Colocar piercings em menores de 18 anos é proibido em São Paulo desde novembro de 1997, quando foi criada a lei estadual número 9.828. Mesmo assim, os adornos metálicos são cada vez mais a marca registrada dos adolescentes. Facilidades para burlar a lei é o que não falta, segundo os jovens ouvidos pelo Diário. Entre eles o que se diz é que “só não faz quem não quer porque lugar para fazer é o que não falta”.

A apresentação de documento que comprove a idade do cliente raramente é pedida pelos profissionais nos estúdios. “Quando pedem e percebem que a pessoa é menor, perfuram assim mesmo”, disse a estudante de Santo André C.G.S, de 15 anos, que tem um piercing no umbigo e outro transversal na orelha, colocado há quatro meses.

Outra tática adotada pelos adolescentes, e que comprova a irresponsabilidade de alguns estúdios, é mentir a idade real na hora de colocar o adereço. Foi o caso da estudante de Santo André L.D.F., de 16 anos. “Coloquei o piercing em dezembro do ano passado na Cavallera do Shopping ABC, em Santo André. Eles até me pediram o documento, mas eu disse que estava sem o RG e que tinha 18 anos completos.” Segundo L., a cada grupo de dez amigos seus, dois têm piercing e a maioria coloca escondido dos pais. “Tem até quem faça na língua apenas para que os pais não percebam.”

O estudante A.N.S. é um dos que colocaram o adorno na língua e o mantém escondido do pai até hoje. A mãe descobriu só três meses depois que ele tinha colocado isso porque sua avó percebeu que estava com a dicção diferente. “Fiz há um ano e meio em uma loja do ABC Plaza Shopping, em Santo André. Para conseguir, fui com um amigo que estava acompanhado da mãe que autorizou e dissemos que éramos irmãos.”

A febre dos piercings atinge tanto as meninas quanto os meninos. O dinheiro, para bancar a colocação e a compra da jóia, geralmente vem dos pais – que nem sempre sabem que o filho vai usar o dinheiro para colocar o piercing. “Paguei R$ 60, entre colocação e a pedra, o dinheiro que ganhei do meu pai como presente de Natal”, disse L. Segundo ela, o pai só soube o que tinha feito com o dinheiro quando chegou em casa com o piercing no nariz.

Autorização– No caminho contrário dos que burlam a lei e evitam que os pais descubram que colocaram piercing, Jessica Santos, 18 anos, que hoje tem 16 piercings, nunca colocou um dos adornos sem a autorização dos pais. “Aderi ao piercing quando tinha 15 anos e em todas as vezes que fui ao estúdio, meu pai me acompanhou e consentiu.” O primeiro piercing, Jessica colocou na sobrancelha. Hoje, ela tem seis em cada orelha, um na língua, um no lábio e outro no umbigo. Agora que é maior e não depende mais da autorização dos pais, disse que deverá continuar colecionando furos. “No rosto não pretendo pôr mais nenhum, mas ainda há espaço nas orelhas.”

Os jovens dizem que nem mesmo os mamilos e os genitais escapam da moda do piercing. “Tem um cara no colégio que colocou o piercing no mamilo para que a mãe não descobrisse. Ele só anda de camisa e parece que a estratégia está dando certo”, contou um dos jovens.