Política Titulo Entrevista
Apoio do PDT a Dilma não depende de espaço no governo, diz Lupi
Por Cynthia Tavares
Do Diário do Grande ABC
30/03/2014 | 07:00
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Ricardo Trida/DGABC


O presidente nacional do PDT e ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi, afirmou que a relação com o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) não está pautada em espaço ministerial. De acordo com o líder pedetista, o espaço que o partido possui, inclusive, hoje “traz mais ônus do que bônus”. A legenda estará com a petista na eleição de outubro, o que, segundo Lupi, é inevitável. “Não dá para deixar de reconhecer que Dilma continua com a inclusão social e que hoje soma 25 milhões de pessoas no Bolsa Família. Tem gente que fala que é só pra dar comida. Se fosse só isso já seria bom, porque fome mata.” Apesar do bom tom com o PT, Lupi criticou duramente o PMDB, partido que ocupa a vice da chapa majoritária. O presidente do PDT analisou que os peemedebistas não têm propostas concretas. “Para mim, o PMDB é associação de interesses regionais e comporta-se como tal. Há muito tempo deixou de ser um partido com identidade ideológica. Qual a proposta do PMDB no País? Em cada Estado é uma diferente. Os antagônicos convivem.” Sobre o quadro partidário, após a saída de Paulinho da Força – ex-pedetista que criou o Solidariedade –, Lupi foi direto. “A fase crítica já passou. Agora é hora de organizar as pré-candidaturas, passar o conteúdo do partido e nossa história. Já lançamos a pré-candidatura do Major Olímpio a governador e do Carlos Apolinário ao Senado”, disse. No Grande ABC, a sigla deverá ter dobrada única: Edinho Montemor a deputado federal e o vereador de Mauá Cincinato Freire a estadual.

DIÁRIO – Como o PDT tem se organizado no Estado?

CARLOS LUPI – Passamos uma fase difícil. Um mês antes de se terminar o prazo para filiações dos partidos, o ex-companheiro Paulinho da Força criou um partido (Solidariedade) e sempre me afirmando que não estava organizando nada. A Solidariedade foi criada como se fosse uma sucursal do PDT. As pessoas pensavam que era do PDT, porque ele (Paulinho) foi presidente estadual do PDT durante dez anos. Tive que vir para São Paulo e começar o trabalho do zero. Todo mundo ficou inseguro. É natural. Daí fui reestruturando a sigla. Uma pessoa importante nesse processo foi o (deputado estadual) Major Olímpio. Ele resistiu. Ele continuar no PDT foi fundamental, porque passa imagem de homem sério, servidor, da Polícia Militar. Isso ajudou muito a segurar parcela de companheiros que não tinham noção do que estava acontecendo. Aí começamos a reestruturar, chamar gente de volta, organizar nominata. A fase crítica já passou. Agora é hora de organizar as pré-candidaturas, passar o conteúdo do partido e nossa história. Já lançamos a pré-candidatura do Major Olímpio a governador e do Carlos Apolinário ao Senado. Para o partido se posicionar. Ter nome e sobrenome.

DIÁRIO – Mas o sr. não sabia que o Paulinho estava montando a sua própria legenda?

LUPI – Todo mundo falava. Ele mexeu nas assinaturas nos últimos três meses. Daí comecei a perceber porque ele começou a ir nos companheiros, que ligavam para ele. A partir desse momento, comecei a achar que sim. Mas o que eu poderia fazer? Se faço intervenção, a imprensa critica e não tinha o fato. Ele ganhou (no TSE, Tribunal Superior Eleitoral) por quatro a três, foi um voto, às vésperas do prazo eleitoral. Agora a gente já está organizado. Acredito que a gente tenha time para eleger de três a quatro federais e de cinco a seis estaduais.

DIÁRIO – O Paulinho da Força traiu o PDT e o sr.?

LUPI – Me senti traído. Mas estava preparado porque ele já enganou tanta gente, como não ia me enganar? Sou cristão bom, acredito na recuperação do ser humano. Ele ficou tantos anos na presidência de São Paulo. Sempre tive relação boa com ele. Estava com ele todo dia. Quando era ministro do Trabalho, ele ia todo dia ao Ministério.

DIÁRIO – O PDT vai estar com a presidente Dilma Rousseff (PT) na eleição nacional?

LUPI – É natural. O nosso partido tem característica que se diferencia. A gente nunca entrou em leilão. Evidentemente temos que ter espaço, a política é isso. Precisamos ter alianças que viabilizem seu partido no Estado, mas tem que ter causa. Não dá para deixar de reconhecer que Dilma continua com a inclusão social e que hoje soma 25 milhões de pessoas no Bolsa Família. Tem gente que fala que é só pra dar comida. Se fosse só isso já seria bom, porque fome mata. A inclusão social é muito importante. A base de sociedade é forte. O (ex-presidente Luiz Inácio) Lula (da Silva, PT) começou e ela (Dilma) segurou, porque é o mundo real da população, que está vendo que estão podendo comer e que melhorou o salário-mínimo. Nos cinco anos que estive no Ministério (do Trabalho) foram 15 milhões de carteiras assinadas.

DIÁRIO – Quais ações do seu trabalho frente ao ministério o sr. destaca?

LUPI – Fizemos política pública com o dinheiro disponível que nunca foi feito. Todo programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, metade do dinheiro saiu do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). Temos fundo de investimento para render mais o dinheiro do trabalhador. A taxa de juros do FGTS, eu peguei com 6% ao ano e deixei com 3% ao ano.

DIÁRIO – Os partidos aliados querem aumentar a fatia de participação no governo, principalmente o PMDB. O PDT não tem essa ambição? A cota do PDT no primeiro escalão é justa?

LUPI – Minha ambição é que o governo assuma e avance na implantação da escola em tempo integral. O Ministério do Trabalho hoje tem mais ônus do que bônus ao partido. Até pelas minhas características, eu consegui dar uma marca. O apoio não é pelo Ministério do Trabalho, é pela política social. Muita gente fala da inflação hoje. Sou de uma época em que você discutia inflação de 35%, 36% ao mês. Hoje muita gente fala da inflação, que é de 5%, 6%. A inflação é para assalariado. Para quem vive de capital especulativo, a inflação está embutida no preço.

DIÁRIO – Mas o PMDB está certo ou errado?

LUPI – Não sou dono da verdade. Para mim, o PMDB é associação de interesses regionais e comporta-se como tal. Há muito deixou de ser um partido com identidade ideológica. Qual a proposta do PMDB para o País? Em cada Estado é uma diferente. Os antagônicos convivem. Virou uma grande frente, como já era na época da ditadura, o MDB.

DIÁRIO – Por que o sr. acha que a gestão do PDT no Ministério do Trabalho recebe tantas críticas?

LUPI – Primeiro porque ali tem disputa histórica com parte do PT. Você ouve falar de flexibilização das leis trabalhistas? Estamos sendo usados para defender segurança do trabalhador. Para nós é útil ser usado. Se for para defender o que a gente aceita, vale a pena. É a única razão verdadeira para continuar no Ministério do Trabalho.

DIÁRIO – Quais foram as maiores brigas?

LUPI – Eles queriam parcelar o 13º salário, aumento da licença-maternidade. Fui para a Câmara dos Deputados defender o aumento, pois mulher tem dupla, tripla jornada. Também fui para a tribuna defender a jornada de 40 horas semanais. Assim fui criando inimigos. Os patrões ficaram com ódio de mim por causa do ponto eletrônico. Pura ignorância. O bom patrão e o bom empregado não reclamam do ponto eletrônico. O problema do ponto eletrônico não era hora extra, mas são os impostos incididos sobre a hora extra.

DIÁRIO – O sr. foi alvo desses inimigos durante sua gestão no Ministério?

LUPI – Houve alguns erros meus, pois sou humano. Falo o que eu penso e sofro do mal, que na política é fatal: a sinceridade. Aprendi a ser mais habilidoso, sou rápido no raciocínio e sei usar isso a meu favor. Outra coisa é você se ver na frente de 50 jornalistas querendo te derrubar, pessoas dos partidos querendo que você saia (do cargo), outro querendo puxar teu tapete, outro querendo ocupar teu lugar. Tem uma hora que você não aguenta e explode. Tem certas coisas que eu fiz que não repetiria. Você se sente forte e que vai mudar o mundo. Não é assim. Foi jogo do poder.

DIÁRIO – Como o sr. vê esse movimento ‘volta Lula’?

LUPI – Acho que não tem volta. Quando a criatura é fiel ao criador, o criador tem que ser fiel a criatura. Não tem como o Lula voltar.

DIÁRIO – Mas para voltar em 2018 ele não precisa trair a Dilma...

LUPI – Em 2018 ele vem. Se tiver saúde, ele vem. O Lula é um dos homens públicos que mais adoro nesse planeta. Pessoa que gosto mesmo. Ele só perde para o Brizola na minha carreira política.

DIÁRIO – Quando o PDT pode ter um candidato à Presidência?

LUPI – Já testei isso na campanha de 2006 com Cristóvão Buarque. Quase todo partido era contra e fui ganhando no voto. São momentos. Naquela época, eu tinha acabado de perder o Brizola (que morreu em 2004). Eu precisava firmar a existência do partido e o Cristóvão cumpriu esse papel. Reafirmou nossos ideais. Só que depois entrou o Lula e fez avanços sociais. Como vou dividir para prejudicar o Lula? Na minha cabeça, isso não tem coerência. Está favorecendo o adversário. A Dilma tem dificuldade de relacionamento, é difícil de lidar – comigo nunca foi –, não tem jogo de cintura, nunca foi política. Mas a política não regrediu. O nosso coração é a escola em tempo integral. Nunca no Brasil se avançou tanto nesse ponto. O Eduardo Campos (PSB, governador do Pernambuco e pré-candidato ao Palácio do Planalto) é meu amigo pessoal, mas quando ele junta com a Marina (Silva) e começa a fazer discurso mais para o banqueiro do que para o trabalhador, não tem como eu ir.

DIÁRIO – Como está a conjuntura do PDT no Grande ABC?

LUPI – Estou pedindo, apelando para que o Cincinato (vereador de Mauá) seja candidato a deputado estadual. Acho que ele é liderança importante, o PDT precisa ajudar a formar esses novos quadros e lideranças. É o caminho mais curto para ele ser prefeito. Vamos lançar o Edinho Montemor (São Bernardo) a deputado federal. Só o Cincinato não está certo.

DIÁRIO – A dobrada seria única na região? Isso ajuda ou prejudica?

LUPI – Elege os dois. Dá conotação estrutural, os dois têm prestígio. O Grande ABC tem muito eleitor.




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