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Ano dos livros na Sacadura
Por Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
10/12/2004 | 09:02
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Há um ano e um punhado de dias, quando inaugurou em Santo André a primeira filial de seus 26 anos de história, a Livraria Cortez pretendia transformar o pequeno espaço em um posto de inclusão social. A loja está localizada ao número 3.550 da avenida Prestes Maia, ao pé de Sacadura Cabral (favela recentemente reurbanizada), a partir de onde esperava fisgar parte dos 3 mil habitantes do bairro para um processo de capacitação por meio da leitura. Em outras palavras, ler para pertencer. E diga-se que, nesse exame, o filhote andreense da Cortez tem se dado melhor que no cardiograma econômico.

A movimentação financeira ficou abaixo do esperado nos cálculos de José Xavier Cortez, diretor da livraria. "Este foi um ano difícil. O problema não é localização nem nada disso. A loja de Perdizes (bairro de São Paulo), que tem público classe A, também deixou a desejar", afirma. A distância entre meta e realidade combina com a pesquisa de mercado mais recente da CBL (Câmara Brasileira do Livro): de 2002 para 2003 houve no Brasil queda de 20% na venda de exemplares, apesar do faturamento 8% maior.

Se a canoa econômica anda virando, a responsabilidade social atua como possível contrapeso para a Cortez. Um dos serviços mais requisitados na livraria em Sacadura Cabral (tel.: 4473-4030) é o aluguel de volumes a R$ 1, valor que permite cinco dias de leitura. Num bairro que tem entre seus logradouros uma rua chamada Luís de Camões, 120 moradores, entre crianças e adultos, já se habilitaram como inquilinos literários. "Essa idéia (de aluguel de livros) é ótima, principalmente pra gente que tem filho na escola", diz Aide Brito, mãe da adolescente Caroline, que se cadastravam na Cortez nesta quarta.

Líria Ferreira, responsável pela unidade andreense, é a principal testemunha da avidez dos clientes. Já viu pedreiro que antes dava de ombros para os livros consumir três títulos em menos de duas semanas; já viu uma compulsiva cliente retirar 26 livros no intervalo de um ano; já viu 60 crianças visitarem a loja num único dia, eufóricas diante de contadores de histórias. As preferências dos locatários estão compreendidas entre o machadiano Memórias Póstumas de Brás Cubas e Estação Carandiru, do médico Drauzio Varella.

A Cortez e a comunidade de Sacadura Cabral parecem fadadas à simbiose. Líria, vez ou outra, é presenteada com flores e potes de doce de leite "da terrinha" de seus clientes. E, no próximo dia 20, ela representará a livraria junto às crianças do bairro, quando serão distribuídas as arrecadações da campanha Contos de Natal, organizada na matriz de Perdizes (r. Bartira, 317) sábado e no próximo dia 18. Nestes dias, a loja paulistana terá programação com contadores de história e serão aceitas doações de livros e brinquedos.




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