Cultura & Lazer Titulo Crítica
Norma Bengell revive dia de estrela
Por Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
06/03/2010 | 07:00
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Norma Bengell, na pele de Winnie, a protagonista enterrada de "Dias Felizes", diz por duas ou três vezes: "Ah, bem, não piorou. Não melhorou, não piorou, nada mudou. Sem dor".

A peça, com texto de Samuel Beckett, teria estreia na noite de ontem, no Sesc Ipiranga (em cartaz às sextas e sábados até dia 27). O Diário acompanhou a pré-estreia anteontem.

Winnie desfia reminiscências dos dias que viveu. Nada de mais: diz sobre acessório, faz comentários sobre o amorfo marido, Willie, e logo fala que o deixará em paz, sem nunca parar de clamar sua companhia.

O texto - considerado o mais pessimista da obra do soturno Beckett - arrasta-se como o retrato que pretende fazer sobre a aridez que é vivenciar o passado como única opção de sobrevivência. Enquanto Winnie espanta seu estado atual até a hora de dormir, que não chega nunca, o espectador indaga-se sobre questões menos urgentes do homem, mas mais profundas da vida: envelhecer, lidar com o vazio e a necessidade infinita, mas nunca plena, de trocar e se comunicar com os outros.

Norma teve coragem de fundir sua vida, relatada nas projeções dos grandes filmes que participou, com a história da otimista Winnie, que em outro trecho diz: "Ah, bem, seja como for, é o que sempre digo, foi um dia feliz apesar de tudo, outro dia feliz".

Winnie se foi e Norma ficou. Depois do esforço, físico e emocional, de dar vazão ao texto, ficou para provar que os dias felizes de estrela ainda não acabaram.




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