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Olímpico tem torcida veterana

Bengala Azul é composta por integrantes da terceira idade de São Caetano

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
24/06/2014 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


De torcidas organizadas da maior paixão brasileira – o futebol – o País está cheio. Mas, no bairro Olímpico, em São Caetano, a equipe Bengala Azul, sem dúvida, é exclusiva, a começar pelo principal requisito para integrá-la: ter acima de 60 anos. “Além disso, para associar-se é preciso também ter tosse, bronquite, dor nas costas, reumatismo e usar dentadura. Aliás, somos a única torcida que não grita gol, só aplaude, pois se gritar, perde a dentição. Inclusive, já tivemos um caso desse”, fala, aos risos, o fundador do grupo, Agostinho Folco, 80 anos.

Criada em 1998, a ideia do nome veio da bengala azul que um dos integrantes utilizava para se locomover. “Como bengala é uma coisa associada a idoso e a cor da que ele usava chamava a atenção, dei a sugestão e ficou”, explica Antônio Guilherme dos Santos, 80, também integrante da torcida.

No início do ano 2000, o São Caetano conquistava o auge: foi vice-campeão dos Brasileiros de Futebol (2000 e 2001) e da Copa Libertadores da América de 2002; além de campeão paulista em 2004. Popularidade para o time e, consequentemente, para sua original torcida. “Fomos reportagem na Argentina, Bélgica e até no Japão”, comenta Folco.

As idas às disputas renderam mais que alegrias com o desempenho do time, mas também divertidas histórias. “Estávamos em São Carlos, no interior do Estado, para uma partida com os donos da casa. Passamos pelo time adversário, mas dois torcedores nossos não quiseram passar. Quando o jogo terminou, saímos rapidamente para evitar tumulto e aqueles dois ficaram para trás. Aí, tiveram que ir ao vestiário pedir dinheiro aos jogadores para pegar um ônibus de volta”, lembra, às gargalhadas.

A Bengala Azul tem 465 associados, incluindo o prefeito Paulo Pinheiro (PMDB), que tem 71 anos. A torcida é realmente organizada, no sentido literal da palavra, diferente de muitas que existem. “As pessoas integram-se à Bengala pelo nosso trabalho. Nossos encontros são mais saudáveis que os dessa garotada, que hoje marca pela internet ocasiões para arrumar confusão. Nos sentimos felizes por estar separados disso”.

Os tempos áureos do São Caetano são parte do passado, pelo menos momentaneamente. Hoje, o clube disputa a Série C do Campeonato Brasileiro e a Série A-2 do Paulista. A torcida Bengala Azul continua acompanhando a trajetória da equipe, afinal, torcedor que é torcedor jamais abandona o time do coração. “Muita gente tira sarro (da atual classificação do time), mas não tem nada, não. Um dia é da caça, outro do caçador e assim a gente vai levando a vida”, diz Folco.

Comércios participaram da história local

Um dos maiores bairros da cidade em extensão territorial, o Olímpico teve seu crescimento acompanhado por tradicionais comércios, instalados há décadas na região. Padaria localizada na Avenida Paraíso, próxima ao Estádio Municipal Anacleto Campanella, que
também integra complexo esportivo, abriu suas portas em 1966. Aliás, uma pequena porta, já que funcionava em espaço limitado, como mostra foto em um quadro no estabelecimento. O atual
proprietário, Ricardo Bidarra, que está lá há 20 anos, viu não só o crescimento populacional do entorno, como também o profissional de muitos atletas. “Eles sempre vêm aqui para repor as energias”, fala.

O também comerciante Carlos Alberto Pereira de Goes, 60, acompanhou o progresso do bairro desde o seu início e, tempos depois, contribui com ele ao abrir um depósito de materiais para construção. “Cheguei ao bairro Olímpico aos 5 anos, em 1959. Naquela época, havia só duas casas. Em 1998, passávamos necessidade financeira, pois eu tinha um irmão com esquizofrenia e meu pai com mal de Alzheimer. Eles eram totalmente dependentes de nós. Como no bairro não tinha nenhuma loja nesse segmento, abrimos e ficamos conhecidos em toda a região”, fala Carlos Alberto, ao lado da mulher, Elisabeth Marchi Goes, 53, com quem divide hoje a administração do comércio.

Muito do que há no Olímpico, seja no exterior ou interior das residências, saiu do tradicional estabelecimento. “Tem um pedacinho de nós em toda casa do bairro.”

Farmacêutico cuida da saúde dos moradores há 52 anos

O bairro Olímpico começou a ser urbanizado por volta de 1950 e, desde 1962, a farmácia de Antonio Prieto, 73 anos, instalada na Avenida Paraíso, oferece atenção especial à saúde dos moradores, cuidando de gerações das famílias da cidade.

Toninho da Farmácia, como é conhecido, iniciou no ramo ainda garoto, trabalhando em estabelecimentos na própria São Caetano, onde nasceu. Ganhou experiência, economizou dinheiro e montou seu espaço no bairro que ainda dava os primeiros passos rumo ao
desenvolvimento.

“Quando cheguei aqui não havia muitas casas e, quando tinha vento, ele vinha assobiando. Inclusive, o apelido do bairro (que na época se chamava Monte Alegre Novo) era Morro dos Ventos Uivantes”, conta.

Mais moradores foram chegando e recorrendo a Prieto nas situações de emergência. “Nessa trajetória já atendi pais, filhos e netos. Faço atendimento em domicílio também”, destaca ele, que trabalha sozinho.

O bem-estar que o farmacêutico proporciona às pessoas reflete em sua própria vida. “Me sinto feliz com esse trabalho, porque é um serviço no qual a gente procura fazer o bem para todos, aliviando os momentos de dores, ajudando na saúde da melhor maneira possível.”

Amantes do esporte se sentem em casa

Qualidade de vida a gente vê no bairro Olímpico, que, definitivamente, não tem esse nome por acaso. Grande parte dos equipamentos esportivos de São Caetano se concentra no entorno.

O de maior destaque é o Estádio Municipal Anacleto Campanella, instalado na Avenida Walter Thomé, 64. A inauguração data do dia 2 de janeiro de 1955 e o nome é uma homenagem ao prefeito da época, que governou a cidade durante oito anos (1953-1957 e 1961-1965). O complexo esportivo, aliás, acabou influenciando a mudança de nome do bairro. Antes chamado de Monte Alegre Novo, passou para Vila Olímpica, concretizando-se como Olímpico em 1968.

O estádio comporta, atualmente, 14,4 mil pessoas, mas já teve capacidade bem maior, recebendo público recorde de 20 mil torcedores em 2001, na final do Campeonato Brasileiro disputada por São Caetano e Atlético-PR, no qual o último time sagrou-se campeão.

Se o campo é a referência futebolística, monumentos que reproduzem variadas modalidades olímpicas, como salto com vara e tênis, reafirmam a vocação esportiva do bairro. As obras estão espalhadas por diversas vias e foram encomendadas em 1999 pelo então prefeito Luiz Olinto Tortorello (morto em 2004) ao artista plástico Adélio Sarro Sobrinho. Embora nascido em Andradina, interior do Estado, Sobrinho radicou-se na região em 1967.




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