Um texto delicado, de acordo com a sensível alma de artista revelada. A estreante Marta – esta é sua primeira peça – constrói um perfil rico da poeta, repleto de nuances. O texto, além de consistente, deixa a intérprete à vontade para compor a personagem.
Além disso, Marta consegue dar à peça forte carga poética – por sinal, os autores brasileiros prediletos de Elizabeth eram João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade.
O espetáculo – A poeta e escritora norte-americana Elizabeth Bishop (1911-1979), prêmio Pulitzer de poesia em 1956, morou no Brasil de 1951 a 1966 e viveu um longo romance com Lotta Macedo Soares, integrante da alta burguesia carioca.
A chegada de Elizabeth ao porto de Santos abre a peça. Instalada no Rio de Janeiro, espanta-se com os hábitos brasileiros, tanto os domésticos (a existência de empregados) quanto os populares (o futebol na praia). O texto confronta a disciplina de colégio interno com que ela foi criada à maleabilidade dos costumes nacionais.
Já morando em Petrópolis, a poeta dá vazão a problemas existenciais mais profundos. Cuida da casa e mexe no jardim, o que lhe dá prazer, mas escreve pouco, o que a deixa infeliz. Elizabeth se vê encoberta pelos terrores internos, como o pânico de falar em público e o medo de acharem que era “uma fraude artística”.
Além disso, há mais angústias e fantasmas, como a pressão exercida pela necessidade de criar, sem que o resultado desejado apareça, e o alcoolismo.
A peça também expõe a paixão das duas mulheres. A poeta relata o jogo amoroso entre elas de uma forma sentimental. Nada, portanto, que possa ofender moralistas de plantão.
Permeado por um humor sutil, o texto aborda de maneira leve questões da época presentes na sociedade brasileira atual, como a corrupção. É interessante notar, ainda, a curva dos personagens – embora se trate de um monólogo, Lotta sempre está presente. Elizabeth chega fragilizada ao Brasil e encontra uma Lotta segura. No fim, nota-se o oposto.
Um Porto Para Elizabeth Bishop – lançamento do livro de Marta Góes. Terça, das 18h às 21h. Na Livraria Cultura do Conjunto Nacional – av. Paulista, 2.073. Tel.: 285-4033. Entrada franca.
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