Cultura & Lazer Titulo
Festival de Gramado vive crise de identidade
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
04/08/2001 | 16:46
Compartilhar notícia


O tradicional festival nacional de cinema começa nesta segunda-feira em Gramado, na Serra Gaúcha, em busca de identidade. Às vésperas de completar 30 anos, o 29º Festival de Gramado – Cinema Brasileiro e Latino debate-se entre ser exclusivamente nacional ou continuar internacional.

Os principais candidatos nacionais ao Kikito são Bufo & Spallanzani, de Flavio Tambellini, e Memórias Póstumas, de André Klotzel. Este passou fora de competição nos festivais de Berlim e no Cine Ceará, com boa acolhida. Aquele, melhor filme brasileiro no Festival de Miami, não iria concorrer em Gramado, decisão tomada só no início do mês passado. Gramado exibirá os dois, respectivamente, quinta e sexta-feira.

Bufo & Spallanzani encerrou este ano o Festival de Recife, que premiou Bicho de Sete Cabeças, também vencedor do Festival de Brasília em 2000. Bicho encerrará o Festival de Gramado no sábado (dia 11). Nesta segunda-feira, a abertura da mostra competitiva de longas é com o espanhol Yoyes (1999), de Helena Taberna, seguido do nacional Duas Vezes com Helena (2000), pouco mais que um média-metragem. Dirigido por Mauro Farias, tem Fábio Assunção e Christine Fernandes, já apontada como uma das novas musas do evento.

Outros em competição são Urbania (2001), do paulista Flávio Frederico, e o gaúcho Neto Perde sua Alma (2001), de Beto Souza e Tabajara Ruas. Entre os latinos, o uruguaio 25 Watts (2001), de Juan Pablo Rebella, e o chileno Coronación (2000), de Silvio Caiozzi, premiados respectivamente nos festivais de Roterdã e Huelva (melhor filme) também são candidatos. O argentino Un Amor de Borges (2000), de Javier Torre, corre por fora.

Na terça-feira, o Festival homenageará Hugo Carvana com o Troféu Oscarito, por sua contribuição de quase 50 anos ao cinema brasileiro em 78 filmes (leia entrevista na página 2). No dia seguinte, outra homenagem e uma novidade: o primeiro troféu Eduardo Abelim, para o cineasta Carlos Reichenbach. Abelim foi pioneiro do cinema mudo brasileiro, de cuja obra só restam fotogramas. A partir deste ano, o Oscarito será dado a atores e atrizes, e o Abelim para cineastas.

Há 30 anos, o Festival de Gramado fazia oposição ao Festival de Brasília, onde os órgãos de censura controlavam o cinema. A Serra Gaúcha, então, era uma espécie de refúgio da repressão. Hoje, as atenções para o cinema nacional se diluem em outros festivais.

O ineditismo das produções brasileiras está cada vez mais difícil. “Contamos mais de 12 festivais de cinema brasileiro regulares no país. Temos dificuldade em conseguir filmes inéditos”, diz Luiz César Cozzetti, crítico de cinema e integrante da comissão de seleção. Em 1992, Gramado optou pela internacionalização com filmes latinos porque a produção nacional naquele ano era de um longa. Hoje, ser apenas nacional soa até como retrocesso.

A presença brasileira aumentou, contudo, em função da retomada da produção. São cinco longas contra quatro este ano, ao contrário dos três contra seis do ano passado. “Também é difícil selecionar filmes latinos, comprometidos com festivais europeus”, afirma o crítico.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;