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Hamas e rebeldes sudaneses se desvinculam de Bin Laden
Por Da AFP
23/04/2006 | 15:29
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Tanto o movimento palestino Hamas quanto os rebeldes da região de Darfur tentaram se desvincular das declarações do líder supremo da rede Al-Qaeda, Osama bin Laden, nas primeiras reações a uma nova gravação atribuída ao terrorista saudita, transmitida neste domingo pela emissora Al-Jazeera, do Qatar.

Na fita, o líder terrorista condenou o isolamento ocidental ao Hamas e disse que o novo governo palestino chefiado pelo movimento radical está na linha de frente de uma "guerra de cruzados e sionistas contra o Islã", depois da decisão de Estados Unidos e da União Européia de congelar os recursos de ajuda aos palestinos.

"O que Osama bin Laden disse é sua opinião, mas o Hamas tem suas próprias posições, que são diferentes daquelas expressas por Bin Laden", disse à AFP o porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri.

Segundo Abu Zuhri, o Hamas está "muito interessado em manter boas relações com o Ocidente", mas alertou que as políticas atuais na região estão inflamando as tensões.

"Dizemos mais uma vez que se o cerco do Ocidente em torno do Hamas continuar, criará mais tensões nas ruas palestinas e no mundo árabe", afirmou.

"Reiteramos que o Ocidente deve parar esta agressão porque só irá resultar em uma grande resposta das ruas árabes e palestinas", acrescentou.

O Hamas venceu com maioria esmagadora as eleições-gerais palestinas, celebradas em janeiro, e formou seu primeiro governo no mês passado, mas desde então tem enfrentado a redução dos recursos de doadores, mas também a indiferença dos diplomatas ocidentais.

Em outro trecho da fita, Bin Laden convocou os mujahedines (combatentes muçulmanos) a se dirigirem para o Sudão ocidental para travar uma guerra contra os "ladrões cruzados".

Em Darfur (Sudão), um dos dois principais grupos rebeldes rejeitou a convocação do líder supremo da Al-Qaeda, alertando que isto encorajaria o governo de Cartum a intensificar sua repressão.

"Nós rejeitamos categoricamente estas declarações", disse à AFP o líder do Movimento Justiça e Igualdade, Ahmed Hussein.

"Suas palavras são totalmente desligadas da realidade em Darfur. Bin Laden ainda está pregando a teoria de uma conspiração americano-sionista, quando o problema real vem de Cartum, que é um governo muçulmano que mata outros muçulmanos", disse Hussein.

Darfur está mergulhada em mais de três anos de guerra e fome, desde que uma rebelião de movimentos que querem uma porção maior dos recursos da região deu início a um levante, que foi brutalmente reprimido por Cartum.

Algumas estimativas avaliam em 300.000 o número de mortos no que Washington denominou de genocídio.

O regime islâmico de Omar al-Beshir, que protegeu Bin Laden entre 1991 e 1996 no Sudão, se opôs de forma veemente aos planos das Nações Unidas de garantir a segurança na região depois que um contingente de paz da União Africana falhou em controlar o banho de sangue em Darfur.

Hussein alertou que as declarações de Bin Laden podem "encorajar o regime de Cartum a perpetuar a injustiça e sua estratégia contra Darfur".

Em Washington, o senador americano e ex-candidato da oposição democrata à Presidência, John Kerry, criticou o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, por falhar em capturar Bin Laden, pedindo que renuncie ao cargo.

"Minha reação é que isto (a fita) reforça o fracasso desta administração em capturá-lo. Esta é uma das razões pelas quais Donald Rumsfeld deveria renunciar", disse Kerry ao programa "This Week", da rede de TV americana ABC.

Kerry, que perdeu para o presidente George W. Bush nas eleições presidenciais americanas de 2004, criticou a atual administração por falhar em capturar Bin Laden em Tora Bora (Afeganistão), no fim de 2001.

"A estratégia do ataque no Afeganistão, que contou com tropas insuficientes para cercar Tora Bora (...), foi uma das grandes catástrofes de todo este esforço na guerra contra o terror", disparou Kerry.

"Osama bin Laden está livre hoje porque permitimos que escapasse de Tora Bora. É simples assim", acrescentou.

Acredita-se que Bin Laden tenha escapado das tropas americanas e afegãs durante a batalha em Tora Bora e que teria ficado em liberdade apesar dos esforços das tropas americanas para rastreá-lo e da determinação de Bush de encontrá-lo "vivo ou morto".

Também em Washington, o embaixador americano no Iraque, Zalmay Khalilzad, disse após ouvir a gravação que o líder terrorista deve ser levado "a sério".

"Ele quer ser relevante na situação. Ele quer chamar a atenção", disse Khalilzad neste domingo, entrevistado pela emissora de notícias americana CNN.

"Eu acredito que devemos levá-lo a sério", afirmou, acrescentando que Bin Laden quis demonstrar com a gravação que "ainda está no jogo".

O embaixador americano lembrou que o jordaniano Abu Musab al-Zarqawi ainda chefia a rede Al-Qaeda no Iraque.

"O terror existe e Zarqawi tem laços com Bin Laden, é o líder da Al-Qaeda no Iraque", reforçou Khalilzad.

A fita é a primeira atribuída a Bin Laden em três meses, mas não está claro quando foi feita. O líder da Al-Qaeda se mantém como o homem mais procurado do governo de George W. Bush desde os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.



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