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Agentes reivindicam porte de arma
Por Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
27/06/2006 | 07:51
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O Sindasp (Sindicato dos Agentes de Segurança Penitenciária do Estado de São Paulo) voltou a insistir na liberação do porte de arma para a categoria depois da tentativa de ataque aos agentes do CDP (Centro de Detenção Provisório) de São Bernardo. A entidade diz que os trabalhadores do sistema perderam o direito de ir e vir, acuados pelas ações e ameaças de criminosos.

“É o único jeito que temos para nos defender. É nossa única chance, já que o Estado não garante as condições de trabalho”, justifica o presidente do Sindasp, Cícero Sarnei dos Santos.

O representante dos agentes reconhece que o pedido é polêmico, mas diz que a categoria corre tantos riscos quanto as polícias Civil e Militar, a quem o porte é permitido fora do período de serviço. Além da liberação do uso de armas, Sarnei reivindica mais autonomia aos agentes, para que não dependam da PM para resolver os conflitos com os detentos.

“Queremos treinamento e capacitação. O agente deveria trabalhar com escudos, como os usados pela Tropa de Choque, e saber utilizar bombas de efeito moral, de gás lacrimogêneo. Às vezes, quando a PM chega, já não há mais o que fazer”, sustenta Sarnei.

O presidente do Sindasp diz ainda que a situação nos CDPs do Grande ABC – Santo André, São Bernardo, Mauá e Diadema – é “caótica”. Segundo ele, a falta de agentes é crônica e a superlotação das unidades fazem com que os agentes trabalhem permanentemente com medo dos presos ligados à facções criminosas.

Há pouco mais de 10 dias, os funcionários dos centros prisionais teriam comunicado à SAP (Secretaria de Administração Penitenciária) sobre as novas ameaças de atentado. Desde então, o clima de tensão entre a categoria se tornou “insuportável”, de acordo com Sarnei. Entrar e sair do posto de trabalho passou a requerer atenção redobrada, e os cuidados com a família também.

“Recomendamos que os agentes se expusessem o menos possível. Se no momento de fazer a revista nos presos, por exemplo, estivessem sozinhos, a orientação era a de que não fizessem. Que aguardassem reforço. Porque nada garante a nossa segurança. Passamos o dia todo trancados nas unidades. E nos momentos de folga, trancados em casa”, diz o sindicalista. Ele admite que a rotina nos CDPs ficou “bem mais lenta”, mas diz que o sindicato não sugeriu “operação tartaruga” aos funcionários de segurança.

Ligações telefônicas interceptadas pela polícia mostram que os ataques seriam promovidos em represália ao endurecimento dos agentes no tratamento com os presos. Conduta que o presidente do Sindasp nega. “Como iríamos endurecer com os presos se estamos em desvantagem? Se não temos condições de trabalho?”, questiona Sarnei. A SAP não quis comentar a tentativa de ataque aos agentes penitenciários.

Direitos Humanos – As investidas da polícia para impedir a ação de criminosos nos arredores do CDP de São Bernardo ontem será investigada pela Comissão Especial Independente, criada em maio para investigar possíveis abusos cometidos por policiais durante a onda de violência. “Causa estranheza que 13 pessoas tenham sido mortas pela Polícia Civil, que tem por função se antecipar aos fatos e prender pessoas e dificilmente entram em confronto. Vamos apurar se houve excesso na operação”, afirma o coordenador do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, Ariel de Castro Alves.

Cronologia

12 de maio
Começa, à noite, a onda de atentados do PCC. Três policiais civis, um militar e um guarda municipal são mortos em São Paulo. Criminosos atiraram contra o 2º DP de Santo André.

13 de maio
Ao fim do segundo dia de ataques o saldo era de 62 atentados, 30 mortos e 24 feridos. Em Santo André, um PM foi morto. Anderson Andrade, de 26 anos, estava ao lado da viatura, na Vila Alzira, quando foi fuzilado. Rebeliões dominaram 24 unidades prisionais, 174 foram feitos reféns.

14 de maio
Estado admite estado de guerra. PCC desvia foco e passa a atacar ônibus. Até o fim do dia, 20 haviam sido incendiados, quatro deles na região. Um carcereiro de Santo André é morto em São Paulo. Elias Pereira Dantas, 44 anos, foi executado com dez tiros na cabeça.

15 de maio
No primeiro dia útil após o início dos atentados, a população entra em pânico. Uma onda de boatos esvazia as ruas e muitos comércios baixam as portas mais cedo com medo de novos atentados. Termina a maior rebelião simultânea do país, que atingiu 73 presídios paulistas. Informações dão conta de que o governo havia negociado o fim da ofensiva com Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo do PCC.

16 de maio
Estado nega negociação com a facção. Polícia reage e volta para as ruas. Num único dia a PM, amparada pela Rota, mata 19 suspeitos de ligação com os crimes, quatro deles na periferia de São Bernardo.

O Senado organiza pacotão de leis para combater o crime organizado.

17 de maio
Funcionário da Câmara confessa ter vendido por R$ 200 cópia do depoimento secreto prestado à CPI do Tráfico de Armas pelo diretor do Deic, Godofredo Bittencourt, e pelo delegado Ruy Ferraz Fontes, que investiga as ações do PCC.

18 de maio
Conteúdo dos depoimentos vaza para imprensa e revela a força do PCC. Novas ameaças de ataques contra ônibus fazem empresários do setor reduzirem frota de veículos nas ruas.

22 de maio
Surgem indícios de que os quatro suspeitos de participação nos atentados mortos pela Rota em São Bernardo teriam sido executados. Testemunhas desmentem versão apresentada por testemunhas.

Ministério Público anuncia que irá investigar mortes de civis nos confrontos.

23 de maio
Os advogados Maria Cristina de Souza Rachado e Sérgio Weslei da Cunha, acusados de comprarem a cópia do depoimento sobre o PCC, prestam depoimento na CPI do Tráfico de Armas

25 de maio
Em acareação entre os advogados Sérgio Cunha é preso acusado de desacatar um deputado que o interrogava.

5 de junho
Polícia prende Luiz Efigênio Pacheco, o Pandora, presidente da Cooperpam. A associação reunia perueiros que trabalhavam na zona Sul de São Paulo. O grupo seria ligado ao PCC.

19 de junho
O ex-secretário dos Transportes de São Paulo, Jilmar Tatto, é relacionado pela polícia ao esquema dos perueiros, mas juíza Aparecida Angélica Correa Nagao repassa investigação para Justiça de São Paulo e Dise de Santo André.

21 de junho
Polícia faz pente-fino na favela Tamarutaca, em Santo André, em busca de Lelo, acusado de participação na morte do PM Anderson Andrade. Desde os ataques, a polícia caça 80 membros do PCC que estariam na região. 

Ontem, em São Bernardo e Diadema

Um grupo de aproximadamente 25 pessoas ligadas ao PCC tem a missão de matar entre cinco e 15 agentes penitenciários dos CDPs de São Bernardo, Diadema, Mauá e Santo André. A ação começaria por São Bernardo e os alvos seriam funcionários que deixariam o turno de trabalho, às 7h. A Polícia Civil sabia do plano e monitorou toda a ação. Antes que algum agente fosse morto, segundo a polícia, houve confronto com os criminosos e 10 deles foram mortos perto do CDP de São Bernardo. Três deles fugiram para Diadema e também foram assassinados pela Polícia Civil. Cinco acusados de participarem da ação foram presos, sendo três mulheres.

Os mortos em São Bernardo são:

Eduardo de Jesus Batista, o Du, passagem por tráfico
Fernando de Almeida, o Fedô, passagem por tráfico
Mário Tavares, passagem por roubo e tráfico
Adriano Wilson da Silva, 25 anos, o Boy, passagem por roubo de carga, era piloto (líder) do PCC em São Bernardo e Santo André.
Ana Paula de Souza
Beiço
Jubá, prenome Gilberto
Magoo
Caixa
Evilson Rodrigues de Oliveira, 28 anos, passagens por roubo e tráfico

Três tentam fugir e são mortos em Diadema. São eles:
Márcio José dos Santos, o Marcinho, passagem por tráfico e roubo, era piloto (líder) do PCC em Diadema
Francisco Laurindo de Assis, o de Assis, passagem por tráfico
Wellington de Araújo Carvalho, o Boquinha, passagem por tráfico

Foram presos durante a operação

1) Marlon José de Souza Rosa, passagem por roubo
2) Edgar Nogueira dos Santos
3) Renata Melo Dias, passagem por tráfico
4) Adriana Pereira Damasceno
5) Simone dos Anjos



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