Cotidiano Titulo Heróis indesejados
Heróis indesejados
Rodolfo de Souza
04/08/2016 | 07:00
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 Há muitas perguntas perdidas que partiram daqui deste nosso País de sonhos. Elas pairam hoje numa espécie de limbo, fora do tempo e do espaço. Permanecem, ao que tudo indica, confinadas ali por causa das respostas que o descaso lhes nega. Assim, são condenadas ao esquecimento, elas e as pessoas que, inconformadas com o silêncio, prosseguem indagando.

E o que sobra é a desagradável sensação de impotência, da qual é acometido o cidadão que se põe a refletir acerca dos problemas pertinentes ao seu meio. Nada mais lhe resta a não ser o gesto vago de dar de ombros, trejeito de gente que considera inútil questionar e até mesmo pensar a respeito.

Mesmo assim, a mente tinhosa insiste em criticar, contestar e espernear. Acaba se frustrando, é verdade, com a solução proposta para os diversos males, que nunca deixa as pranchetas ou que não passa de meras cifras vazias, sem qualquer valor para o dia a dia de quem espera resultados, não balelas.

A violência, em suas inúmeras facetas, é exemplo de ultraje na vida de uma sociedade doente, triste, sem perspectiva, onde se tropeça todo o tempo na crônica falta de educação, fonte de admiração e orgulho de quem prima pelo desrespeito. Destaque para o vandalismo, um tipo peculiar de violência.

Fico mesmo sem entender. Foge à minha compreensão, por exemplo, tantas paredes pichadas, sem que saia do anonimato o artista indesejado. Não deixa de se configurar uma brutalidade isso que deixou, entre outros, um prédio de Santo André, inteiramente decorado pela pintura rupestre. Isso mesmo! Um edifício inteiro que outrora abrigara importante empresa! Dá até a impressão de que o dono do imóvel, porque há de ter um, teria autorizado a depredação, tamanha a facilidade com que operam na calada noite os gatunos, conscientes da impunidade.

Apesar de que, a impunidade neste país é exclusividade de quem é acusado de ter cometido algum delito. Quanto à arte de depredar imóvel alheio, objeto desta reflexão, ninguém é pilhado e conduzido ao distrito, a despeito do incansável trabalho da polícia que patrulha as ruas, as pontes, os viadutos e os meandros urbanos, durante o sono das cidades.

Portanto, apesar do nosso parco entendimento, concluímos que utilizam algum tipo de disfarce, aqueles que saem do submundo para sujar paredes, janelas e monumentos, alvos constantes do vandalismo atroz. Talvez sejam tomados por pintores noturnos! Só pode ser isso! Até porque, é inaceitável que um sujeito de tinta spray em punho, passeie tranquilo pelas ruas, executando um trabalho avesso ao bom gosto, sem nunca ser notado. Dinheiro para gorda propina, por certo, não tem. Talvez seja um super-herói como o homem aranha que, de pincel na mão, segue deixando seu rastro feio pelos prédios, tristes afrescos, com os quais já se habituou a população. Como tudo se habitua a aceitar, diga-se de passagem.

Às vezes penso que ando cochilando e que isso não acontece, que metade do efetivo das prisões está recheada mesmo de pichadores, esses tristes e abomináveis seres que se valem da sujeira para ganhar prestígio.

Pura bobagem! Ninguém é preso.

Aposto como nunca houve também quem despencasse, pichando de vermelho o concreto duro.

É bem provável que estejamos falando de seres voadores e invisíveis, afinal, que não se deixam apanhar por causa de seus superpoderes. Deve ser isso! Só pode ser isso, se considerarmos que neste país todo o criminoso é dotado de superpoder.

Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André. É professor e autor do blog cafeecronicas.wordpress.com

E-mail para esta coluna: souza.rodolfo@hotmail.com.




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