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Defesa Civil realiza operação preventiva
Fábio Zambeli
Da Associação Paulista de Jornais
27/12/2009 | 07:28
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Ciete Silvério/Governo do Estado


A previsão de chuvas intensas e calor acima da média no verão deixam em alerta máximo a Defesa Civil Estadual, que já intensificou os planos preventivos contra catástrofes naturais em sete regiões e manteve plantões ininterruptos durante o Natal, o que continuará no Réveillon. É o que revela o coordenador estadual, coronel Luiz Massao Kita, secretário-chefe da Casa Militar, em entrevista exclusiva à APJ (Associação Paulista de Jornais).

Para ele, a concentração dos temporais, aliada à imprudência e à falta de informação dos moradores de áreas sujeitas a inundações e deslizamentos transformam a estação em período crítico, o que exige atenção redobrada dos agentes espalhados pelas 645 cidades paulistas.

"Neste ano, por causa do El Niño, estamos com a preocupação redobrada. Na Operação Verão passada, tivemos 24 óbitos em quatro meses. Neste ano, estamos em 22 dias com 31 óbitos. É preciso redobrar cuidado. Neste ano está chovendo muito mais. Temos que tomar mais cuidado", diz o coronel.

Kita adverte para as medidas de precaução que devem ser adotadas no período de férias, analisa as dificuldades de mobilização da população em situações de risco e lembra que a meteorologia nem sempre consegue avisar com a antecedência necessária casos de tempestades localizadas.

"O que observo é que muitas mortes podem ser evitadas. É preciso respeitar e não desafiar a natureza. Primeiro, não morando em área de risco. Depois, chovendo muito, não saia de casa. Espere um pouco, deixe as águas baixarem. Não vá para regiões alagadas. Não tente atravessar com carro uma área de risco. Espere um pouco mais."

Leia os principais trechos da entrevista:

APJ - Diante das previsões de um verão mais quente e mais úmido que o habitual, como a Defesa Civil está se preparando para a estação das chuvas?
LUIZ MASSAO KITA - A parte preventiva nossa funciona da seguinte forma: a Operação Verão, que já começamos, visa justamente estes estragos causados pelas chuvas. A gente desenvolve um trabalho de 1º de dezembro até 31 de março. Só que em abril deste ano já estávamos percorrendo todas as 17 regiões administrativas aplicando cursos preventivos de Defesa Civil. Então, a gente vai em todo o Estado.

APJ - É permanente este trabalho?
KITA - A gente reúne e chama todos os municípios. Cada cidade deve ter sua coordenadoria municipal. Permanecemos dois dias por região para explicar. Cada cidade deve ter uma Comdec (Coordenadoria Municipal de Defesa Civil) constituída, ela deve ter seu plano municipal de Defesa Civil. E este plano deve ter um plano preventivo para que, quando aconteça um desastre, eles possam tirar as pessoas de áreas de risco, evitando a perda de vidas humanas.

APJ - Como é a interlocução com os municípios? Funciona de forma articulada?
KITA - Neste ano fizemos 25 cursos preventivos e capacitamos mais de 2.000 pessoas. A gente considera como agentes multiplicadores.

APJ - É um número que o senhor considera bom?
KITA - Pode melhorar. Mas, infelizmente, a gente percebe que a cultura de Defesa Civil no Estado não é tão desenvolvida, principalmente no Interior.

APJ - A maior dificuldade no Interior é para mobilizar?
KITA - A gente consegue mobilizar melhor na Grande São Paulo e nos sete planos que a gente opera o sistema preventivo.

APJ - Quais as regiões mais críticas, que têm este plano preventivo?
KITA - Baixada Santista, regiões de Sorocaba, Campinas, Vale do Ribeira, Vale do Paraíba, Grande São Paulo e Capital. Eles funcionam na Operação Verão. Monitoram as principais áreas de riscos. Através de previsão meteorológica, vistorias de campo, leitura de pluviômetros. E até na retirada de pessoas das áreas de risco. Com o objetivo de preservar o patrimônio, do meio ambiente e de vidas humanas.

APJ - Como funciona operacionalmente o plano?
KITA - Não tem uma sede. São 114 cidades que estão incluídas neste plano. E o principal é escorregamento de terra.

APJ - No Litoral, há alguma preocupação?
KITA - Sim, na Baixada Santista e no Litoral Norte. Lá temos estes planos preventivos.

APJ - Quais são as ações de rotina nessas regiões?
KITA - Por dia, são emitidos cinco boletins meteorológicos. Para monitorar. Se choveu nesta região, cada cidade tem pluviômetro. Dependendo da quantidade de água que cair, mudam os níveis (de classificação). Primeiro de observação, depois de atenção, alerta e alerta máximo.

APJ - A remoção de famílias de áreas de risco ainda é tarefa difícil?
KITA - Muito difícil, vide o caso do Jardim Pantanal, em São Paulo, onde as pessoas mesmo na iminência de uma tragédia, não querem sair. Por que? Eles temem que outras pessoas ocupem e levem seus pertences. Infelizmente, acabam não preservando o local. É uma resistência muito grande.

APJ - E as ferramentas para prever os temporais e comunicar com os agentes, são boas?
KITA - No Estado, temos uma empresa contratada. Sou coordenador da Defesa Civil Estadual, responsável pelos 645 municípios. A gente tem aqui uma empresa contratada. Ela é responsável pela previsão e elabora cinco boletins para todos os municípios. A gente alerta todos os núcleos. E eles devem avisar todas as pessoas que vivem em áreas de risco.

APJ - A antecedência é satisfatória?
KITA - Não sou a pessoa mais adequada para falar sobre isso. Porque os meteorologistas dizem que, de repente, a chuva se forma de uma maneira muito rápida. A gente solta o alerta e já está chovendo. As mudanças são muito drásticas. Por influência de massas de ar quente que se chocam com massas de ar frio.

APJ - Não é algo que tem absoluta precisão...
KITA - Não é um fenômeno exato. E a conscientização é complicada, pois as pessoas moram em áreas invadidas, em morros, na beira de rios. E elas prezam mais os bens materiais do que as vidas delas. Temos notícia de que as crianças infectadas com a leptospirose aqui na Grande São Paulo, por exemplo, estavam nadando nas áreas inundadas
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APJ - Falta informação?
KITA - Falta informação e formação. Muitos casos de afogamento são de gente que está brincando com a enchente. Infelizmente, é falta de informação e de prevenção.

APJ - A Defesa Civil orienta as demais secretarias com as obras antienchentes?
KITA - Trabalhamos em conjunto com as demais Pastas do governo do Estado. Com a Secretaria de Saneamento e Energia, principalmente. Eles definem onde devem ser construídos piscinões, por exemplo.

APJ - Qual a estimativa mais recente de áreas de risco no Estado?
KITA - Áreas de risco temos mais 3.570 em todo o Estado. Não é possível precisar quantas pessoas vivem nessas áreas.

APJ - O que pode ser aprimorado no comportamento das pessoas durante um fenômeno?
KITA - O que observo é que muitas mortes podem ser evitadas. É preciso respeitar e não desafiar a natureza. Primeiro, não morando em área de risco. Depois, chovendo muito, não saia de casa. Espere um pouco, deixe as águas baixarem. Não vá para regiões alagadas. Não tente atravessar com carro uma área de risco. Espere um pouco mais.

APJ - E com as crianças?
KITA - Primeiro, orientá-las a não brincar com água de chuva. No verão, na iminência de chuva forte, com raio, evitar ficar na água. Na praia, procurar local que não tenha quiosque, que atrai raio. Se estiver no carro, feche bem o vidro. Não permanecer em campo aberto. Não ficar em lavoura. Procurar lugar fechado.

APJ - Qual é papel da Defesa Civil no socorro e no atendimento aos flagelados?
KITA - Trabalhamos com prevenção e socorro. E depois do socorro temos a assistência. Temos um estoque estratégico, que tem cestas básicas, cobertores, roupa de cama, material de limpeza, medicamentos. É o apoio aos municípios que sentem a falta desse material. Além disso, dispomos de técnicos como geólogos e engenheiros para as vistorias de campo.

APJ - Para quem viaja há alguma recomendação?
KITA - Se estiver em área de inundação, deixe objetos de valor em área mais elevada. Se tiver documentação importante, deixe em saco plástico. Indo para outro local, evite sair durante e após as tempestades. Tome cuidado com os raios.




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