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Cinema da Geórgia em 12 títulos
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15/12/2009 | 07:00
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Ray Charles passou pela vida cantando a Geórgia que não saía de sua cabeça, e de lá também veio o ex-presidente Jimmy Carter. Mas há outra Geórgia, do outro lado do mundo, que integrava a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

A URSS ruiu com a queda do Muro de Berlim, há 20 anos, a Geórgia, ex-soviética, passou por uma cruenta guerra civil. Ao longo da história, o georgiano nunca cessou de lutar. Por sua terra, sua cultura, seu cinema. A Geórgia soviética enfrentava a censura do regime, que só autorizava os filmes que interessavam ao poder central. A pós-soviética produz quatro, cinco filmes por ano. É tempo de (re)conhecer o cinema da Geórgia.

Começa hoje no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasl) a mostra "Cinema da Geórgia - Um Século de Filmes", que traz ao País 12 títulos, dez deles em película. A curadoria do evento é de Nágila Guimarães, uma brasileira que há muito tempo mora no Exterior e descobriu a Geórgia acompanhando o marido arquiteto, que foi lá desenvolver um projeto.

Ela descobriu um cinema sobre o qual pouco se falava no Brasil, embora seus grandes autores - Mikhail Kalatozov, Otar Iosseliani - não sejam estranhos ao cinéfilo brasileiro.

Nágila é acompanhada de duas figuras que vale conhecer. Irakli Gioshvilli é ator, tem 24 anos e reside em Nova York, integrando um grupo de teatro. Sabe muito sobre o Brasil. De novela, então, ele conhece tudo. Chegou a aprender a falar português por amor às novelas brasileiras - as da Globo -, das quais se tornou o tradutor oficial na Geórgia.

Gioshvilli serve de tradutor para o cineasta que o acompanha, o veterano Merab Kokochasvilli, diretor do filme que abre hoje a programação. O título é emblemático - "O Grande Vale Verde". A terra, sempre a terra no cinema georgiano.

O filme trata do conflito entre a tradição da vida do campo e a modernidade que a exploração do petróleo trouxe para a Geórgia. "O sr. Merab informa que o filme foi cortado em 20 minutos até ter sua exibição liberada por Moscou", diz o tradutor. Esses 20 minutos não puderam ser recuperados com a queda do comunismo, mas Gioshvilli e a própria Nágila garantem que a obra resiste. "Possui uma tristeza profunda", ela diz.

Selecionar 12 filmes para, com eles, traçar o retrato de uma cinematografia inteira não é coisa fácil. E nem foi uma escolha ideal. Quando havia URSS, Moscou centralizava tudo. Hoje, as matrizes de importantes filmes georgianos ainda estão em Moscou. A escolha se fez com base em filmes possíveis.

Todos são filmes importantes, merecedores de atenção, mas a raridade do programa é "Minha Avó", de Kote Miqaberidze (amanhã, às 17h). O filme mudo de 1929 tem apenas 67 minutos e ficou proibido durante 40 anos, por sua sátira ao dirigismo estatal.

Estão na programação "Sal para Svanetia", de Kalatozov, "Novembro" e "Era Uma Vez Um Pássaro Negro", de Otar Iosseliani, entre outros. Um terceiro autor conhecido dos brasileiros integra a seleção e é Sergei Paradjanov, revelado no "País pela Mostra de São Paulo".

Cinema da Geórgia: Um Século de Filmes - A partir de hoje, às 17h, com Pirosmani, de Giorgi Shengelaya; abertura oficial às 19h, com O Grande Vale Verde, de Merab Kokochashvili, seguido de debate com o diretor. CCBB - Rua Álvares Penteado, 112, São Paulo. Tel.: 3113-3651. De quarta a domingo. Ingr.: R$ 4. Até dia 27.




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