"Deu pra ti, baixo astral, vou pra Porto Alegre e tchau." Quem viveu os anos 1980 esbarrou neste refrão. Os irmãos Kleiton e Kledir Ramil pintaram a música pop com cores gaúchas durante metade daquela década. Em 1987, quando decidiram dar um tempo, ninguém poderia imaginar que um álbum de inéditas demoraria mais de 20 anos para surgir no horizonte. "Já estávamos engasgados havia muito tempo", fala Kleiton. "Este é um sonho que venho perseguindo há mais de 10 anos."

Na década de 1990, a dupla ensaiou a sua volta por diversas vezes. Em 2005, gravou o CD/DVD Kleiton & Kledir - Ao Vivo, que trouxe uma releitura da carreira dos irmãos. O abismo que se abriu para um álbum de inéditas, segundo Kleiton, surgiu especialmente pelo fim dos investimentos das gravadoras nos artistas.

"Demoramos um ano e meio só para procurar parceiros. Com a ajuda de um supermercado e do Canal Brasil, conseguimos realizar um trabalho luxuoso", conta Kleiton.

O cantor diz que sofreu muito durante esses anos. "O único trabalho com que fiquei contente nesse tempo todo foi o álbum ao vivo. Foi importante para nós e, apesar de ter sido gravado com músicas dos 1980, ganhou um sabor novo. E foi lá que encontramos uma nova estética para a dupla."

As 13 canções que compõem o novo CD e DVD, Autorretrato (Som Livre, R$ 29,90), são frutos de 10 anos e foram selecionadas entre 70 composições. O grito de liberdade dos irmãos Ramil vem de maneira elegante, segundo Kleiton. "As letras são bem elaboradas."

As referências seguem a mescla entre as raízes gaúchas e a música contemporânea. "Somos sempre abertos a novas influências. Beatles, Rolling Stones e música erudita vieram desde cedo. Autorretrato tem até influência da música irlandesa. Trabalhamos com dois extremos. Assumimos nossa origem gaúcha, mas com uma cara contemporânea." Por contemporâneo, Kleiton cita Coldplay e Jorge Drexler. "Não tenho preconceito contra nenhum tipo de música, mas entre Sepultura e Jorge Drexler, fico com o segundo."