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Africano inicia no Azulão sonho de jogar no Arsenal
Por Marco Borba
do Diário do Grande ABC
08/08/2011 | 07:24
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A história seria comum a de milhares de jovens das periferias do mundo não fosse o fato de retratar um menor fora de seu país, que está separado da família e depende da ajuda de amigos. O camaronês Haboubakar Amadou, 17 anos, é mais um exemplo de que não há fronteiras no mundo da bola para os que têm o futebol como religião.

Há três anos no Brasil e um mês como jogador da equipe sub-17 do São Caetano, ele iniciou pela Tunísia jornada que um dia pretende encerrar no Arsenal, da Inglaterra.

Ciente de que o caminho ainda é longo até se profissionalizar no Brasil, o zagueiro terá na Copa São Paulo de Juniores de 2012 a chance de mostrar que valeu a pena tanto sacrifício. Habou, como é chamado, já treina com o grupo que disputa o Paulista Sub-20 e pode estrear diante do Santos, no sábado.

Agora, menos angustiado por já ter conseguido renovar o visto para trabalhar no País por dois anos, o jogador está ansioso por disputar a primeira competição oficial no Brasil. Emocionado, revela que pretende fazer boa base por aqui, se tornar profissional e no futuro defender Camarões em uma Copa do Mundo.

Filho de família de quatro irmãos da periferia de Yaoundé, capital de Camarões, Habou fala com os pais apenas uma vez por mês. Muçulmano - lê o alcorão (livro sagrado do Islã) cinco vezes ao dia nos momentos de folga no alojamento do clube -, agarra-se à fé para seguir os passos da bola.

A dura jornada do camaronês começou pela Tunísia, em 2008, quando defendeu por três meses o Esperança, equipe amadora. "Vim para o Brasil em agosto de 2008 graças ao empresário brasileiro Weslei Vieira, que estava lá observando jogadores e me levou para o Fortaleza."

Foi justamente aí que começou a tormenta de Habou. Com o passaporte vencido e sem dinheiro, teve de recorrer a ajuda de um amigo, morador de Osasco, na Grande São Paulo, com quem jogou na Tunísia, até conseguir nova oportunidade no Fluminense, equipe amadora de Florestal, Minas Gerais.

Entre o início de 2009 e junho deste ano, correu de um lado a outro mas não se firmau em nenhum time, justamente pela falta do visto. Graças ao empresário do amigo osasquense, hoje em Dubai, conseguiu fazer estágios de cerca de um mês no Corinthians e no Palmeiras. "Foi um período muito duro, porque não podia voltar (para Camarões) e também não me contratavam por causa da falta de visto. Tive de ficar de favor na casa de amigos. Foi muito triste, porque meus pais não têm condições de me mandar dinheiro. Às vezes chorava ao pensar se fiz a coisa certa", disse, com os olhos marejados.

Fã do zagueiro Lúcio, da Seleção Brasileira, Habou fala com sinceridade que não vislumbra fazer carreira no Brasil e acredita que, mesmo se tiver que voltar para seu país em dois anos, não estará jogando fora o sonho de defender o Arsenal. "O futebol em Camarões evoluiu bastante. Estão investindo mais e acredito que vamos fazer boa campanha na Copa de 2014."

Sobre a chance de disputar seu primeiro Mundial no país onde verdadeiramente deu os primeiros passos no futebol, deu um único sorriso tímido após meia hora de conversa e respondeu: "Quem sabe!"

 

Mesmo otimista zagueiro tem plano B

Embora sonhe alto, Haboubakar Amadou tem um plano B para o caso de não vingar no futebol brasileiro: retornar a Camarões e arrumar uma equipe da Primeira Divisão. Para isso, se for preciso, pensa até em recorrer a um ídolo local, o ex-atacante Roger Milla, de quem é fã, e que se destacou na Copa de 1990, na Itália.

Comandados pelo dançarino Milla, os Leões Indomáveis surpreenderam ao chegar às quartas de final do Mundial, fato até então inédito para uma seleção africana.

Embora tenha certeza de que é no Brasil que pode ganhar projeção caso dispute a Copa São Paulo, a maior vitrine do futebol nacional, Habou demonstra não ter receio de enfrentar o caminho de volta a Camarões se for preciso. "Quero fazer uma boa base e, quem sabe, ter chance na equipe principal ou em outro grande clube. Mas as coisas mudaram muito em Camarões. O mercado do futebol evoluiu. O Milla ajuda muitos garotos a arrumar clube", contou.

Apesar da simpatia com camaroneses por sua irreverência, os brasileiros não têm boas lembranças de confrontos frente aos africanos. Nos jogos Olímpicos de Sydney (Austrália), em 2000, a seleção comandada por Vanderlei Luxemburgo foi eliminada com um gol de ouro, após empate (1 a 1) no tempo normal, mesmo estando com um jogador a mais. Mboma fez para os africanos, Ronaldinho Gaúcho empatou e Mbami fez o gol de ouro.




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