava dificuldade para se comunicar, mas não tinha nenhum cheiro de álcool. Perguntei se teria ingerido pinga e ele negou, afirmando que tomava Gardenal (medicamento psicotrópico). Apresentava uma tremedeira que não parecia só causada pelo frio. Não conseguia segurar o garfo e, mesmo com a nossa ajuda, não pôde se alimentar. Só tomou o café porque colocamos na boca dele.” Apesar de não parecer exatamente lúcido, Pedroso demonstrava estar agradecido. Dizia aos vizinhos solidários que o enrolavam no cobertor: “Que delícia, quentinho”.

O casal então encontrou-se com outro jovem do bairro que contou já ter ligado para o Samu. A atendente teria sugerido perguntar ao indigente se queria ajuda. O casal fez a pergunta a Mauro Pedroso e recebeu resposta afirmativa. Depois disso, o serviço foi solicitado outras duas vezes. Além da informação relativa à falta de ambulâncias, a atendente teria dito que, para que o socorro fosse prestado, o homem deveria estar “ferido”.

Pedroso foi então levado por Mauro e a esposa ao Centro Camilli Flamarion. “Disseram que se não estivesse embriagado poderiam recebê-lo. Mas quando chegamos lá, o porteiro olhou para ele e disse que, dias antes, ele tinha estado no albergue e causou transtornos no momento de sair.” Pedroso acabou ficando na calçada da instituição, onde morreu.

Na instituição, ninguém se manifestou. O Samu ficou de confirmar os telefonemas do domingo, mas não retornou.




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