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'Mulheres em Movimento' fazem história em Diadema
Sucena Shkrada Resk
Do Diário do Grande ABC
24/10/2004 | 16:25
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Gravadores portáteis, faixas, abaixo-assinado e até câmera de vídeo registraram muitas das promessas feitas por prefeitos e outras autoridades de Diadema. À primeira vista, esse mecanismo poderia, em muito, lembrar as ações de grupos sindicais. Mas não é nada disso. Esses são os instrumentos que construíram a história do grupo Mulheres em Movimento, que há 15 anos iniciou com 150 integrantes, e que batalhou pelo direito de garantir espaços públicos fixos para a realização de aulas de ginástica. Hoje, elas são 4.750 alunas, distribuídas em 21 salas mantidas pela Prefeitura. Se alguém pensa que a luta parou depois da conquista, elas fazem questão de dizer o contrário. No processo boca-a-boca, auxiliam colegas mais carentes, são voluntárias na área da saúde e até se tornaram objeto de uma tese de mestrado.

Uma das pioneiras do grupo, a dona de casa e ex-atleta Elza Neves Gomes, 58 anos, conta que o espírito de luta começou muito antes da conquista do espaço, há 22 anos. Naquela época, o grupo de ginástica ainda não tinha um nome e se reunia em uma sala cedida pela Associação dos Funcionários Públicos de Diadema. “Aquele era um lugar emprestado e queriam nos tirar de lá. Fiquei indignada com a situação e escrevi uma carta ao Departamento de Esportes da Prefeitura informando que nós tínhamos adquirido o direito em fazer ginástica naquele local.”

Depois dessa primeira manifestação, a mobilização foi crescendo entre as participantes. “Ganhamos consciência política, mas ainda tínhamos de mudar constantemente de sala. Fomos colocadas no Teatro Clara Nunes, na rua e até no prédio da funerária.” Toda essa via sacra só terminou quando, por meio de um abaixo-assinado e muita pressão, as alunas conquistaram definitivamente u-ma sala no Ginásio Poliesportivo Ayrton Senna, em 1990.

Em 1992, com mais uma dose de reivindicações por espaços adequados, o Mulheres em Movimento conseguiu que o poder público construísse oito salas de ginástica. De lá para cá, foram várias as manifestações. Hoje, são 21 os locais em que realizam suas atividades e, no próximo mês, terão mais uma, desta vez no Jardim Inamar.

Além dessa, outras bandeiras também foram levantadas pelo grupo. “Há três anos, criamos o Grupo Voluntariado de Diadema. Ajudamos instituições como a Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e trabalhamos também nas unidades de saúde do município”, disse Elza.

A dona de casa Vivaldina Jesus dos Santos, 54 anos, garante que a persistência sempre foi a arma do Mulheres em Movimento. “No grupo, conquistei liberdade e fiquei ousada. Reivindicar é comigo mesmo. Antes eu só fazia o que meu marido mandava. Terminei a Faculdade da Terceira Idade na Fefisa e entrei para o grupo de ginástica da faculdade. Com eles fui até para Portugal”, contou orgulhosa.

A recepcionista Francisca Ferreira da Silva Rios, 45 anos, define o grupo como uma verdadeira comunidade. “Neste ano, quiseram nos tirar novamente do espaço no Ginásio Ayrton Senna. Como estamos organizadas, mantivemos nosso direito. Abraçamos ainda uma nova causa, a de arrecadar roupas para os pacientes do Pronto-Socorro Municipal.”

Raízes – A professora de Educação Física da Fundação Santo André, Maria Cristina Cavaleiro, tornou a história do Mulheres em Movimento objeto da tese de mestrado que defendeu neste ano na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). “Esse é um movimento social com identidade coletiva. Se manifestou na história do município para ter acesso ao lazer e, hoje, constituiu uma rede na cidade. Mesmo ao passar por alguns períodos de menor visibilidade, é um movimento com raízes. Naquela época, a luta era por lazer. Hoje, pela manutenção de seus direitos.”

No entanto, a filosofia do grupo não ficou restrita aos limites de Diadema. Ultrapassou fronteiras e, desde o ano passado, é mantida em Icapuí, no Ceará, município que fica a 200 km de Fortaleza. “Levamos a orientação técnica para a Prefeitura de Icapuí e hoje 200 mulheres participam das aulas na cidade, com 17 mil habitantes”, disse a coordenadora do programa em Diadema, Antônia Efigênia Gomes Bezerra, 36 anos.

Para se inscrever no programa de ginástica Mulheres em Movimento, em qualquer uma das 21 unidades, as interessadas devem ter idade mínima de 16 anos e procurar diretamente o professor da unidade. As aulas, com uma hora de duração, ocorrem duas vezes por semana e têm conteúdo adicional de palestras, excursões e atividades culturais. Mais informações pelo telefone 4072-7083.




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