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Telefone 0800 esclarece turista sobre Chagas
Sucena Shkrada Resk
Do Diário do Grande ABC
24/03/2005 | 12:16
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Após a confirmação de 30 casos da doença de Chagas relacio-nadas à ingestão de caldo de cana, fato que resultou na morte de três pessoas em Santa Catarina neste mês, a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo resolveu disponibilizar, a partir desta quinta-feira, um telefone gratuito para esclarecer a população sobre a doença, o 0800-555466. O público alvo são pessoas que estiveram na-quele Estado entre 1º de fevereiro e 20 de março e, neste período, tomaram caldo de cana. Os moradores do Grande ABC que apresentarem os sintomas serão encaminhadas ao Hospital Estadual Mario Covas, em Santo André.

A atenção maior dos órgãos de saúde é dirigida a quem visitou os municípios catarinense de Araquari, Balneários Barra do Sul e Camboriú, Barra Velha, Garuva, Itajaí, Itapema, Joinville, Navegantes, Penha, Piçarras e São Francisco do Sul.

Apesar de não haver notificação da doença de Chagas no Estado de São Paulo desde o início da década de 1970, a direção do Departamento de Vigilância à Saúde de Santo André resolveu intensificar a fiscalização do comércio de caldo-de-cana na cidade. "A partir de hoje, não vamos atender somente a denúncias. Aumentaremos nosso número de fiscais de 13 para 18, a fim de cobrirmos os 50 ambulantes que vendem a bebida, além dos vendedores em feiras e pastelarias", disse a assistente do órgão, Maria Adelaide Gonzalez. Segundo a técnica, serão verificadas condições de higiene no armazenamento da cana, controle de insetos e limpeza das máquinas de triturar. "Atualmente, não temos nenhum registro desses locais. É necessário termos esse controle, porque até agora não levávamos em conta que poderia haver a doença por via oral", completa a técnica.

Em Diadema, o setor de Vigilância à Saúde está convocando os moradores que estiveram em Santa Catarina, também entre 1º de fevereiro e 20 de março, para que possam realizar exames em UBS (Unidades Básicas de Saúde) do município.

Higiene – Ricardo Ciaravolo, pesquisador científico da Sucen (Superintendência de Controle de Endemias), explica que os últimos registros de transmissão da doença por alimentos no país tinham sido notificados há mais de 20 anos na Amazônia, no Pará e na Paraíba. "Em Santa Catarina, tudo leva a entender que houve falta de higiene. Afinal, o barbeiro é um inseto que é possível de se ver a olho nu, pois tem o tamanho de um besouro", disse. Isso quer dizer que no momento do preparo da bebiba o inseto foi triturado com a cana, que depois foi ingerida pelas pessoas. A medida ideal seria que a cana tivesse sido lavada e seca antes de ser preparada para o consumo.

No Estado de São Paulo, o barbeiro é encontrado principalmente em áreas de mata preservada, como na Baixada Santista e Vale do Ribeira, de acordo com Ciaravolo. "Sempre há o perigo de estar contaminado, porque pode se alimentar também do sangue de animais roedores, que podem ter em seu organismo o Trypanossoma cruzi (protozoário causador da doença)". A doença de Chagas, entretanto, ainda não foi detectada na zona urbana.

Prejuízos – A vendedora autônoma de caldo-de-cana em feiras de Santo André, Eveli Gaudêncio da Silva, 48 anos, considera importante que os órgãos de saúde esclareçam à população que o caso é isolado porque o problema já afeta as vendas. No caso dela, em mais de 50%. "A notícia está prejudicando nosso comércio. A cana-de-açúcar é um alimento saudável. O que aconteceu em Santa Catarina provavelmente está relacionado a um problema de higiene. Não podem generalizar. O que vou fazer se ficar sem fregueses? Esse é o meu meio de sobrevivência", desabafou.

Entre os consumidores, as opiniões estão divididas. Para o representante de vendas autônomo, Nedi Ribeiro, 33 anos, a situação em Santa Catarina é isolada, tanto que na quarta-feira tomou caldo de cana com sua namorada sem preocupações. "Agora só quero acompanhar as conseqüências desses casos."

Já o agente de reservas André Soares, 26 anos, confessa que foi influenciado pelas notícias. "Até a semana passada, levava uma garrafinha de caldo de cana para o trabalho. Agora, tenho medo de que o local onde a gente compra não tenha higiene. Vou parar um tempo de tomar". O fornecedor de cana de açúcar de Santo André, Nivaldo Bezerra da Silva, 63 anos, diz que a limpeza é o fator principal para que não haja perigo na comercialização do caldo. "Vendo para mais de 100 pessoas aqui da região e também estou reformando meu estabelecimento para que tenha mais prateleiras e as canas raspadas não fiquem no chão." Ele alega que tomou a decisão por iniciativa própria. "Aqui não passa fiscalização da Prefeitura, desde 1994", afirmou.




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