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Orlando Morando e Vanderlei Siraque expõem rivalidade
Beto Silva
Do Diário do Grande ABC
26/04/2009 | 07:00
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Muitas das perguntas são semelhantes. Mas as respostas antagônicas expõem as posições contrárias de dois expoentes dos partidos que mais uma vez devem polarizar as eleições estaduais e federais em 2010: PSDB e PT. No discurso, o deputado estadual tucano Orlando Morando e o parlamentar petista Vanderlei Siraque têm apenas uma opinião em comum: mais uma vez em suas carreiras passarão pelo árduo crivo do eleitorado no ano que vem. Morando buscará a reeleição à Assembleia Legislativa de São Paulo. Já Siraque tentará "um novo salto" rumo à Câmara Federal. Nos outros assuntos, os importantes personagens da corrida eleitoral aos paços municipais no ano passado - Orlando foi derrotado em São Bernardo e Siraque perdeu em Santo André - expõem a acirrada disputa de argumentos com a qual será pautado o pleito que se aproxima. Para o tucano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "antecipou o processo" eleitoral ao colocar a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), sob os holofotes da mídia quase dois anos antes das eleições. Para o petista, quem está em "campanha aberta" à Presidência é o governador de São Paulo, José Serra (PSDB). Quando o tema é o enfrentamento da crise por parte do Estado e da União, a troca de farpas torna-se ainda mais aguda. "O presidente tem uma avaliação da crise que só ele tem", pontua Morando. "Propaganda enganosa não falta no governo tucano", dispara Siraque. Confira abaixo os principais trechos das entrevistas.

DIÁRIO - Já está definida a atuação do sr. na eleição de 2010? Vai buscar a reeleição?
ORLANDO MORANDO - O provável caminho, natural, é a reeleição para deputado estadual. Uma dobradinha com doutor William Dib (para deputado federal) também é natural. É só uma questão de ajustar partidariamente como cada partido (PSDB e PSB) irá caminhar, mas na minha avaliação já está decidida essa parceria.

DIÁRIO - O PT tem um tabu na conquista ao governo do Estado - nunca exerceu o poder paulista. O sr. acredita que o partido entra em 2010 com chances reais de vitória ou o PSDB é mais uma vez o favorito a continuar na administração estadual?
MORANDO - Sempre sou cuidadoso quanto ao favoritismo. Não gosto disso. Acho que o PSDB tem grande possibilidade de continuar governando o Estado de São Paulo. Seja com o secretário (chefe da Casa Civil) Aloizio Nunes Ferreira, seja com o ex-governador (e atual secretário de Desenvolvimento) Geraldo Alckmin. Acredito que não haverá disputa interna, o nome tucano será decidido por consenso. Por outro lado, vemos uma falta de nomes no PT. No campo federal os nomes já estão consolidados. Infelizmente o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), se pauta ainda na disputa (com José Serra) para se valorizar. Mas ele não tem outro caminho, que com certeza será candidato ao Senado, sendo um dos mais votados do País. O candidato ao Palácio dos Bandeirantes será Serra.

DIÁRIO - Essa disputa interna é prejudicial ao PSDB?
MORANDO - É um processo que vejo com certa naturalidade. Mas tenho o sentimento que o próprio Aécio sabe que o momento não é dele. Ele poderia se reposicionar e contribuir com o Estado de Minas e com o governador Serra.

DIÁRIO - O presidente Lula tem feito esforço para colocar Dilma nos holofotes e o governo de São Paulo, dirigido por José Serra, tem concentrado forças na divulgação de seus programas por meio de publicidade. A disputa eleitoral já começou?
MORANDO - Pelo governo de São Paulo não. Tanto Aloizio quanto Geraldo não andam a tira-colo o tempo inteiro com José Serra. Mas infelizmente o presidente Lula antecipou o processo. Não sou em quem digo, toda a imprensa noticiou. A Dilma está indo até em aniversário de boneca, buscando uma superexposição. Acho que deveria ter uma punição por parte da Justiça, dada a clara companha indiscriminada e usando do cargo público que ela ocupa. Diferente do governador José Serra, que tem suas ações pautadas em prol do Estado, o que acho ético e correto.

DIÁRIO - É otimismo exagerado ou posição realista do governo federal prever crescimento econômico para 2009?
MORANDO - O presidente tem uma avaliação da crise que só ele tem no Brasil. Se pegarmos as análises dos maiores economistas ninguém consegue ter o otimismo que o presidente tem. Ele iniciou falando da crise como uma ‘marolinha'. O ministro da Fazenda (Guido Mantega) começou falando que o crescimento era de 4,5%. Do dia pra noite reduz para 3%, hoje já está em 2%. Na verdade eles não sabem o que estão falando. Estamos vivendo uma crise mundial, que não é pequena, e ao mesmo tempo não há mecanismo efetivo de combate. O governo federal não tem coragem de trocar o presidente do Banco Central (Henrique Meirelles), que não abaixa a taxa Selic.

DIÁRIO - O sr. acredita que 2010 é o ano da virada contra a crise?
MORANDO - Ainda estamos num patamar decrescente da crise. Ouvi muitos especialistas, ninguém sabe ao certo o tamanho da recessão. O mercado está muito sensível, vulnerável. As forças do mundo inteiro balançaram. Se comparado em outros momentos, tudo leva a crer que no 4º trimestre poderemos ter um momento de reversão, para pelo menos parar de cair.

DIÁRIO - As medidas de enfrentamento da crise serão exploradas na campanha eleitoral do ano que vem. É possível avaliar hoje qual esfera, se governo estadual ou federal, propôs as melhores saídas para a recessão?
MORANDO - Não vou enveredar por essa pauta, porque qualquer candidato que usar do mal momento da economia como instrumento de campanha vai estar ausente de proposta. Acho que crise tem de ser tratada como ação de governo e não como tema eleitoral. Ela é muito mais perigosa do que se imagina. Estamos falando de postos de trabalho, de pessoas. Tanto o candidato governista quanto o adversário estão tomando medidas, uns com mais, outros com menos intensidade, que é o deve ser feito.

DIÁRIO - De uma maneira geral, sem especificar áreas ou relacionar problemas pontuais, como o sr. avalia os 100 primeiros dias da gestão de Luiz Marinho à frente da Prefeitura de São Bernardo?
MORANDO - Nesses 100 primeiros dias há uma mudança para pior na nossa cidade, inclusive com desconstrução do que foi feito pelo prefeito William Dib. Faço uma avaliação técnica e ocular desse período. São fatos. Lamento.

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DIÁRIO - Já está definida a atuação do sr. na eleição de 2010? Vai buscar a reeleição?
VANDERLEI SIRAQUE - Coloquei meu nome à disposição como candidato a deputado federal. Meu grupo de apoio entende que já está na hora de dar um novo salto na minha vida parlamentar. Mas, temos de aguardar a decisão do partido. O fato de eu colocar meu nome para disputar a Câmara Federal não tem nada a ver com o projeto do (ex-prefeito) João Avamileno (de candidatar-se a deputado estadual), que é legítimo. É o momento de tentar a Câmara dos Deputados, até porque temos de analisar que Santo André, uma das cidades mais importantes do País, não tem nenhum deputado federal para defender seus interesses.

DIÁRIO - O PT tem um tabu na conquista ao governo do Estado - nunca exerceu o poder paulista. O sr. acredita que o partido entra em 2010 com chances reais de vitória?
SIRAQUE - Acredito que ainda seja cedo para fazer esse tipo de avaliação, mas entendo que o PT tem reais possibilidades de conquistar o governo. Não vejo o fato de ainda não termos chegado ao governo do Estado como um tabu, mas se existem pessoas que acham isso, não podemos esquecer que os tabus também são quebrados. Se formos pensar dessa forma, também era um tabu não termos chegado à Presidência da República. O governo do Estado, com sucessivas gestões tucanas, tem se mostrado um fiasco em termos de políticas públicas.

DIÁRIO - O presidente Lula tem feito esforço para colocar a ministra Dilma nos holofotes e o governo de São Paulo, dirigido por José Serra, tem concentrado forças na divulgação de seus programas por meio de publicidade. A disputa eleitoral já começou?
SIRAQUE - Não concordo com a tese de que o presidente Lula queira colocar a Dilma sob os holofotes para alavancar o nome da ministra. O fato é que a ministra é a pessoa do governo responsável pelo Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, maior programa de desenvolvimento já desenvolvido no País. Portanto, é justo que ela participe diretamente de todas as ações relativas a esse programa. Quanto às ações do José Serra, tenho claro que ele sim está em campanha aberta para presidente em 2010.

DIÁRIO - É otimismo exagerado ou posição realista do governo federal prever crescimento econômico para 2009?
SIRAQUE - Não se pode dizer que é otimismo exagerado, até porque o governo federal não está falando em crescimento num ritmo como vínhamos tendo, coisa de 5% ao ano, mas um crescimento pouco acima de 2%. Pode parecer pouco se comparado aos números dos dois últimos anos, mas é um número razoável quando vemos que em países desenvolvidos a previsão é das mais pessimistas. E só teremos esse crescimento porque o governo Lula adotou rapidamente medidas que evitaram uma queda ainda maior nos níveis de consumo. Com isso, permitiu que os níveis de produção das empresas se mantivessem em patamares próximos daqueles registrados antes de a crise econômica chegar ao Brasil.

DIÁRIO - O sr. acredita que 2010 é o ano da virada contra a crise?
SIRAQUE - A crise atingiu a praticamente todos os países porque hoje vivemos em um mundo de economia globalizada, existe uma enorme interdependência. Mas nossa economia hoje está entre as mais sólidas do mundo. Exemplo disso é a General Motors, que tem registrado enormes prejuízos nos Estados Unidos e Europa, enquanto a GM do Brasil tem caminhado no sentido inverso. Com as medidas do governo Lula, como a redução de IPI (Imposto sobre Produto Industrializado) para veículos e o pacote para a área de habitação, entre outras, tenho certeza de que vamos nos livrar da crise muito antes de outros países, mesmo daqueles ditos desenvolvidos.

DIÁRIO - As medidas de enfrentamento da crise serão exploradas na campanha eleitoral do ano que vem. É possível avaliar hoje qual esfera, se governo estadual ou federal, propôs as melhores saídas para a recessão?
SIRAQUE - Não tenho a menor dúvida em afirmar que as medidas mais eficazes foram adotadas pelo governo federal. Por exemplo: a redução do IPI para veículos beneficiou toda a cadeia produtiva do ramo automotivo, que praticamente retomou o ritmo de produção, brecou o desemprego e, por extensão, beneficiou outros segmentos, como comércio e serviços. Do governo estadual praticamente não se tem notícia de medidas eficazes. Propaganda enganosa não falta no governo tucano.

DIÁRIO - De uma maneira geral, como o sr. avalia os 100 primeiros dias da gestão de Aidan Ravin (PTB) à frente da Prefeitura de Santo André?
SIRAQUE - Prefiro deixar para a população de Santo André e para os vereadores avaliarem a administração. Como deputado estadual, tenho de trabalhar pela nossa cidade, pela região e pelo Estado. E é isso que tenho feito. Tanto que fiz uma emenda ao orçamento pedindo R$ 2,050 milhões para a construção de um pronto socorro em Mauá, assim como fiz outras pedindo verba para a construção de pronto atendimentos em Santo André.




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