Os funerais começaram ao amanhecer na igreja Baata Mariam Geda, onde os restos do Negus se encontravam desde 1992. Depois das oraçoes conduzidas pelo patriarca ortodoxa, Paulos, o ataúde do último imperador, coberto com a bandeira nacional, foi levado por ex-combatentes, vestidos com trajes tradicionais e portando lanças, ao centro de Addis Abeba. Apenas três mil pessoas acompanharam a cerimônia, quando as previsoes eram de uma participar popular maior. A procissao dirigiu-se para a igreja da Trinidad, onde Selassiê repousará em definitivo.
O imperador morreu na noite de 26 de agosto de 1975 aos 82 anos de idade, oficialmente devido a um "problema circulatório", após ser deposto por um golpe de Estado militar.
Até agora se desconhece a forma como perdeu a vida. O Conselho Militar de Administraçao Provisória (CMAP, dirigido fundamentalmente pelo coronel Mengistu Hailê Mariam, atualmente exilado no Zimbábue) foi acusado de assassiná-lo.
O funeral oficial de sua Majestade Imperial Hailê Selassiê I foi organizado pela Fundaçao que leva seu nome. O governo etíope dirigido por Meles Zenawi autorizou a manifestaçao, alegando "respeitar totalmente" os direitos civis da família do imperador, considerado o "último Rei dos Reis" da Etiópia. "Apesar da inesquecível miséria que o ex-imperador causou ao povo da Etiópia, nao deveria ser privado de um enterro formal como cidadao e ser humano", estimaram as autoridades etíopes, citadas na terça-feira passada pela imprensa oficial.
Segundo o comunicado governamental, o último descendente da dinastia etíope (de Salomao, há 3 mil anos) depositou "os magros recursos do país, que pertencem às massas etíopes, em bancos estrangeiros, que poderiam ter sido utilizados para reduzir a pobreza e acelerar o crescimento econômico".
Hailê Selassiê converteu Addis Abeba na capital diplomática da Africa, ao criar no dia 25 de maio de 1963 a Organizaçao de Unidade Africana. Esta iniciativa deu a seu país um prestígio internacional inigualado até agora.
Entretanto, a política interna deste "pai fundador" da Africa pós-colonial foi muito criticada. Seus adversários assinalaram seu poder imperial absoluto, sua inércia ante a rebeldia estudantil e das minorias étnicas, a falta de uma reforma atrária e afirmaram que nao reagiu a tempo durante a terrível fome de 1974 em Wollo (Nordeste), que causou cerca de 200 mil vítimas.
A Igreja ortodoxa, por sua vez, deu seu apoio ao "eleito de Deus e defensor da fé crista", segundo os títulos do imperador. Sob seu reinado, a Igreja ortodoxa da Etiópia virou patriarcado independente de Alexandria.
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