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Pluralidade Sexual
Por Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
06/02/2011 | 07:00
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Não há certo nem errado. Cada um deve ser respeitado como é.

A primeira coisa que o médico diz quando vê o pênis do bebê é: "É menino!". Quando vê a vagina, avisa: "É menina!". Mas será que só os órgãos sexuais e reprodutores (testículos, ovários, útero) são suficientes para bater o martelo sobre quem realmente a pessoa é? E por toda a vida?

Independentemente dos fatores orgânicos, biológicos e genéticos, a sexualidade é desenvolvida entre o indivíduo e o meio em que nasce e vive (não seria considerada uma opção), segundo o psicólogo Paulo Oswaldo Júnior. "Cada um descobre quem realmente é com o tempo. Até as preferências sexuais podem mudar ao longo da vida."

No caso de quem nasce com intersexo (tem os dois tipos de órgãos), o registro de nascimento deve ser adiado até que o exame de DNA fique pronto. Entretanto, mesmo indicando o cromossomo feminino XX ou o masculino XY, o resultado não é determinante para a definição sexual, apenas para o registro civil.

Há casos em que o pênis é retirado ainda na infância, e depois a pessoa se identifica como do sexo masculino; pode ocorrer também o contrário. "Por mais difícil que seja, não dá para tentar seguir a sexualidade como um padrão. É preciso que cada um construa a sua", reforça a psicóloga Maria Lúcia de Freitas Beraldo, especialista em sexualidade. Ela acredita que a moda de beijar todo mundo na balada, além de curiosidade e símbolo de contestação, é uma forma de experimentação. "Uma hora ou outra, cada um descobre o que o faz feliz."

O psicólogo Antônio Fernando Stanziani, de São Paulo, também acredita que, por mais que a sociedade imponha que faça uma escolha, é importante que a pessoa tome a decisão baseada no que a deixa satisfeita. "Não importa o rótulo ou o nome que se dá para aquilo."

Preconceito é grande obstáculo - A sexualidade já foi tratada de diferentes formas, mas o preconceito em relação ao diferente sempre existiu, é histórico. "O processo educacional e os diálogos com a família são assim. Os pais querem que os filhos caminhem sempre para a heterossexualidade. Até os mais liberais", ressalta o psicólogo Antônio Stanziani.

A regra de todos serem héteros ainda é vigente. Entretanto, para o psicólogo Oswaldo Júnior, o último século aponta para mudanças. "Estamos num momento de transformações, de como assimilar que outras pessoas possam ser homossexuais, bissexuais ou de outra orientação diferente da heterosexual."

Exemplo disso é como a sociedade ficou chocada com os recentes casos de homofobia (aversão à homossexualidade), ocorridos na Avenida Paulista nos últimos meses, com agressões físicas. "Houve constrangimento e importante debate público", lembra a antropóloga Larissa Pelúcio.

Não é porque faz parte da história torcer o nariz para outras orientações sexuais que não se pode mudar isso. Todo mundo merece respeito.

Na infância e na adolescência - É a partir dos 2 ou 3 anos, que a gente passa a ter os primeiros contatos com a sexualidade. O carinho com os pais, o autoconhecimento e a curiosidade em desvendar o sexo do outro são importantes e não devem ser reprimidos, apenas orientados.

"Os pais se assustam quando encontram a criança se tocando, mas, dependendo da reação, pode traumatizar. É preciso cuidado. Ela tem de entender a questão da privacidade, e não que é errado", aconselha a psicóloga Maria Lúcia Beraldo.

Aos 12, 13 anos, pode perceber se é ou não heterosexual. "É quando se apaixona pela primeira vez. Mas isso não quer dizer que não possa descobrir a orientação sexual quando adulto." Nessa fase, começa o turbilhão de dúvidas, medos e revoltas. O que muda é como cada um vai encarar sua própria condição, e como a família, os colegas e a sociedade recebem isso.

Para ser sexualmente bem-resolvido, de acordo com o psicólogo Oswaldo Júnior, é preciso buscar informações, dialogar, reconhecer as necessidades e saber negociar com o mundo.

Caminha-se para direitos iguais - Alguns travestis e muitos transexuais fazem de tudo para ter o direito de mudar o nome e o gênero (masculino e feminino). Para isso, é preciso antes fazer a cirurgia, mas os juízes estão mais sensíveis à causa. Há quem consiga mesmo sem ter operado.

O magistrado vai analisar todo o contexto. De qualquer forma, os transexuais têm legitimidade para tal, pois necessitam que o nome identifique sua pessoa. Cada caso é um caso", explica Daniele Tromps, especialista em direito homoafetivo. Na Espanha, a Lei de Identidade de Gênero permite que, com laudo médico, seja possível fazer a mudança direto no cartório

O Brasil ainda não autoriza casamento entre pessoas do mesmo sexo, diferentemente da Argentina."Já há várias decisões favoráveis à adoção de criança e adolescente por casal homossexual no Brasil", pontua a advogada. Para ter filho, mulher homossexual pode fazer fertilização sem autorização do Conselho Regional de Medicina. Também é possível incluir o parceiro em plano de saúde, imposto de renda e pensão por morte.

E mais ...

- Muitas ONGs lutam pelos direitos sexuais, como a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (www.abglt.org.br). Criada em 1995 e com 237 afiliadas, é a maior da América Latina. Todos os anos é realizado, em diversos países, a Parada Gay, evento que reúne lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais para se manifestar pela diversidade sexual. A de São Paulo é uma das maiores.




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