A São Bernardo das indústrias automotiva e moveleira não esconde que ainda tem pezinho no Interior. Não falta gente que sinta saudade da época da roça e fique com os olhos marejados ao escutar o som da viola caipira. Para preservar a cultura popular e encerrar os festejos natalinos, a cidade realizou ontem o 2º Encontro de Folias de Reis.

O evento reuniu sete grupos do Grande ABC e Minas Gerais: Alto do Baeta Neves e Estrela Guia, de São Bernardo; Paróquia Nossa Senhora do Paraíso, de Santo André; Folia de Reis de Diadema, a também diademense Cia. José Reis; Terno Congada 13 de Maio, de Lambari; e Folia de Reis Arceburguense, de Arceburgo.

Ana Aparecida de Paula Modesto, 48 anos, e cerca de 30 pessoas saíram de Lambari às 3h para participar do encontro. Viajaram quase cinco horas até chegar em São Bernardo. Algum sinal de cansaço? Nenhum. "Essa é a nossa raiz, porque nossa família sempre foi do reisado", afirma Ana.

Quarenta anos como folião, Pedro Baldoino, 61, também luta para que a tradição seja preservada. À frente da Folia de Reis Alto do Baeta Neves - que surgiu em 1949 - conseguiu apoio do poder público municipal e verba do Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo para realizar a reunião com os outros grupos. "Há oito anos, tínhamos seis folias em São Bernardo. Hoje, restam só duas. O importante é não deixar morrer."

Às 11h, teve início a missa sertaneja na Paróquia Santíssima Virgem, embalada pelos acordes e cantoria da Orquestra de Violeiros de Mauá. Após a cerimônia religiosa, fiéis e foliões seguiram em procissão até o Paço Municipal para louvação ao presépio.

No local, os grupos realizaram apresentações de música e dança tradicionais. "O evento é oportunidade de reviver o que muitos já presenciaram no Interior. É a história do povo", diz o assessor especial do prefeito, José Albino de Melo.

Ainda com forte presença no interior do Brasil, a folia de reis é festa religiosa de origem portuguesa. Na tradição católica, celebra a visita que os três reis magos fizeram ao Menino Jesus. Para representá-la, os foliões iniciam as visitas às casas da população poucos dias antes do Natal, sempre cantando e levando a bandeira do Divino. Em 6 de janeiro, realizam festa que marca o fim da comemoração.