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Sem medo do escuro
Por Juliana Ravelli
Do Diário do Grande ABC
22/05/2011 | 07:00
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A imaginação é maravilhosa, permite criar mundos, seres fantásticos e até amigos de faz de conta. Mas, às vezes, ela é bem sapeca e prega peças nas pessoas. Na hora da soneca, basta a luz se apagar para achar que o guarda-roupa e embaixo da cama são habitados por monstros horrorosos. Pode ficar tranquilo, pois eles só existem na cuca da gente.

Durante a infância, nossos pensamentos estão bastante ligados à fantasia; por isso, nessa fase, nem sempre consegue-se identificar o que é ou não realidade. Quando a luz está apagada, não conseguimos ver exatamente o que tem no quarto. É aí que os pensamentos sobre monstrengos aparecem.

Para ajudar a controlá-los basta lembrar: o que existe no claro está no escuro também. Nicolas Meneghelli Santos, 5 anos, de Santo André, descobriu isso. "Monstro é de mentira. Meu medo passou", diz o menino, que é fã da animação Monstros S.A.

Colega de Nicolas na escola Recanto Infantil Vagalume Alegre, Evandro Júnior Hernandes, 4, também aprendeu a enfrentar a escuridão com o apoio da mãe. Uma luz bem fraquinha fica ligada no quarto até ele dormir.

É NORMAL - Quem tem medo do escuro não precisa ficar envergonhado. É natural senti-lo a partir de 18 meses até por volta de 10 anos. Rafaelly Pivetta Ferrari, 5, lembra que seu temor apareceu quando o tio a assustou, fingindo ser um bicho. "Vai passar quando eu crescer. Gente grande não tem medo de monstro."

Enquanto isso não acontece, Mateus Naoya Martins, 4, dorme com Pipoca, boneco de pano feito pela avó, que o ajuda a se sentir mais protegido do bicho-papão. "Minha mãe fica na minha cama um pouquinho; depois durmo sozinho." Mateus faz certinho. Não vale correr sempre para a cama dos pais. Enfrentar a escuridão sem os adultos é importante para aprender a lidar com as próprias dificuldades.

Henri Polidoro de Souza, 6, de Santo André, não se preocupa com os bichos criados pela imaginação. Fica com receio de que aqueles de verdade o incomodem durante a soneca. "Tenho medo de que barata, lagartixa e aranha apareçam." Assim, antes de entrar em um ambiente sem luz, o menino sempre pede para alguém acompanhá-lo.

 

É preciso dormir no escuro

Dormir em um ambiente bem escuro e calmo é fundamental para o organismo produzir corretamente a melatonina, substância que regula o ciclo do sono. Graças a ela, o corpo sabe a hora de dormir e de acordar para fazer todas as atividades do dia. Sem a melatonina, nossa vida viraria tremenda bagunça.

Estudo feito pela Universidade Emory, nos Estados Unidos, e divulgado no início deste mês, mostra que o sono influencia o quanto a gente cresce. Antes já se sabia que crescemos enquanto dormimos. A pesquisa foi realizada com bebês; em geral, quanto mais tempo durava a soneca, mais eles cresciam.

A boa noite de sono garante que o corpo renove as energias e se mantenha saudável. É durante esse período que a memória de longo prazo se forma, e o que se aprende durante o dia é armazenado no cérebro.

Já experimentou não dormir direito? Quando acontece, a gente fica mal-humorada, irritada, cansada, sem vontade de fazer nada e com muita dificuldade de prestar atenção. Por isso, a soneca é indispensável.

 

Medo alerta o corpo diante do perigo

O medo é um tipo de reação do organismo, que serve para alertar e protegê-lo do perigo. Prepara o corpo para fugir ou se defender da ameaça. É um sentimento natural, presente em todas as fases da vida, e acontece sem que a gente realmente queira.

Por causa dele, em geral, o coração dispara, a respiração fica mais rápida, a transpiração aumenta e sente-se tremedeira e calafrio. Se o temor for muito grande, pode-se até fazer xixi na calça, ter dor de barriga e não dormir direito por vários dias. O cheiro do corpo também muda, assim, bichos com olfato muito desenvolvido, como os cães, percebem quem está amedrontado.

É importante saber a diferença entre o medo bom e o mau. Quando é exagerado pode virar pânico ou fobia; nesse caso, não é legal porque interfere nas atividades diárias e na relação com outras pessoas. Para vencê-lo, é preciso procurar ajuda de especialistas. Já o bom faz a gente se proteger.

 

Noite ajuda bicho e planta

A escuridão também é importante para a natureza. Muitas espécies se beneficiam dela e realizam a maior parte de suas atividades à noite, enquanto outras descansam. Há ainda bichos que vivem nas áreas mais profundas dos oceanos sem contato com a luz natural.

É em meio ao escuro que o morcego, por exemplo, sai em busca de alimento. Esse bicho - que é o único mamífero voador - não se atrapalha porque usa a ecolocalização: emite sons que, quando atingem um obstáculo, retornam na forma de eco. Assim, ele sabe por onde passar sem bater em nada.

Alguns vegetais, como a popular dama-da-noite, só exalam perfume após escurecer. O objetivo é atrair bichos noturnos, principalmente as mariposas, para que se alimentem do néctar de suas flores e ao mesmo tempo carreguem os grãos de pólen para outras plantas, ajudando na reprodução da espécie.

 

Dicas

Pegar no sono nem sempre é tarefa fácil, principalmente quando se sente medo do escuro. Confira algumas dicas para enfrentar o temor e ter soneca tranquila:

- Correr para a cama dos pais não vale, mas eles podem colocá-lo para dormir. Ler uma historinha alegre antes da soneca também funciona.

- O sono pode começar com abajur ligado e luz fraquinha. Depois apague.

- Que tal deixar uma lanterna perto da cama? Se sentir medo, ligue-a para conferir que tudo continua igual.

- Leite quente, chá ou suco antes de dormir ajudam a relaxar. Só não esqueça de escovar os dentes.

- Assim que o medo aparecer, pense em coisas boas e bonitas.

- Nada de dormir tarde; na infância, deve-se ir para a cama entre 19h e 21h. Após esse horário, o sono pode desaparecer e voltar de madrugada.

- Não é legal jogar videogame nem ver TV, principalmente programas não indicados para sua idade, antes da soneca, porque deixam você agitado.

 

Consultoria de Denise Diniz, psicóloga e coordenadora do Setor de Gerenciamento de Estresse e Qualidade de Vida da Unifesp, e Rubens Wajnsztejn, neuropediatra e professor da Faculdade de Medicina do ABC




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