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Nata na Billings é excesso de esgoto
Por Luciana Sereno
Do Diário do Grande ABC
02/07/2005 | 08:16
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A nata branca que manchou parte da represa Billings, no Parque Los Angeles, em São Bernardo, é resultado do acúmulo de alga morta. A constatação é da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental). A planta, da espécie Micro cystis, se prolifera em áreas onde há grande incidência de despejo de esgoto. As construções irregulares do bairro não dispõem de canalização. Nesta sexta, técnicos da Secretaria do Meio Ambiente da cidade também estiveram no local. Mesmo diante da constatação da Cetesb, a Delegacia do Meio Ambiente instaurou inquérito para investigar se o aumento da crosta de impurezas acumulado na superfície das águas foi provocado pelo despejo de produtos químicos na represa. Uma amostra da água foi retirada pela Polícia Científica e será encaminhada ao Instituto de Criminalística de São Paulo.

Nesta sexta, o engenheiro da Cetesb Heitor Maruno analisou toda a margem da represa no Parque Los Angeles e mediu o PH da água. "Constatamos que está eutrofizada (com grande incidência de algas mortas) e é a planta que exala o odor reclamado pelos moradores." A espuma branca, segundo ele, se desenvolve nos trechos mais tomados pelas algas, mas se dilui com facilidade. O engenheiro não soube dizer se a incidência da planta pode causar danos à saúde dos moradores.

Desde o surgimento da nata, no início da semana, alguns moradores sentiram mal-estar, vomitaram e tiveram diarréia. Pelo menos uma criança desenvolveu manchas avermelhadas pelo corpo depois de ter tido contado com a água, que fica frente de sua casa. "Ela reclama que coça muito", explica a avó de Marina, 7 anos, a comerciante Djalma Nunes. Nesta sexta, as manchas na pele da garota estavam menos aparentes e a pele no local do ferimento escamava.

A mancha branca nas águas da Billings também estava menor nesta sexta. O vento empurrou a crosta para as margens da represa. Os moradores afirmaram que o cheiro diminuiu bastante. Os técnicos da Polícia Científica que vistoriaram a área intimaram alguns moradores para prestar depoimento na delegacia na segunda-feira. Nesta sexta mesmo, os policiais iniciaram uma avaliação do entorno da represa para rastrear as indústrias instaladas no bairro. O objetivo do mapeamento é verificar se o funcionamento da estação de tratamento de alguma delas está suspenso.

Os peritos não anteciparam qualquer avaliação sobre a origem da mancha, mas disseram acreditar que o surgimento não esteja relacionado exclusivamente ao volume de esgoto clandestino despejado na represa, com base na textura e odor da borra.

Edson Capitanio, chefe de controle ambiental da Prefeitura de São Bernardo, afirmou que além da Cetesb, a Sabesp (Serviço de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), o Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia) e o Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica) também foram acionados para analisar a mancha branca. Capitanio explicou que a Prefeitura não tem como fazer a análise química da amostra e que a Defesa Civil está incumbida de verificar se a nata branca põe a população local em risco de contaminação.

Nesta sexta, Capitanio e a chefe da seção de educação ambiental da cidade, Vera Rotondo, procuraram líderes de movimentos do Parque Los Angeles com a intenção de discutir ações ambientais no bairro. "Sabemos que é uma área na qual a população não está consciente da gravidade que significa sujar a represa. Temos trabalhos específicos no local, mas vamos ter de discutir outras ações que devem ser colocadas em prática."

O Parque Los Angeles tem ocupações irregulares. Vera Rotondo, da Prefeitura, disse nesta sexta que se a poluição naquele trecho estiver piorando, há a possibilidade de remoção das famílias do bairro. "A represa está cada dia mais poluída e os projetos que visam melhorias ambientais ainda estão em discussão", disse Vera.

Contrária - O presidente da Associação dos Moradores do Parque Los Angeles, Ronaldo Cândido Gomes, critica a avaliação dos órgãos e representantes ambientalistas sobre os danos decorrentes do esgoto a céu aberto. "Temos ações específicas desenvolvidas junto aos moradores e é inaceitável que apontem o grupo de casas à beira da represa como a culpada pelo surgimento da mancha só porque não possuem fossas."

Para Gomes, os mutirões de limpeza (realizados mensalmente) representam o interesse da população no combate à poluição da Billings. O próximo trabalho está agendado para o domingo, dia 10, a partir das 8h30. O argumento do presidente da associação, porém, é contestado pelos próprios moradores e pelos representantes da Secretaria do Meio Ambiente da cidade.

Vera Rotondo conta que durante suas visitas ao bairro já presenciou várias vezes os moradores despejarem sacos de entulhos e lixo às margens da represa. A ativista ambiental e moradora do Parque Los Angeles, Rosinete Oliveira dos Santos, é ainda mais crítica. "De que adianta fazer limpeza uma vez por mês e continuar despejando o esgoto na represa. É preciso uma solução urgente."



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