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Marília Pêra em ótima fase
Renata Petrocelli
Da TV Press
18/09/2004 | 17:34
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Marília Pêra nunca escondeu de ninguém que dá prioridade ao teatro em sua carreira. Mas admite que já estava ficando com saudades das novelas, a última foi Meu Bem-Querer, de 1998. Depois disso, fez apenas uma participação num episódio do Brava Gente e outra na minissérie Os Maias. Por isso, a atriz diz que dificilmente recusaria um convite como o do autor Antônio Calmon, que criou a Janis Doidona, de Começar de Novo, pensando nela. Mas admite também que o alto-astral da personagem veio bem a calhar. “Faria mesmo se fosse uma vilã, mas confesso que faço com mais alegria uma personagem de humor neste momento. Ela lava a alma da gente”, diz Marília.

A atriz não teve muito trabalho para compor a exótica personagem, que jura já ter sido abduzida por alienígenas, vive colocando caraminholas na cabeça do neto Pepê, vivido por Pedro Malta, e parece ter parado no tempo bem no meio dos anos 70. “Hippie eu nunca fui. Mas usei aquelas roupas, aquelas flores, acreditei loucamente em paz e amor. Aliás, acredito ainda”, afirma. O único cuidado foi criar, ao lado de Luiz Gustavo, que vive o não menos inusitado Vô Doidão, o universo paralelo no qual os dois parecem levitar. Mas esta, garante Marília, é uma das maiores alegrias do trabalho. “Além de ser talentoso e alegre, o Tatá é cheiroso, tem hálito bom, é gentil e cavalheiro”, diz, entre risos, a atriz, que não trabalhava ao lado de Luiz Gustavo desde Beto Rockfeller, de 1968.

Animada com o trabalho, Marília acha que não poderia voltar à TV em melhores condições. Tanto que topou o convite, mesmo tendo que se dividir entre as gravações da novela no Rio e as apresentações da peça Mademoiselle Chanel, em São Paulo. “Tranqüilo não é, mas pode ser prazeroso, embora seja muito cansativo”. Para ela, um convite irrecusável para a TV inclui um bom autor, diálogo aberto com o diretor e um elenco coeso e animado, exatamente como ela vê em Começar de Novo. “É muito difícil trabalhar sem pessoas interessantes por perto”, afirma.

Acostumada a dirigir no teatro, onde recentemente comandou A Saga da Sra. Café, de Heloísa Périssé, Marília acha que não leva jeito para a direção na TV. Mas não deixa de dar seus palpites sempre que participa de um trabalho. “Como nasci neste meio, tenho minhas opiniões. Sei quando uma coisa não vai dar certo”, diz a atriz, que faz piada com a condição submissa dos colegas. “O ator é um pobre coitado. Tem de se submeter ao texto, ao diretor, ao cenógrafo, ao figurinista, ao iluminador, ao produtor. Mas acho que, com jeitinho, dá para se manifestar”, ensina.

Pelo menos Marília vem conseguindo. Tanto que julga não existirem diretores tão déspotas que não consigam ouvir opiniões de atores. Mas a atriz ainda acredita que poderia ser mais útil aos próprios atores. Além de atuar, ela acha que pode exercer no futuro o papel de coach, uma espécie de preparador para jovens atores de TV. “Acho que poderia passar adiante coisas que fui aprendendo na minha profissão desde muito cedo”.

Filha dos atores Manuel Pêra e Dinorah Marzullo, Marília Pêra praticamente nasceu nos bastidores do teatro. A estréia foi aos quatro anos, em uma montagem de Medéia, tragédia grega escrita por Eurípedes. Não por acaso, a atriz sempre priorizou os palcos, onde já encarnou personagens como Carmem Miranda, Maria Callas e Dalva de Oliveira. Atualmente, seu xodó é a estilista francesa Coco Chanel, cuja história foi transformada por Maria Adelaide Amaral no espetáculo Mademoiselle Chanel. Em função da peça, em cartaz em São Paulo desde maio, ela grava Começar de Novo apenas de segunda a quinta-feira. “A peça é um sucesso estrondoso, como há muitos anos eu não tinha. Como aliás não se vê no teatro há muitos anos. Agradeço a Deus todos os dias”.

A tradição herdada dos pais é compartilhada com praticamente toda a família. Ricardo Graça Mello, Esperança Motta e Nina Morena, os três filhos de Marília, são atores também. Assim como a irmã dela, Sandra Pêra, e a sobrinha, Amora Pêra. Sempre que tem oportunidade, ela trabalha com todos eles. “Somos quase uma dinastia. Fui criada nos palcos e todos eles também. Nada é por acaso”, diz. Aos 61 anos, a atriz faz questão de estar sempre de olho no que jovens atores e autores estão produzindo. “São muitos anos de carreira, corro o risco de me repetir. Por isso, vivo aberta ao que os outros estão fazendo, para renovar meu repertório”.




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