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Vendedor de Santo André fica 40 horas seqüestrado
Luciana Sereno
Do Diário do Grande ABC
08/07/2005 | 08:05
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O vendedor de Santo André A.S.P., 44 anos, passou 40 horas em poder de seis seqüestradores. Durante o tempo em que ficou refém no cativeiro no Parque São Rafael, na zona Leste de São Paulo, apanhou muito e foi ameaçado de morte. Quarta-feira, após muita negociação, a quadrilha de seis rapazes de 18 a 24 anos abaixou o valor do resgate de R$ 100 mil para R$ 30 mil e libertou A.S.P., por volta das 22h, a três quadras de sua casa, no Jardim Ana Maria. Na madrugada de quinta-feira, a polícia prendeu todos os acusados, que confessaram o crime, e os R$ 30 mil foram recuperados.

Nenhum dos rapazes têm passagem pela polícia. Os investigadores acreditam que o mesmo cativeiro já tenha sido utilizado em outros crimes e informações sobre as prisões serão encaminhadas ao 55º Distrito Policial, no Parque São Rafael. O cativeiro ficava a cerca de 400 metros desta delegacia. Segundo o delegado seccional de Santo André, Luiz Alberto de Souza Ferreira, existem outros dois seqüestros em andamento na sua área de atuação - Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Além das prisões dos seqüestradores, a polícia apreendeu dois carros e duas motos que teriam sido usados pela quadrilha durante o seqüestro.

A.S.P. foi abordado às 7h45 da terça-feira por três homens quando abria o portão para sair de casa, na rua Professor Peduto, no Jardim Ana Maria, em Santo André. Um dos criminosos estava em um Gol branco e outros dois chegaram em uma moto. De acordo com o delegado seccional de Santo André, o homem que estava na garupa da moto saltou e obrigou o vendedor a entrar no Gol branco. Os criminosos não fizeram menção de entrar na casa da vítima ou de roubar um dos dois carros estacionados na garagem da casa.

De lá, o trio seguiu direto para o cativeiro, um sobrado da rua Quaresma Delgado, no Parque São Rafael. O vendedor foi mantido em uma edícula da casa. A.S.P. disse à polícia que dormia em um colchonete colocado no chão e que foi agredido com coronhadas na cabeça por Thiago Estevão Ramos, 21 anos, e Douglas Cunha, o Cascão, 23 anos, apontado pela polícia como o possível líder da quadrilha. "Eles diziam que podiam matá-lo se não conseguissem o dinheiro", contou um dos investigadores que acompanhou o caso. Enquanto esteve no cativeiro, o vendedor ficou sob cuidados de outro integrante da quadrilha.

A polícia encontrou grande volume de garrafas de bebida e embalagens de cigarro e comida na casa. Nenhuma arma ou munição foi apreendida. O sobrado fica em uma área residencial de classe baixa em frente a uma escola estadual. Quinta-feira, os vizinhos estavam surpresos. "Não dava para imaginar que um seqüestrado estava nessa casa. Do lado da gente. Nunca percebi", disse uma moradora da rua.

Pouca gente, porém, quis comentar a movimentação policial no bairro. A polícia não informou quem era o proprietário da casa, mas disse que a pessoa alugava as duas garagens do sobrado para vizinhos. Quinta-feira, um Tipo e um Chevette continuavam guardados na garagem.

Libertação - Os contatos com a mulher da vítima começaram no mesmo dia do seqüestro. Na primeira ligação, os criminosos pediram R$ 100 mil. A polícia diz que foram muitos os contatos feitos com a família durante a negociação. As equipes da Anti-Seqüestro e do GOT (Grupo de Operações Táticas) entraram no caso e começaram a investigar denúncias.

Quarta-feira, os seqüestradores aceitaram libertar a vítima mediante o pagamento de R$ 30 mil. A polícia diz que a quadrilha era tão amadora que foi buscar o dinheiro na casa da vítima. Um dos rapazes chegou com uma moto 750 e pegou o dinheiro com a mulher de A.S.P.. Nessa altura, os investigadores já tinham conhecimento da identidade de dois integrantes e do endereço do cativeiro.

Por volta das 22h, A.S.P. foi solto. Com a libertação, a polícia entrou no sobrado no Parque São Rafael, que já estava vazio. A polícia conseguiu, então, prender Cascão em sua casa, no mesmo bairro. Ele estava com a sua parte do resgate e entregou outros comparsas. No decorrer da madrugada, os seis seqüestradores foram presos.

Além de Cascão e Ramos, responderão pelo seqüestro Esley Thiago de Oliveira, 20 anos, Samuel José de Aguiar, o Neguinho, 18, Douglas Donizete Alves, 24, e Willians Souza da Silva, 19. Os seis foram quinta-feira encaminhados para a Cadeia Pública de Santo André e devem ser transferidos ainda na próxima semana para um dos CDPs (Centros de Detenção Provisória) da região. Segundo a polícia, todos são primários.

Investigação - A polícia de Santo André vai cruzar as informações do seqüestro do vendedor com os casos de seqüestros de cativeiro registrados no 55º Distrito Policial, a delegacia que atende ocorrências na área onde fica o sobrado. O delegado Ferreira acredita que a casa já tenha servido de cativeiro para outros crimes. "Não era uma casa ruim. Tinha banheiro, geladeira, televisão e cama. Eram usadas pela quadrilha, mas a casa é bem diferente dos cativeiros que encontramos por aí", explica. Não há dúvida de que o imóvel serviu de cativeiro onde o vendedor ficou. Ao prestar depoimento à polícia, descreveu detalhes da casa, como o tapete do quarto, um cartaz de propaganda colado na parede e enfeites em cima de uma cômoda.

A vítima, segundo Ferreira, passa bem. O delegado explicou que A.S.P. não é uma pessoa de muitas posses, mas que deve ter despertado o interesse da quadrilha porque está melhorando o padrão de vida. "Ele comprou o segundo carro e reformou a casa onde mora. Quem vê de longe acredita que ele está ganhando muito dinheiro", analisa. A vítima não concedeu entrevista à imprensa.

A polícia suspeita que os rapazes estavam acompanhando a rotina do vendedor há algum tempo. "Achavam que estava enriquecendo e armaram o seqüestro, tanto que começaram pedindo R$ 100 mil e aceitaram libertá-lo por R$ 30 mil. Queriam o dinheiro. Eles disseram isso, mas não revelaram se já participaram de outros seqüestros."

Como foi o caso na versão da polícia

1-O vendedor A.S.P., 44 anos, sai com o carro da garagem de casa, às 7h45 da última terça-feira, no Jardim Ana Maria, em Santo André, e é abordado por três homens que chegam em um Gol branco e uma moto.

2-O garupa da moto desce e obriga o vendedor a entrar no Gol. A.S.P. é levado para um cativeiro na rua Quaresma Delgado, no Parque São Rafael, zona Leste de São Paulo.

3-Os seqüestradores fazem contato com a família. O valor inicial do resgate pedido é R$ 100 mil. Durante as negociações, um dos criminosos dá coronhadas na vítima e a ameaça de morte.

4-Na quarta-feira, a família informa dispor apenas de R$ 30 mil. Um dos criminosos vai até a casa da vítima, em uma moto 750, para receber o dinheiro.

5-Momentos depois, A.S.P. é libertado a três quadras de casa. A polícia estoura o cativeiro e prende os seqüestradores em suas casas. Na casa onde funcionou o cativeiro, ninguém foi encontrado.

6-Os seis seqüestradores foram presos durante a madrugada de quinta-feira. Cada um estava em sua casa com parte do dinheiro. Os R$ 30 mil foram recuperados. Os seqüestradores confessaram a autoria do seqüestro.




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