D+ Titulo Ritmo
Especialista explica o sucesso do ritmo
Por Caroline Ropero
Do Diário do Grande ABC
17/06/2012 | 07:00
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Leia entrevista completa com o especialista Ronaldo Lemos, autor do livro Tecnobrega: o Pará Reinventando o Negócio da Música:

D+:O que é o tecnobrega?

Ronaldo Lemos: O tecnobrega é um gênero musical nascido em Belém do Pará. Ele mistura batidas eletrônicas com músicas românticas e/ou dançantes. É um estilo que, desde o início, tratou a tecnologia como aliada e não como inimiga. Na medida em que a tecnologia foi-se barateando e ficou mais fácil ter acesso a computadores e a softwares de produção de áudio, esses elementos foram rapidamente incorporados ao tecnobrega. Não só para fazer a música, mas também para distribuir, valendo-se para isso tanto de CD´s gravados de forma caseira e vendidos em camelôs, como na aposta no uso intensivo da internet para distribuição da música. Em síntese, é um modelo que chamou atenção também por praticar uma visão mais aberta com relação aos direitos autorais. Para muitos artistas da cena, quanto mais a música for distribuída livremente, melhor.

 

Como ele surgiu?

O brega surgiu, principalmente, na década de 1970, com artistas como Odair José, Reginaldo Rossi e Lindomar Castilho. O brega apareceu quando a jovem guarda foi perdendo força, com Roberto Carlos se distanciando e mudando de estilo. O tecnobrega é uma evolução natural do brega, misturado a vários outros estilos musicais, como o calypso, o reggaeton e outros ritmos caribenhos que têm presença forte na região. Além disso, houve a incorporação de batidas eletrônicas, com um componente de inspiração em bandas como a alemã Kraftwerk.

 

Quais os principais ícones do gênero?

Hoje o grande ícone do tecnobrega é a cantora Gaby Amarantos, que começou como vocalista de uma banda local de tecnobrega, chamada Tecnoshow e hoje é conhecida em todo o Brasil, até por conta da sua música na abertura da novela da Globo. Outro grupo de artistas que despontou foi o Gang do Eletro, formado pelo DJ Waldo Squash, que juntamente com outro artista chamado Madeirito, inventou uma variação do Tecnobrega chamada eletromelody, mais rápida e agressiva, que vem ganhando fãs até em festivais de música eletrônica globais, como o Sónar. Além deles, há inúmeros outros artistas locais no Pará.

 

Por que, entre tantos gêneros regionais, este se destacou?

São muitas as razões. A primeira é o uso intensivo da internet. Muitos dos artistas da cena primeiro conquistam fãs pela rede e depois partem para o mundo real. Além disso, é uma cena que se tornou consistente por conta do modelo de negócios inovador que criou, que movimenta milhões de forma inovadora, diferente do modelo da música tradicional. Nesse sentido, desde o início, o mais importante para os artistas do tecnobrega era disseminar o seu trabalho. Para isso, muitos entregavam sua música diretamente aos camelôs, que depois espalhavam o trabalho por toda a região. Com isso, é uma cena que se consolidou, ao mesmo tempo em que produziu uma criatividade quase incontrolável, que a todo momento inventa coisas novas.

 

Ainda existe preconceito com o tecnobrega?

Sim. Parte dele é herdado dos anos 1960 em que o termo brega era usado para rotular a música considerada alienante. Mas o Brasil e o mundo mudaram, e a esfera pública também. Com isso, a ideia de centro e periferia foi totalmente bagunçada, com a periferia recebendo grande parte do poder simbólico e econômico, sem a necessidade de legitimação pelo centro. Antes o centro funcionava como guardião do bom-gosto e a música brega não passava nos seus critérios de qualidade. Hoje não existe mais árbitro para o bom-gostos. Mesmo que muita gente ainda possa torcer o nariz para o tecnobrega ainda hoje, isso é irrelevante. O circuito do brega é abrangente e poroso, o que torna qualquer repúdio irrelevante para ele próprio. Além disso, gosto muito da definição que o Luís Caldas deu para estilos musicais como o brega, que ele prefere chamar de superpopular. Acho que o termo superpopular denota essa nova conotação do brega no Brasil de hoje, um País mais aberto e democrático, além de cada vez mais conectado.




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